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Medicina de Família5 maio 2024

Quais os impactos na saúde de populações expostas a múltiplos desastres naturais?

São necessários esforços em conjunto para adequar a atenção à saúde a populações expostas a múltiplos desastres naturais.

Por Renato Bergallo

Para abordar o tema de desastres naturais e efeitos na saúde, hoje vamos revisitar uma publicação de 2022 da The Lancet, em que pesquisadores realizaram uma revisão de escopo com 150 estudos.

Os estudos abordaram populações expostas a furacões, como o Katrina, nos EUA; terremotos, como no Haiti; deslizamentos, como em comunidades no Rio de Janeiro; e outros, como os ataques de 11 de setembro de 2001, também nos EUA.

Foram, então, analisados os impactos diretos (relacionados à saúde) e indiretos (relacionados a questões sociais) na população com esse tipo de exposição, bem como as recomendações para seu enfrentamento. Os impactos diretos na saúde pública causados por múltiplos desastres são os relacionados a: saúde mental; saúde física; bem-estar e resiliência. Focaremos aqui nos dois primeiros.

Leia também: Evitando uma “segunda tragédia”: desastres naturais e a equipe de Saúde da Família

desastres naturais

Saúde mental durante desastres naturais

Numerosos artigos observaram altas taxas de transtornos psiquiátricos nessas comunidades, como reação aguda ao estresse, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão, transtorno do pânico, e aumento do risco de suicídio. Alguns estudos demonstraram um maior risco de desenvolver esse tipo de transtorno entre aqueles expostos a mais de um desastre natural, quando comparado àqueles expostos a apenas um.

Não houve evidências de que a experiência de ter passado por um primeiro desastre natural “prepare melhor” o indivíduo para passar pelo próximo; pelo contrário: os impactos parecem ser maiores no segundo. Também aumentam as chances de retorno de sintomas de TEPT experimentados durante um episódio de desastre anterior.

Como recomendações diante de pacientes expostos a múltiplos desastres, o estudo aponta: pesquisar história de outros desastres em pacientes vítimas atuais, bem como de TEPT; prover ativamente e fortalecer serviços de saúde mental em comunidades expostas a múltiplos desastres; e pesquisar transtornos mentais comuns, uso de álcool, tabaco e drogas, transtorno obsessivo compulsivo e avaliar risco de suicídio.

Saúde física da população atingida

De acordo com a revisão, estudos apontam que a cada nova exposição a desastres, a população parece passar a ter mais risco de desenvolver doenças como asma, diabetes, obesidade e hipertensão arterial e a ter uma pior autopercepção de saúde. O “efeito cumulativo”, em que sintomas físicos decorrentes de um segundo desastre são piores do que do primeiro, chamou a atenção em alguns estudos — embora não em todos —, assim como no caso da saúde mental.

Por sua vez, a própria saúde mental aparece como possível propiciadora de sintomas físicos, com o aumento de fraturas relacionado a TEPT e à insônia, por exemplo. Também foi percebida uma piora dos sintomas físicos entre aqueles que deixam seu local de moradia, quando comparados àqueles que permanecem. Nesse sentido, é essencial que os médicos estejam cientes desses maiores riscos de desenvolver doenças apresentados por essa população. É importante pesquisar a possibilidade de o paciente ter experimentado episódios prévios de desastres naturais.

Saiba mais: O que profissionais de saúde têm a ver com os ataques nas escolas

São necessários esforços em conjunto, entre profissionais de saúde, poder público e comunidade, para adequar a atenção à saúde e os serviços de atendimento a populações expostas a múltiplos desastres naturais. É essencial lembrar que os indivíduos com as piores condições socioeconômicas são aqueles que mais necessitarão de apoio e devem ser a prioridade em um sistema de saúde baseado na equidade.

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Referências bibliográficas

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