O Brasil registrou uma queda significativa de 26,8% nos casos de malária no primeiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Foram 25.473 notificações entre janeiro e março deste ano, frente a 34.807 em 2024. Também houve redução de 27% no número de óbitos — 43 mortes em 2024 contra 63 em 2023. Os dados foram apresentados nesta quinta-feira (25), Dia Internacional de Luta contra a Malária, pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, durante evento na Academia Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro.
Saiba mais: Malária: estratégias de diagnóstico precoce e tratamento
Alerta da ONU
Apesar dos avanços no Brasil, a malária continua sendo um problema global. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 249 milhões de pessoas adoeceram por malária em 2022, resultando em aproximadamente 608 mil mortes. A maioria dos casos e óbitos ocorre na África. No Brasil, a taxa de letalidade da doença é considerada baixa — 0,05 óbitos por mil casos —, reflexo direto da melhora no diagnóstico precoce e no acesso ao tratamento.
Capacitação e medicamentos de ponta
Entre as estratégias destacadas pelo governo federal está a ampliação do uso de tecnologias para diagnóstico e tratamento. Um dos avanços mais importantes é a introdução da tafenoquina, medicamento de dose única voltado à cura da malária por Plasmodium vivax, responsável por mais de 80% dos casos no Brasil. Até o momento, mais de 7 mil pessoas já foram tratadas com o novo protocolo em 49 municípios da Amazônia Legal e em 9 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI).
A versão pediátrica da tafenoquina está em processo de incorporação ao SUS, com parecer preliminar favorável da Conitec. Além disso, quase 3 mil profissionais foram capacitados para atuar na linha de frente do diagnóstico e tratamento da doença.
Áreas vulneráveis
A redução também foi observada em áreas de especial vigilância: os casos caíram 27,5% em regiões de garimpo e 11% em assentamentos. Ainda assim, 99% das notificações continuam concentradas na Região Amazônica. Em 2024, foram registrados 138.493 casos locais, um número ligeiramente inferior ao de 2023. A quantidade de municípios com transmissão ativa caiu de 321 (em 2016) para 211.
O Ministério da Saúde alerta, no entanto, que os casos fora da Amazônia, apesar de menos frequentes, apresentam maior letalidade. Por isso, será implementado um sistema de vigilância específico para estados que registram transmissão esporádica.
Investimentos
Entre 2024 e 2025, o governo federal destinou R$ 9,9 milhões para controle vetorial, R$ 5,8 milhões em medicamentos e testes G6PD e R$ 1,7 milhão em testes rápidos. O uso dos testes aumentou 90% em 2024, acompanhando um crescimento de 65% na aquisição de insumos.
Outras medidas incluem a produção, pela Fiocruz, da combinação de artesunato com mefloquina — eficaz no tratamento de casos graves — e a retomada da distribuição de mosquiteiros impregnados (MILDS), com 300 mil redes e 100 mil camas entregues aos estados amazônicos.
Dinâmica da transmissão da malária
Apesar dos avanços, pesquisadores da Fiocruz Rondônia iniciaram um estudo para entender melhor a persistência da malária em áreas específicas, como a Bacia Leiteira, na divisa entre Porto Velho e Candeias do Jamari. Nos últimos três anos, a região somou 1.651 casos confirmados, apesar das ações de controle.
O estudo pretende mapear os vetores locais e suas características comportamentais, além de avaliar a eficácia das medidas adotadas. A pesquisa será expandida para o Acre e o Amazonas, com apoio de instituições como a Universidade Federal do Acre (Ufac) e a Fiocruz Amazônia.
Estratégias
Segundo Valdir França Soares, coordenador do Programa Estadual de Controle da Malária de Rondônia, as múltiplas realidades da Amazônia — que incluem áreas urbanas, rurais, ribeirinhas, indígenas e de garimpo — dificultam a padronização das ações. A mobilidade populacional, o desmatamento e o difícil acesso a serviços de saúde agravam o cenário.
Geisa Brasil, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde de Porto Velho, reforça que o estudo contribuirá com dados atualizados para fortalecer a tomada de decisão local e influenciar estratégias nacionais. O trabalho de campo inclui desde o levantamento sociodemográfico até o monitoramento dos mosquitos vetores e ações educativas nas comunidades.
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