Uma parte importante do cuidado em saúde está relacionada ao manejo de condições crônicas nas quais os comportamentos e estilo de vida das pessoas determinaram sua saúde, qualidade de vida e longevidade. Entrevista motivacional (EM) é um estilo de conversa colaborativa, centrada na pessoa, visando fortalecimento da motivação e do comprometimento com a mudança, através da exploração da ambivalência dos pacientes. Ela é um estilo clínico voltado a expressão pelos pacientes dos seus próprios valores e interesses para a mudança.
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A maior parte das pessoas que precisam fazer alguma mudança estão ambivalentes sobre fazê-lo: elas veem razões para mudar e para não mudar, tudo ao mesmo tempo (e está é uma experiência humana normal). A ambivalência é o maior gargalo no caminho para a mudança. Nesse sentido, levar a pessoa a falar sobre um dos lados da mudança leva a opinião pessoal a se deslocar nessa direção.
Quatro elementos compõem o espírito da EM:
- Parceria: a entrevista motivacional é feita com e não para a pessoa. As pessoas são, indiscutivelmente, os maiores especialistas sobre eles mesmos. O método da EM envolve exploração mais do que a exortação, o interesse e o suporte mais que a persuasão. O entrevistador buscar criar uma atmosfera interpessoal positiva, que é propícia à mudança, mas não coercitiva. Uma armadilha que deve ser evitada aqui é a armadilha do especialista, como se, baseado em sua experiência profissional, você tivesse a resposta para o dilema pessoal do paciente. Esse aspecto da EM demanda um profundo respeito pelo outro.
- Aceitação: pode ser subdividido em quatro aspectos.
- Valor absoluto: envolve valorizar o valor inerente e o potencial de cada ser humano.
- Empatia: um interesse e esforço para entender a vivência e perspectiva interna de outra pessoa, para enxergar o mundo através dos seus olhos – isso não é o mesmo que simpatia, um sentimento de pena, camaradagem por outra pessoa ou identificação (imaginar por sua própria vivência que sabe o que o outro está passando).
- Autonomia: aceitação envolve honrar e respeitar a autonomia de cada pessoa.
- Afirmação: buscar e reconhecer os pontos fortes e esforços da pessoa.
- Compaixão: ser compassivo é promover ativamente o bem estar do outro, priorizar as suas necessidades, aproximando-se da pessoa e não do seu problema.
- Evocação: muito do que acontece nos atendimentos parte de um modelo deficitário, no qual falta algo a pessoa que busca ajuda que será fornecido pelo profissional. O espírito da EM parte de uma premissa muito diferente focada nas habilidades das pessoas, entendendo que elas já têm dentro de si muito do que precisam e que nossa tarefa é evocar essas ferramentas. A evocação também está intimamente relacionada a ideia de ambivalência: pessoas ambivalentes já têm dentro de si tanto os argumentos favoráveis à mudança, quanto para sustentar a manutenção das coisas e é muito mais provável que os argumentos pró mudança que elas possuam sejam muito mais persuasivos que qualquer um que possamos oferecer. Assim, nossa tarefa é evocar e fortalecer essa motivação para a mudança.
As perguntas a seguir demonstrar um pouco do espírito da entrevista motivacional
- Por que você quer fazer essa mudança?
- Como você pode fazer para ter sucesso?
- Quais são as três principais razões para você fazer isso?
- Quão importante para você é fazer essa mudança e por que?
Depois disso, o entrevistador pode fornecer um breve sumário com as razões enunciadas pelo paciente e propor uma outra questão:
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Então, o que você acha que vai fazer?
Auxiliar pacientes através do caminho da mudança requer parceria, colaboração. Não é possível, de fora, implantar a motivação em qualquer pessoa. A melhor forma de ajudar nossos pacientes a mudarem comportamentos que veem prejudicando suas vidas e saúdes é exercitando na prática clínica os princípios da EM.
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