Um novo estudo conduzido por especialistas em saúde infantil revela que mais de três milhões de crianças morreram no mundo em 2022 devido a infecções resistentes a antibióticos. A pesquisa destaca a África e o Sudeste Asiático como as regiões mais afetadas e reforça que a resistência antimicrobiana (RAM) já é uma das maiores ameaças à saúde pública global.
A escalada da RAM na infância
Com base em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), Banco Mundial e outras fontes, os autores do estudo — a Dra. Yanhong Jessika Hu, do Murdoch Children’s Research Institute, e o professor Herb Harwell, da Clinton Health Access Initiative — alertam para um aumento de mais de dez vezes nas infecções resistentes em crianças nos últimos três anos. A pandemia de covid-19 pode ter contribuído para esse avanço.
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Uso inadequado de antibióticos
Os pesquisadores identificaram um crescimento expressivo no uso de antibióticos de “vigilância” e “reserva” — categorias que deveriam ser restritas a infecções graves e multirresistentes. Entre 2019 e 2021, o uso desses medicamentos aumentou até 160% em algumas regiões. O uso indiscriminado, somado à lenta produção de novas moléculas, tem favorecido a evolução de bactérias resistentes.
O estudo aponta que, caso a resistência a esses antibióticos de última linha se consolide, haverá pouquíssimas alternativas terapêuticas disponíveis. A preocupação é ainda maior na pediatria, onde o arsenal de antibióticos já é mais limitado.
Segundo Harwell, que apresentará os dados no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas, não há soluções simples. A RAM é um problema sistêmico, com impactos que vão da prática médica ao meio ambiente. A prevenção — por meio da vacinação, saneamento e higiene — é vista como a forma mais eficaz de contenção.
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Implicações da resistência antimicrobiana para a prática médica
Para médicos, especialmente os que atuam em pediatria, infectologia e atenção primária, o estudo serve como um alerta para a importância da prescrição racional de antibióticos. O uso criterioso, baseado em protocolos clínicos e exames laboratoriais, é fundamental para evitar o avanço da resistência.
A Dra. Lindsey Edwards, do King’s College London, reforça: “Esses dados devem ser um sinal de alerta para a saúde global. Sem ação urgente, a resistência a antibióticos pode comprometer décadas de avanços na saúde infantil”.
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