Biológicos na resposta à vacina contra covid-19 em pacientes com espondiloartrites
No tratamento das espondiloartrites (SpA), os biológicos assumem um importante papel na atualidade, em especial anti-TNF, anti-IL-17, inibidores da JAK, anti-IL12/23 e anti-IL23 (esses últimos particularmente na artrite psoriásica). O impacto na resposta vacinal dos anti-TNF já foi analisado em estudos prévios com vacinas antipneumocócica e anti-influenza.
No entanto, dados a respeito desse impacto com o uso anti-IL17 são limitados. Estudos prévios demonstraram que uma dose de secuquinumabe não influenciou a imunogenicidade das vacinas contra meningococo e influenza, e que o ixequizumabe não impactou negativamente a resposta às vacinas contra o tétano e a doença pneumocócica. Além disso, estudos pequenos não identificaram uma pior resposta humoral à vacina contra influenza com o uso de secuquinumabe.
Nessa linha, Eviatar et al. conduziram um estudo cujo objetivo foi comparar a resposta humoral à vacina da covid-19 (BNT162b2 mRNA) nos pacientes com espondiloartrites (SpA) em uso de anti-IL17 e anti-TNF vs. controles saudáveis.
Métodos
Trata-se de uma análise de prova de conceito derivada de um estudo prospectivo de 3 centros israelenses, conduzido entre dezembro/2020 e julho/2022.
Foram incluídos pacientes com espondiloartrites (axial — critérios ASAS — e artrite psoriásica — critérios CASPAR) ≥ 18 anos de idade que foram tratados com anti-TNF ou secuquinumabe por no mínimo 3 meses. O grupo controle foi derivado da população geral, majoritariamente profissionais de saúde; para avaliar a contribuição da desregulação imune na resposta vacinal, foi incluído um grupo controle com AR + anti-TNF. Os critérios de exclusão foram gestação, histórico de alergia à vacina, infecção prévia por covid-19; no grupo controle, pacientes com doenças reumáticas imunomediadas ou uso prévio de imunossupressores foram excluídos.
A resposta humoral foi analisada através da medida seriada de IgG contra glicoproteína S1/S2 do SARS-CoV-2 nas semanas 2 e 6 e 6 meses após a segunda dose e nas semanas 2 e 6 após a terceira dose da vacina. Com relação à segurança, os pacientes foram contactados via telefone entre 2 e 6 semanas após a segunda e terceira doses. A atividade de doença foi avaliada entre 2 e 6 semanas após a segunda dose em todos os pacientes e entre 2 e 6 semanas após a terceira dose para um subgrupo de pacientes.
Caso o paciente apresentasse sintomas de covid-19, eles eram instruídos a contatar o centro para realização de pesquisa de SARS-CoV-2 através de antígeno ou PCR.
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Resultados
Foram incluídos 37 pacientes tratados com secuquinumabe (3 associados com MTX) e 125 tratados com anti-TNF (16 associados com MTX, sendo 42 com adalimumabe, 36 com etanercepte, 25 com infliximabe, 20 com golimumabe e 3 com certolizumabe pegol; 1 deles estava em uso de corticoide).
O grupo controle consistiu de 122 indivíduos imunocompetentes e 50 pacientes com AR em uso de anti-TNF (9 adalimumabe, 21 etanercepte, 8 infliximabe, 7 golimumabe e 5 certolizumabe pegol).
Após 2 doses, todos os grupos apresentaram respostas humoral semelhantes. No entanto, os títulos de anticorpos foram maiores no grupo do secuquinumabe, quando comparados com os grupos SpA com anti-TNF + MTX e AR anti-TNF. Após 6 meses, as taxas de soropositividade em cada um dos grupos foram: 96,3% secuquinumabe, 96,6% nos imunocompetentes, 80,9% SpA anti-TNF em monoterapia, 66,7% SpA com anti-TNF + MTX, 63% AR + anti-TNF. As diferenças estatisticamente significativas ocorreram entre o secuquinumabe vs. SpA anti-TNF + MTX (p=0,03) e secuquinumabe vs. AR + anti-TNF (p=0,004). A inclinação da queda nos títulos de anticorpos foi maior nos grupos anti-TNF, quando comparados com o secuquinumabe.
Após a terceira dose, 100% dos pacientes com SpA e controles imunocompetentes e 88,9% dos pacientes com AR + anti-TNF soroconverteram (p=0,25).
As taxas de infecção por covid-19 foram maiores nos pacientes com anti-TNF do que nos com secuquinumabe (36-37,5% vs. 10,8%).
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Comentários
Apesar das limitações relacionadas ao tamanho amostral, desenho do estudo e ausência de avaliação de alguns parâmetros importantes (como títulos geométricos médios), esse estudo sugere que o secuquinumabe parece ter pouca influência na resposta vacinal, permitindo bons resultados com 3 doses da vacina da covid-19.
Sendo assim, os autores concluíram que o secuquinumabe não interfere na imunogenicidade da vacina BNT162b2 nos pacientes com espondiloartrites. No entanto, a terapia anti-TNF esteve associada a menores títulos de anticorpos contra S1/S2, declínio mais rápido e maiores taxas de infecções incidentes.
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