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Psiquiatria23 junho 2023

Spravato: formulações, usos e indicações terapêuticas

Em 2019, o Spravato foi aprovado pelo U.S. Food and Drug Administration (FDA) para adultos com transtorno depressivo resistente.
Por Tayne Miranda

Cetamina, em suas diversas formulações, é, provavelmente, a medicação aprovada para o transtorno depressivo maior resistente ao tratamento que mais mudança trouxe no prognóstico dessa condição nos últimos tempos. A medicação apresenta efeitos expressivos e rápidos e algumas evidências sugerem que com eficácia similar a eletroconvulsoterapia (ECT), sem os inconvenientes relacionados à memória dessa última.

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Em março de 2019, escetamina intranasal, que tem o nome comercial de Spravato, utilizada conjuntamente com um antidepressivo convencional foi aprovada pelo U.S. Food and Drug Administration (FDA) para adultos com transtorno depressivo resistente ao tratamento e em agosto de 2020, o FDA atualizou a aprovação da escetamina intranasal para adultos com transtorno depressivo e ideação/comportamento suicida.  

Apesar do crescente uso, interesse e divulgação da escetamina, há preocupações legítimas da comunidade científica sobre sua eficácia a longo prazo, segurança, tolerabilidade, perfil de paciente para o uso e o risco de precipitação de transtorno por uso de substâncias.  

spravato

Como o Spravato funciona 

Acredita-se que o antagonismo NMDA – especificamente no sítio de canais abertos da fenciclidina (PCP) constitui o principal alvo hipotético para explicar os efeitos antidepressivos da cetamina. A cetamina causa uma explosão imediata de liberação de glutamato a jusante após o bloqueio dos receptores NMDA.

O glutamato que é liberado nessa explosão estimula os receptores AMPA, enquanto a cetamina está bloqueando os receptores NMDA. Sua ação sobre sítios de opioide µ é hipotetizada como necessária ao efeito terapêutico, mas não é suficiente para isoladamente explicar a ação antidepressiva.  

O efeito terapêutico da cetamina seria justificado por uma melhora na plasticidade neuronal através da facilitação da sinaptogênese e potencialização sináptica (há uma hipótese neurotrófica da depressão, onde a resposta aos antidepressivos estaria ligada a restauração de deficiências em fatores neurotróficos como fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) e fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF)).  

Como e quando usar

O Spravato deve ser utilizado em conjunto com antidepressivo oral. Cada dispositivo de Spravato® conta com 28 mg de dose e indicador que permite o correto controle se a dose foi ou não administrada. Para tratamento de depressão resistente, na fase de indução, as doses variam entre 56 e 84 mg (escolhidas conforme critério clínico, excetuando-se a primeira sessão que é realizada com a dose de 56 mg), administradas duas vezes por semana, por quatro semanas.

Na fase de manutenção – a partir da semana 5, a dose é mantida e a administração feita uma vez por semana. A partir da nona semana, a frequência pode ser reduzida para uma vez a cada duas semanas e individualizada até a menor frequência necessária para manter a remissão/resposta. 

No transtorno depressivo com ideação suicida, a dose é 84 mg, realizada duas vezes por semana, por quatro semanas. Caso haja perda de sessões com piora dos sintomas clínicos na fase de manutenção, recomenda-se retornar ao esquema da fase de indução. Não é necessário ajustes de dose para função renal e hepática.  

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A administração é realizada em um serviço de saúde com supervisão de profissionais capacitados. Os pacientes são monitorados no mínimo por duas horas após a aplicação da medicação, com aferições periódicas de sinais vitais. Os efeitos colaterais mais comuns são náusea, sedação, dissociação e aumento pressórico. 

A medicação é contraindicada em casos de aneurismas (incluindo aorta torácica e abdominal, vasos arteriais intracranianos e periféricos) ou malformação arteriovenosa e história de hemorragia intracerebral. Ela também não é indicada em idosos acima de 65 anos. Pacientes com sintomas psicóticos são considerados de risco para administração da medicação.  

Autoria

Foto de Tayne Miranda

Tayne Miranda

Editora médica de Psiquiatria da Afya ⦁ Residência em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP) ⦁ Mestranda em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP) ⦁ Médica pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) ⦁ Psiquiatra do PROADI-SUS pelo Hospital Israelita Albert Einstein ⦁ Foi Psiquiatra Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo

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Referências bibliográficas

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