CBMI 2023: Recomendações atuais sobre encefalite autoimune em crianças
Encefalite autoimune é definida como um distúrbio neuro inflamatório SNC que se apresenta com alteração do estado mental.
A Dra. Karina Costa (Brasília/DF) palestrou sobre o tema “Encefalite autoimune” no último dia do XXVIII Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva (CBMI) da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), realizado em Florianópolis, Santa Catarina.
Encefalite autoimune (EAI) é definida como um distúrbio neuro inflamatório do sistema nervoso central (SNC) que se apresenta com alteração do estado mental, convulsões e/ou distúrbios focais e déficits neurológicos. Em um estudo realizado em Hong Kong, 15 pacientes foram identificados com EAI ao longo de sete anos. A idade média de apresentação foi de 12 anos (variação de 1 a 17 anos). A incidência estimada em Hong Kong foi de 2,2 para um milhão de crianças por ano. Os sintomas mais comuns observados foram alterações psiquiátricas ou disfunção cognitiva (14/15, 93%), convulsões (14/15, 93%), disfunção da fala (13/15, 87%), distúrbios do movimento (12/15, 80%), diminuição do nível de consciência (10/15, 67%) disfunção autonômica ou hipoventilação central (5/15, 33%).
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Classificação
É feita conforme a localização do antígeno.
- Antígenos intracelulares
- Resposta mediada pelas células T.
- Respondem mal à imunoterapia.
- Estão associadas a neoplasias – mais comuns: ovário (teratoma), testículo.
- Considerar screening tumoral.
- Antígenos de superfície celular
- Resposta mediada pelo sistema imune humoral.
- Melhor resposta à imunoterapia
- Anticorpos mais comuns na população pediátrica: NMDAR, MOG e GAD65.
encefalite autoimune pós-viral: pós-encefalite por vírus Herpes simples (HSV), podendo produzir anticorpos anti-receptor NMDA. Dessa forma, sintomas recidivos após a encefalite por HSV sem positividade para o antígeno viral podem ser atribuídos a anticorpos anti-receptor NMDA. Ocorre com maior frequência em crianças.
Quando suspeitar de encefalite autoimune ?
- Início abrupto / piora rápida;
- Instabilidade autonômica;
- Delirium evoluindo para catatonia e vice-versa;
- Incontinência urinária/fecal;
- Regressão cognitiva;
- Distúrbio de marcha e equilíbrio;
- Recaída após tratamento para encefalite viral;
- Estado de mal epiléptico ou epilepsia multifocal resistente a medicamentos anticonvulsivantes;
- Envolvimento de vários domínios, por exemplo, cognição e sistema extrapiramidal etc;
- O líquido cefalorraquidiano (LCR) tem características de inflamação na ausência de infecção.
Sintomas prodrômicos inespecíficos são relatados em 48-70% dos pacientes pediátricos: febre, sintomas respiratórios, cefaleia, vômitos e diarreia. No entanto, o período de tempo entre os pródomos e o desenvolvimento de doença neurológica não está bem estabelecido.
Diagnóstico
- Análise do LCR
- Pleocitose linfocítica (> 5 a geralmente < 100 leucócitos/mm3).
- Proteinorraquia pouco alterada.
- Ressonância magnética de crânio
- Achados frequentemente inespecíficos com áreas sugestivas de desmielinização ou evidência de perda de volume.
- Lesões de hiperintensidade na substância branca occipital bilateral.
- Eletroencefalograma
- As anormalidades podem estar presentes em até 90% dos pacientes pediátricos e podem incluir achados gerais de lentidão ou atividade epiléptica, ou achados mais específicos, como o extreme delta brushing, observado na encefalite anti-NMDAR.
Tratamento
Quando há alta suspeita clínica, a meta é iniciar o tratamento em até 48 horas após a admissão.
PRIMEIRA LINHA
- Doença leve a moderada
- Metilprednisolona: 30 mg/kg/dia (máx 1 g/dia) 6/6 h, por 5 dias.
- Transicionar para prednisolona 2 mg/kg (máx 60 mg/dia).
- Imunoglobulina intravenosa (IGIV): 2g/kg – em 48 h.
- Doença grave (disautonomia/ convulsões não responsivas ao tratamento)
- Metilprednisolona: 30 mg/kg/dia (máx 1 g/dia) 6/6 h, por 5 dias.
- Transicionar para prednisolona 2 mg/kg (máx 60 mg/dia).
- IGIV: 2g/kg – em 48 h ou plasmaférese.
SEGUNDA LINHA
- Anticorpo detectado
- Rituximabe após discussão sobre riscos versus benefícios com a família: 750 mg/m2 (máx 1g) dividido em duas doses (intervalo de duas semanas).
- Anticorpo não detectado
- Sem melhora com a terapia de primeira linha: reconsiderar diagnóstico.
- Melhora significante com terapia de primeira linha: observação.
- Melhora limitada ou moderada com terapia de primeira linha: discutir se prosseguir ou não com a terapia.
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Prognóstico
No estudo realizado em Hong Kong mencionado pela Dra. Karina, a evolução foi favorável em 71% dos casos.
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