CBMI 2024: Bate-papo sobre o escore SOFA
O escore SOFA (Sequential Organ Failure Assessment) foi criado em 1994 e publicado dois anos após, para ser descritivo de evolução de disfunções orgânicas do paciente na UTI. Ele pontua seis disfunções orgânicas, a saber: cardiovascular, respiratória, renal, hepática, neurológica e hematológica; a pontuação vai de 0 a 4 pontos, variando de acordo com as alterações de pressão arterial e necessidade de vasopressores, relação PaO2/FiO2, creatinina sérica e/ou diurese, bilirrubinas totais, escore de coma de Glasgow e plaquetometria.
No Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva (CBMI 2024), uma sessão promoveu um bate-papo com especialista sobre o escore. Os participantes foram Rodrigo Palácio de Azevedo, Ricardo Antonio Correia Lima, Rui Moreno e Luis Eduardo Santos Fontes.
Escore SOFA
O intuito naquela época era de ter uma avaliação mais objetiva de melhora ou piora da evolução do paciente grave. No entanto, algumas modalidades de suporte à disfunção orgânica, como cateter de oxigênio de alto fluxo, ECMO e hemodiálise contínua, eram ainda experimentais ou mesmo inexistentes na prática. Rui Moreno comentou que uma atualização é necessária para acrescentar algumas destas modalidades de tratamento/suporte.
Outras terapias mudaram, como o abandono do uso de dopamina e o aparecimento da vasopressina para pacientes com choque séptico. Porém, ainda há grande disparidade no mundo em relação a recursos, e a África ainda usa eventualmente dopamina, enquanto esta amina já foi abandonada em países ricos. Cogita-se manter parâmetros antigos, agregando outros novos no SOFA versão atualizada.
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Luis Eduardo e Rodrigo aventaram a possibilidade de agregar outras disfunções como a intestinal: poderia se avaliar níveis de distensão abdominal ou aceitação de dieta oral/enteral/parenteral.
Luis Eduardo também comentou de um recente estudo japonês (Yawata et al, Anaesthesia 2024), no qual os autores testaram variáveis acrescidas ao escore SOFA tradicional: ventilação não invasiva, CNAF, ECMO e hemodiálise, em 6167 pacientes em uma UTI. Mas de modo geral, não houve melhora da acurácia para predição de mortalidade nesta população. Uma razão pode ter sido que pacientes em ECMO ou hemodiálise por exemplo já ganharam 4 pontos por disfunção/falência orgânica respiratória e renal, respectivamente, e por isso não agregaram ganho de acurácia.
Rui Moreno criticou o estudo por conta da falta de metodologia correta de avaliação prospectiva dos parâmetros na população e da simplificação matemática realizada, e que o escore SOFA foi criado primariamente para ser descritivo, e não preditor de morte.
Por último, Ricardo e Rodrigo perguntaram sobre como ficará o uso do escore SOFA para definir casos de sepse, já que o escore acima ou igual a 2 pontos está sendo usado atualmente após 2016 (SEPSIS-3). Rui Moreno respondeu que é possível que se mantenha a versão original – SOFA1 – até que grandes bases de dados sejam revisitadas e o novo SOFA seja avaliado para definição de sepse (que atualmente é definida como aparecimento de nova disfunção orgânica na presença de infecção).
É possível que se aumente o limiar do corte para definir sepse em 1 ponto, ou mesmo se mantenha os 2 pontos de corte. A conferir para 2025.
Confira a cobertura completa do CBMI 2024 aqui!
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