Atualizado dia 02/10/2025 às 17:30
No último final de semana de setembro, dezenas de casos de intoxicação por ingestão de metanol no estado de São Paulo vieram à tona, com informações do governo estadual indicando que, ao todo, entre confirmados e sob investigação, são 22 casos, com seis óbitos entre eles. Durante a primeira semana de outubro, vários casos surgiram pelo Brasil, o Ministério da Saúde contabilizou 59 notificações de intoxicação pela sustância por todo país, com casos confirmados em Pernambuco e no Distrito Federal, além de São Paulo. As investigações apontam que a ingestão do metanol se deu por meio de bebidas alcoólicas adulteradas.
Autoridades abriram investigação em diversas frentes para averiguar a responsabilidade pela adulteração e prevenção de novos casos. “É possível haver outros casos não notificados, uma vez que nem todos os casos de intoxicação chegam aos órgãos de vigilância e controle. A ingestão acidental ou intencional de metanol leva a intoxicações graves e potencialmente fatais. O cenário de adulteração é particularmente relevante do ponto de vista de saúde pública, pois episódios dessa natureza frequentemente resultam em surtos epidêmicos com múltiplos casos graves e elevada taxa de letalidade, afetando grupos populacionais vulneráveis e exigindo resposta rápida das autoridades sanitárias.” afirmou, em nota, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos.
Saiba mais: Intoxicação por metanol: o que todo médico precisa saber?
Impactos do metanol sobre a saúde
“O metanol é um tipo de álcool que, diferente do álcool comum (etanol), não pode ser ingerido porque o organismo não consegue processá-lo de forma segura. Quando uma pessoa ingere metanol, o fígado o transforma em substâncias muito tóxicas, principalmente formaldeído e ácido fórmico. Esses compostos afetam especialmente o sistema nervoso, os rins e os olhos.”, explica a Dra. Alléxya Affonso, editora de oftalmologia do Portal Afya.
Segundo parentes de uma das vítimas fatais do caso, o primeiro sintoma apresentado foi a perda de visão. O paciente, homem de 45 anos veio a falecer por uma parada cardiorrespiratória e falência múltipla dos órgãos com a intoxicação por metanol apontada como causa.
A Dra. Alléxya aponta que a visão costuma ser um dos primeiros órgãos a sofrer “porque o ácido fórmico se acumula no nervo óptico, que é responsável por levar as imagens da retina até o cérebro. Essa toxicidade pode causar desde visão borrada e pontos escuros até cegueira permanente.”
Outras vítimas do caso foram encaminhadas para UTI após perderem completamente a visão e apresentarem outras complicações. “Além do risco ocular, o metanol também pode levar a sintomas graves como dor abdominal, vômitos, dificuldade para respirar, convulsões e até o óbito, dependendo da quantidade ingerida”, complementa a Dra. Alléxya, reforçando que “qualquer suspeita de ingestão de metanol é uma emergência médica que exige atendimento imediato no hospital.”
Sintomas comuns da intoxicação por Metanol
Um alerta emitido pela a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo reforça alguns sinais e sintomas aos quais os serviços de saúde devem ficar atentos, estes costumam aparecer entre 6 e 24 horas após a ingestão:
- Sonolência
- Tontura
- Dor abdominal
- Náuseas
- Vômitos
- Confusão mental
- Taquicardia
- Visão turva
- Fotofobia
- Convulsões
- Acidose metabólica
- Em casos graves, pode haver:
- Cegueira irreversível
- Choque
- Pancreatite
- Insuficiência renal
- Comprometimento neurológico
Tratamento
Como reforçado por órgãos de saúde e associações médicas, a intoxicação por metanol deve ser tratada imediatamente assim que constatada. Alguns contatos para se ter em mente para casos de intoxicação são o Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001; CIATox da sua cidade (lista aqui); Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI): (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733 – de qualquer lugar do país.
A Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia (ABNO), sociedade filiada ao Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) divulgou alerta reforçando essa necessidade e elencando o uso de antídotos como:
- Etanol venoso;
- bicarbonato para corrigir a acidez no sangue;
- vitaminas (ácido fólico/folínico);
- e, em casos graves, hemodiálise para remover o veneno.
Saiba mais: Brasil registra um caso de envenenamento a cada duas horas
Falsificação de bebidas e riscos para saúde
Como consequência deste caso ainda em desenvolvimento no estado de São Paulo o assunto das bebidas alcoólicas adulteradas ganhou os holofotes. Uma pesquisa da Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp), divulgada no primeiro semestre de 2025, estimou que quase 40% das bebidas comercializadas no Brasil eram fraudadas, falsificadas ou contrabandeadas.
Segundo a Fhoresp, “vinhos e destilados estão entre os mais afetados pela prática criminosa. Um dado alarmante: 1 em cada 5 garrafas de vodca vendidas no Brasil é falsificada.”
O caso recente também gerou reação do Conselho Nacional de Combate à Pirataria (CNCP), que considerando a situação como um risco sanitário coletivo, emitiu nota pedindo um maior controle de fornecedores e da origem dos produtos por parte dos estabelecimentos, pedindo que estes se atentem a sinais de alerta para suspeita de adulteração, como por exemplo: preço muito abaixo do mercado, lacre/cápsula tortos, vidro com rebarbas, erros de ortografia ou acabamento gráfico em rótulos e embalagens além de odores estranhos e alterações afins. Lembrando que “testes caseiros” (cheirar, provar, acender) não são práticas seguras nem conclusivas.
Leia também: Como se tornar médico toxicologista?
Autoria

Augusto Coutinho
Jornalista formado pela Universidade Estácio de Sá (UNESA) em 2009, com extensão em Produção Editorial (UNESP) e Planejamento Digital (M2BR Academy).
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.