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Psiquiatria27 dezembro 2023

Restrospectiva 2023: os estudos que marcaram o ano na psiquiatria

Neste artigo vamos rever os estudos de 2023 que tiveram mais impacto na área de psiquiatria, abordados aqui no portal.

Por Tayne Miranda

O ano de 2023 trouxe vários desenvolvimentos importantes para a área de psiquiatria, abaixo trazemos os mais marcantes.

Restrospectiva 2023: os estudos que marcaram o ano na psiquiatria

Vacina Calixcoca

A vacina em desenvolvimento pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), chamada Calixcoca (UFMG-VAC-V4N2), promete revolucionar o tratamento para transtorno por uso de crack e cocaína, sendo um tratamento antidroga e específico. A vacina induz a produção de anticorpos anticocaína, capazes de se ligarem a cocaína e diminuir a passagem da cocaína pela barreira hematoencefálica, diminuindo a atividade da droga no cérebro. O grupo de pesquisa está em vias de realizar o primeiro estudo clínico em humanos, que avaliará pessoas que foram dependentes, estão no momento em abstinência e desejam permanecer em abstinência.

Medicamentos para TDAH

Três estudos relevantes envolvendo as medicações usualmente utilizadas para TDAH foram publicados. O primeiro deles, um estudo de caso controle aninhado utilizando a base de dados de saúde nacionais da Suécia demonstrou a associação entre as medicações usualmente utilizadas para tratamento do TDAH (metilfenidato, anfetamina, dextroanfetamina, lisdexanfetamina, atomoxetina e guanfacina) com o aumento do risco cardiovascular. A cada ano de uso houve um aumento de 4% no risco cardiovascular, com risco maior para doses maiores. As doenças associadas ao uso das medicações foram hipertensão e doença arterial.

Pacientes com TDAH têm alta frequência de comorbidade com uso de substâncias e um estudo avaliou se o tratamento do TDAH com psicoestimulantes poderia prevenir tal comorbidade. O estudo mostrou que não há evidências que o uso de estimulantes esteja associado a menores taxas de uso de substâncias, mesmo em pacientes que iniciaram precocemente o tratamento. À medida que o uso de substâncias aumenta na adolescência o uso de estimulantes diminui, mas não há evidência que os padrões de continuação e descontinuação estivessem relacionados com o uso de substâncias. Outra descoberta importante do estudo é que a maioria dos pacientes com diagnóstico não tomam estimulantes na vida adulta.

Por fim, um estudo avaliando se o uso de estimulantes conhecidos como smart drugs (metilfenidato (MPH), modafinil (MOD) e dextroanfetamina (DEX)) seria realmente capaz de otimizar a performance de pessoas sem diagnóstico de TDAH em tarefas complexas. Sob o uso das medicações observou-se uma queda no desempenho — as pessoas até conseguiram solucionar os problemas, mas com soluções piores do que sem uso de medicação). Ainda se demonstrou que apesar do aumento do esforço (o uso da medicação interfere na motivação para a atividade), houve uma piora na qualidade porque sob o uso das medicações os participantes ficaram mais erráticos em suas escolhas. Os participantes acima da média sem as medicações tenderam a ficar abaixo da média com as medicações.

Psilocibina para Depressão

Ano passado tivemos a publicação de um estudo para avaliação de psilocibina em depressão resistente ao tratamento e este ano foi a vez da psicilocibina ser avaliada em pacientes com TAB II em episódios depressivos resistente ao tratamento. O uso em dose única de 25 mg de psilocibina esteve associado a uma diminuição dos escores de depressão, com 80% dos pacientes do estudo remitindo do episódio em 3 meses de seguimento. O efeito antidepressivo foi intenso, rápido e persistente e esteve associado a intensidade da vivência psicodélica.

Cetamina para Depressão

Uma revisão sistemática comparou a eficácia das diferentes apresentações de cetamina indicando que a cetamina racêmica (venosa) é superior a escetamina (nasal) tanto no início quanto na manutenção do tratamento. O estudo ainda mostrou que doses maiores são mais efetivas e reforçou a necessidade do ajuste de dose de acordo com a resposta terapêutica dos pacientes. As informações sobre o benefício de longo prazo são incertas, mas há uma sugestão que ambas as formulações têm um benefício de longo prazo.

Um ensaio clínico aberto, randomizado, de não inferioridade comparando ECT e cetamina venosa para tratamento de depressão resistente foi publicado no New England Journal of Medicine, endossando um resultado discrepante com os estudos previamente publicados sobre a mesma temática. Nesse artigo o uso de cetamina na dose de 0,5 mg/kg duas vezes por semana foi não inferior ao uso de ECT três vezes na semana. Acredita-se que a realização inicial de ECT unilateral e o número menor de sessões do que o tipicamente utilizado (o estudo fez 6-9 sessões enquanto a literatura em geral sugere 6-12 sessões na fase aguda) foram apontados como possíveis responsáveis para o achado, uma vez que os estudos prévios sugerem superioridade do ECT.

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Referências bibliográficas

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