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Reumatologia15 janeiro 2024

Avaliação do acometimento de vasos intracranianos na arterite de células gigantes

A arterite de células gigantes (ACG) acomete predominantemente vasos de grande e médio calibre, com predileção pelos ramos extracranianos da carótida externa.

Por Gustavo Balbi

Além da temida perda visual, cerca de 4% dos pacientes com arterite de células gigantes (ACG) podem apresentar quadros de AVC isquêmico, principalmente pelo comprometimento de porções extracranianas das artérias vertebrais e carótida interna. No entanto, o acometimento de vasos intracranianos nesse contexto também já foi descrito, mas sua real prevalência ainda é desconhecida.

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Para fornecer informações sobre essa lacuna de conhecimento, Guggenberger et al. desenvolveram um estudo com ressonância magnética (RM) de alta resolução (campo magnético de 3T) utilizando protocolo black blood, visando comparar a incidência de lesões intracranianas em pacientes com ACG e controles populacionais.

Avaliação do acometimento de vasos intracranianos na arterite de células gigantes

Métodos

Cinquenta e cinco pacientes com ACG (≥ 50 anos, diagnosticados por especialistas e sem sintomas neurológicos — com exceção de cefaleia), foram avaliados através da RM de alta resolução com protocolo black blood para avaliação de vasos intracranianos e comparados com 50 controles pareados pela idade. As imagens adquiridas foram avaliadas, de maneira independente, por neurorradiologistas experientes (> 4 anos de treinamento), em busca de alterações estruturais e presença de inflamação parietal. A presença de espessamento vascular circunferencial (acometimento 360º, com espessura de parede ≥ 2 vezes a de vasos adjacentes aparentemente normais — formato de donut no corte transversal ou trilho de trem no corte axial) e captação de contraste (análise qualitativa, comparando a captação com a substância branca adjacente e parede de vasos próximo aparentemente normais) foram utilizados na caracterização da presença de vasculite intracraniana. Estenose foi considerada significativa se ≥ 70%.

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Resultados

Os autores encontraram que 14,5% (8/55) dos pacientes com ACG apresentaram vasculite intracraniana. Os vasos mais frequentemente acometidos foi a carótida interna (10,9%), seguida da vertebral/basilar  (7,3%) e cerebral posterior (1,8%). No entanto, não houve correlação entre a clínica dos pacientes e as alterações na imagem. O índice kappa de concordância interobservador foi excelente (0,94).

Todas as alterações encontradas foram de segmento longo (>5 mm), mas nenhuma delas foi hemodinamicamente significativa (≥ 70% de estenose luminal).

Nenhum dos controles apresentaram as alterações descritas acima.

Comentários

Este estudo demonstrou uma taxa significativa de alterações inflamatórias vasculares intracranianas nos pacientes com ACG. No entanto, essas alterações não levaram a graves obstruções de fluxo e não apresentaram expressão clínica significativa.

Desse modo, devemos estar atentos para a possibilidade de comprometimento intracraniano da ACG, mas as conclusões deste estudo são limitadas pela seleção de pacientes assintomáticos do ponto de vista neurológico. Portanto, existem limitações de validação externa desses resultados e, sendo assim, não devemos adotar posturas alarmistas frente a esses dados, solicitando de maneira rotineira de avaliação de vasos intracranianos nesse contexto. Estudos prospectivos são necessários para avaliar o real impacto clínico desses achados no curto, médio e longo prazo.

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Referências bibliográficas

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