Psicoterapias para o transtorno de ansiedade generalizada em adultos
O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) é um dos transtornos mentais mais comum na população adulta.
As psicoterapias são uma das intervenções recomendadas enquanto tratamento para o transtorno de ansiedade generalizada, mas informações sobre qual psicoterapia deve ser considerada a primeira linha ainda são insuficientes.
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A despeito de inúmeros ensaios clínicos randomizados terem sido conduzidos para avaliar os efeitos das psicoterapias no transtorno de ansiedade generalizada, as metanálises disponíveis comparam no máximo duas intervenções simultaneamente.
Para suprir esta carência na literatura, Papola et al. conduziram uma revisão sistemática e metanálise em rede para comparar a aceitabilidade e eficácia de diferentes tipos de psicoterapia para o tratamento de pacientes adultos com transtorno de ansiedade generalizada. O desenho do estudo permite classificar as opções de tratamento comparando vários deles, de modo a elucidar quais psicoterapias baseadas em evidência mais adequadas na relação risco-benefício.
Metodologia
O estudo foi uma revisão sistemática e metanálise em rede que incluiu 66 artigos, totalizando 5.597 participantes. Estudos com diagnóstico de transtorno de ansiedade generalizada de acordo com o Critérios Diagnósticos em Pesquisa (Research Diagnostic Criteria), DSM-III, DSM-III-R, DSM-IV, DSM-IV-TR, DSM-5, Classificação Internacional de Doenças, em suas 10ª e 11ª edições ou que atingiram o ponto de corte em uma escala de autorrelato de ansiedade foram incluídos.
As intervenções foram divididas em 8 grupos (terapia comportamental, terapia cognitivo-comportamental (TCC), reestruturação cognitiva, psicoeducação, terapia psicodinâmica, terapia de relaxamento, psicoterapia de apoio e TCC de terceira onda) e dois grupos controles (tratamento usual e lista de espera). Além da avaliação de eficácia e aceitabilidade na fase aguda, também foi avaliado a manutenção do efeito entre o 3º e 12º mês após o término do tratamento.
Resultados
5.597 participantes maiores de 18 anos oriundos de 66 estudos publicados entre 1980 e 2022 foram incluídos. 70,9% eram mulheres e a idade média dos participantes foi 43,2 anos. 41% dos estudos usaram escalas específicas para sintomas de TAG.
TCC de terceira onda (Diferença Média Padronizada (DMP: -0,78 (IC 95% -1,19 a -0,37); TCC (DMP: -0,68 (IC 95% -1,04 a -0,32); Terapia de relaxamento (DMP: -0,54 (IC 95% -1,04 a -0,05) foram superiores ao tratamento usual. No entanto, quando estudos com alto risco de viés foram excluídos terapia de relaxamento perdeu sua superioridade frente o tratamento usual (DMP: -0,40 (IC 95% -1,15 a 0,34). Não houve diferença dos riscos relativos para descontinuação por todas as causas (indicativo de aceitabilidade) entre tratamento usual e todas as psicoterapias.
Ao considerar a gravidade da ansiedade 3 a 12 meses após a conclusão da intervenção, apenas a TCC permaneceu significativamente associada a uma maior eficácia do que o tratamento habitual (DMP, -0,58; IC 95%, -0,93 a -0,23).
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Discussão
Considerando tanto a eficácia na fase aguda quanto a manutenção do benefício após o término da intervenção psicoterapêutica, TCC é a primeira linha de tratamento para o transtorno de ansiedade generalizada. Um ensaio clínico recente demonstrou ainda que TCC é igualmente efetiva quanto realizada pessoalmente ou por videoconferência.
O artigo chama atenção para a recomendação de terapia de relaxamento como intervenção isolada (o guideline do National Institute for Health and Care Excellence – NICE sugere a intervenção como primeira linha de tratamento).
Limitações
Os ensaios clínicos randomizados incluídos foram publicados durante um período relativamente longo, promovendo uma heterogeneidade de desenhos, critérios diagnósticos e seguimentos. Além disso, um terço dos estudos incluídos foram julgados como alto risco de vieses.
Como muitas psicoterapias compartilham bases teóricas e intervenções comuns (ex.: TCC para TAG inclui tanto restruturação cognitiva quanto relaxamento), em alguns momentos a separação entre os diferentes tipos de psicoterapia foi difícil.
Por fim, a despeito da comorbidade frequente entre o transtorno de ansiedade generalizada e outros transtornos mentais, não foi possível com as informações disponíveis avaliar se a presença de outras comorbidades no início do tratamento afetava os desfechos.
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