Alvo de SatO2 em ECMO
A oxigenação por membrana extracorpórea venoarterial (ECMO-VA) está sendo cada vez mais usada para tratamento de choque cardiogênico e parada cardíaca refratária. No entanto, continua sendo uma intervenção de alto risco e com uso intensivo de recursos. A ECMO-VA trata o choque cardiogênico aumentando o fluxo sanguíneo para a circulação nativa e o conteúdo de oxigênio do sangue.
Embora a oxigenação seja uma variável facilmente modificável pela titulação do circuito de ECMO e do ventilador, há incerteza sobre a meta ideal de oxigenação sanguínea durante o recebimento de ECMO-VA.
A hiperóxia grave aumenta o estresse oxidativo celular e a produção de radicais livres, levando a danos no DNA, toxicidade pulmonar direta e vasoconstrição coronariana e cerebral, podendo estar associada ao aumento do risco de morte e piores resultados neurológicos
As diretrizes atuais sugerem atingir uma pressão parcial de oxigênio (PaO2) pós-membrana oxigenadora de 150 mmHg e uma saturação arterial sistêmica (SatO2) de oxigênio de 92–97%.
Um ensaio de registro randomizado controlado (BLENDER) foi realizado para testar a hipótese de que, em comparação com uma meta de oxigenação liberal, uma meta conservadora pode levar a uma redução do tempo de internação na unidade de terapia intensiva (UTI) em pacientes que recebem ECMO-VA por choque cardiogênico ou parada cardíaca refratária. Foram selecionados 300 pacientes que receberam ECMO-VA na Austrália. O grupo intervenção recebeu uma estratégia conservadora de administração de oxigênio (objetivo de SatO2 de 92-96%) que limitou a exposição à hiperóxia. O grupo controle recebeu uma estratégia liberal de oxigênio (objetivo de SaO2 ≥ 97%).
Objetivos
O desfecho primário foi o número de dias livres de UTI desde a randomização até o dia 28. Os desfechos secundários incluíram mortalidade na UTI e intra-hospitalar, mortalidade em 28, 60, 90 e 180 dias, dias livres de UTI até o dia 60, tempo de permanência na UTI e no hospital, duração da ventilação mecânica e da ECMO.
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Resultados
As pressões parciais de O2 do paciente e pós-oxigenador, as saturações de oxigênio e as porcentagens inspiradas de oxigênio fornecido ao paciente/ventilador e ao oxigenador da ECMO foram todas menores no grupo conservador.
A prevalência de hipoxemia medida na artéria radial do paciente foi semelhante em ambos os grupos.
A prevalência de hipoxemia em amostras de gases sanguíneos pós-membrana foi maior no grupo conservador (4,2%) em comparação com o grupo liberal (0,3%). O grupo conservador apresentou menos hiperóxia, com 26,8% dos pacientes apresentando pelo menos uma medição de PaO2 > 300 mm Hg durante os primeiros sete dias, em comparação com 43,1% no grupo liberal.
A hemoglobina, os níveis de lactato, o uso de inotrópicos, as taxas de fluxo sanguíneo da ECMO, o uso de ventilação invasiva e a terapia renal substitutiva foram semelhantes em ambos os grupos.
A mediana do número de dias livres de UTI até o dia 28 foi de 0 dias no grupo conservador e 0 dias no grupo liberal.
Os desfechos secundários foram semelhantes em ambos os grupos, incluindo dias livres de UTI até o dia 28, dias livres de UTI até o dia 60, sobrevida do paciente até 6 meses, tempo até a extubação, decanulação/interrupção da ECMO, alta da UTI ou hospital e avaliações de incapacidade e qualidade de vida aos 6 meses.
A frequência de eventos adversos, como episódios críticos de hipoxemia, reanimação cardiopulmonar ou convulsões também foi semelhante.
Os pacientes do grupo conservador experimentaram mais desvios importantes do protocolo e foram mais comumente retirados de sua estratégia de oxigênio alocado do que o grupo liberal.
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Conclusão
A falta de diferença nos resultados primários ou secundários nesse estudo sugere que é improvável que evitar a hiperóxia durante o tratamento com ECMO-VA tenha impacto nos resultados dos pacientes. Sugere também que a associação anteriormente demonstrada entre hiperóxia e resultados adversos foi provavelmente motivada principalmente por processos patológicos subjacentes.
Em adultos que receberam ECMO-VA na UTI, uma estratégia conservadora em comparação com uma estratégia liberal de oxigênio não afetou o número de dias livres de UTI até o dia 28, nem quaisquer outros resultados mensuráveis do paciente até 6 meses após a admissão na UTI. Uma estratégia conservadora de oxigênio resultou em desvios de protocolo mais frequentes.
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