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Psiquiatria9 março 2023

Cafeína e ansiedade: o que devemos saber?

Considerando que a cafeína é, provavelmente, o psicoestimulante mais consumido mundialmente, estudos buscam relacioná-la a sintomas ansiosos.

Por Tayne Miranda

Os transtornos ansiosos são extremamente frequentes – em 2015, segundo a Organização Mundial de Saúde, 264 milhões de pessoas conviviam com eles, com um aumento da sua frequência ao longo dos anos – somente durante a pandemia de covid-19, houve um crescimento na prevalência estimado em 25%. Considerando que a cafeína é, provavelmente, o psicoestimulante mais consumido mundialmente, muitos estudos buscam relacionar sua ingestão com a ocorrência de sintomas ansiosos, com resultados ambíguos.  

O mecanismo que poderia justificar essa associação é desconhecido, mas se acredita que esteja relacionado com o bloqueio dos receptores de adenosina. Dois trabalhos recentes sobre a temática, ambos publicados em 2022, merecem nossa atenção.  

Recentemente, uma revisão sistemática com meta-análise foi conduzida por Klevebrant e Frick visando avaliar os efeitos agudos do uso da cafeína na percepção subjetiva de ansiedade e na ocorrência de ataques de pânico em pacientes com ansiedade paroxística episódica e também em indivíduos com controles saudáveis, bem como se esses efeitos envolvem doses dependentes. 

É sabido que pacientes com diagnóstico prévio de transtorno do pânico (TP) apresentam piora de sintomas ansiosos e de manifestações paroxísticas com o uso de diversos agentes farmacológicos, e acredita-se que a cafeína possa ser um deles. Depois da sua ingestão por via oral, ela atinge seu pico plasmático entre 15 e 120 minutos e facilmente atravessa a barreira encefálica. Sua meia-vida é de 2,5 a 4,5 horas.  

No total, 10 estudos foram incluídos nessa revisão, envolvendo 244 pacientes com transtorno do pânico e 122 com controles saudáveis. Foi evidenciado que uma quantidade de cafeína equivalente a aproximadamente cinco xícaras induz ansiedade tanto em pacientes com TP quanto em sujeitos saudáveis, mas os pacientes são mais vulneráveis e possuem um risco maior de apresentar um ataque de pânico 

Não foi possível realizar a análise da dependência da dose, uma vez que a maior parte das pesquisas utilizaram a quantidade de 480 mg de cafeína. A consideração sobre a dependência é um dado de extrema relevância clínica, já que as altas doses de cafeína utilizadas não refletem o uso cotidiano (aproximadamente 100 mg dessa substância em 1 xícara de café). Além disso, todos os estudos foram conduzidos sem que os pacientes estivessem sob uso de psicotrópicos e não se sabe exatamente como esse psicoestimulante natural pode interferir no tratamento.  

O trabalho de Paz-Graniel et. al. busca, por sua vez, estudar a associação entre a ingesta habitual de doses moderadas de cafeína (estimadas a partir de registros da ingestão dietética em 24h dos envolvidos) e sintomas ansiosos em uma população de adultos representativa da população geral; considerando que os participantes com uso de maiores doses e as mulheres (que possuem uma prevalência maior de transtorno de ansiedade que os homens) apresentariam mais inquietação associada ao uso.  

Foram incluídos na análise 24.197 participantes. A média de idade foi de 53,7 ± 13,9 anos. O número de registros dietéticos de 24 horas foi de 8,2 ± 3,8.  A ingestão de cafeína média foi de 220,6 ± 165 mg/dia. Os pacientes de cada sexo foram divididos em três grupos de acordo com a ingestão desse estimulante. Os resultados do estudo evidenciaram uma associação entre traços de ansiedade na população feminina e ingestão de cafeína. Na amostra, as mulheres alocadas no tercil de maior consumo da substância apresentaram uma ingestão média 50 mg menor que os homens no mesmo patamar.  

Baseando-se nesses achados, médicos e pacientes devem estar cientes e atentos ao potencial ansiogênico da cafeína. Como os resultados não permitem nenhuma conclusão, recomenda-se que durante a história clínica sejam avaliados os efeitos dela em cada um dos pacientes. 

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Referências bibliográficas

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