Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram a primeira plataforma que reúne um banco de dados genômicos, epidemiológicos e fenotípicos de bactérias multirresistentes batizado de One Health Brazilian Resistance (OneBR).
Trata-se do primeiro banco de dados gratuito que visa auxiliar os profissionais e sistemas de saúde na vigilância epidemiológica, diagnóstico, gerenciamento e controle da resistência antimicrobiana em todo território nacional.
Na prática, o OneBR vai contribuir para o monitoramento e o controle da disseminação dessas bactérias, principalmente as de prioridade crítica, classificadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
“A partir dos dados genômicos disponibilizados na plataforma é possível descobrir genes responsáveis pela produção de novos medicamentos”, explicou a doutoranda da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (FCF-USP) e integrante do grupo de pesquisa do projeto, Fernanda Esposito.
Atualmente, a plataforma conta com dados de 500 cepas bacterianas. A previsão é que 200 devem ser incluídas até o final do ano.
“O banco de dados não é restrito a bactérias que infectam seres humanos. A iniciativa atende também a área veterinária, com agentes infecciosos de animais de criação ou domésticos; e ainda a microbiologia ambiental e dos alimentos. Nos baseamos no conceito de One Health, de saúde única, que propõe a interconexão entre saúde humana, dos animais e do ambiente que os rodeia”, contou o professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP) e coordenador do projeto, Nilton Lincopan.
Acesso gratuito
O acesso ao material é gratuito e pode ser realizado por profissionais das áreas da saúde, da vigilância sanitária, pesquisadores e até mesmo pessoas que não fazem parte da comunidade científica, como jornalistas e professores.
O site OneBR é bem intuitivo e de fácil acesso, sendo possível entrar em contato com os pesquisadores responsáveis.
O sequenciamento completo do genoma das bactérias é realizado com amostras enviadas pelos cientistas de todo o país. As bactérias são isoladas e ficam armazenadas em um biorrepositório na USP.
A base de dados está sendo construída por uma equipe de pesquisa multidisciplinar e uma rede nacional de colaboradores. A proposta OneBR é uma iniciativa financiada pela Fundação Bill & Melinda Gates e pelo Ministério da Saúde.
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Próximos passos
Na verdade, a plataforma já existe desde 2019, mas recebe atualizações ao longo do tempo, com a incorporação de bancos de novas espécies bacterianas isoladas.
Um dos objetivos é desenvolver a autonomia dos profissionais de saúde e pesquisadores, permitindo que eles próprios alimentem o banco de dados depois de realizarem os seus sequenciamentos.
A intenção é expandir o projeto para a América Latina. “Devido ao alto nível de circulação populacional entre os países latino-americanos, o projeto de expansão do monitoramento em nível continental se torna imprescindível”, revelou Fernanda Esposito.
Para avançar nesse propósito, o grupo da USP já está em contato com pesquisadores de países como Argentina, Chile, Equador e Uruguai, para definir a melhor dinâmica de trabalho em conjunto.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
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