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Psiquiatria24 abril 2024

Medicamentos para TDAH protegem pacientes de morte precoce? 

O TDAH é o transtorno do neurodesenvolvimento mais comum, afetando 5,9% dos jovens e 2,5% dos adultos mundialmente
Por Tayne Miranda

Pacientes com o diagnóstico de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) possuem um risco duas vezes maior que a população geral de morte prematura, principalmente por causas não naturais.  

Sabemos que para crianças maiores que 5 anos e adultos o tratamento medicamentoso é primeira linha, reduzindo de forma expressiva os sintomas nucleares do transtorno. Se por um lado a medicação reduz desfechos negativos como lesões, acidentes de trânsito e criminalidade (esperando-se por consequência uma redução de mortalidade), por outro há uma preocupação quanto o aumento do risco cardiovascular com o uso prolongado das medicações (para saber mais).  

Os estudos disponíveis na literatura abordando a mortalidade nessa população são conflitantes, com muitos vieses e não abordam a população adulta adequadamente. Nesse sentido, Li et. al. propuseram um estudo de coorte com toda a população da Suécia para investigar se a farmacoterapia para TDAH reduz o risco de mortalidade. 

Medicamentos para TDAH protegem pacientes de morte precoce? 

Métodos 

Todas as pessoas morando na Suécia entre 01 de janeiro de 2007 e 31 de dezembro de 2018 que receberam diagnóstico de TDAH foram incluídas (vale ressaltar que na Suécia os pacientes passam por avaliação neuropsiquiátrica antes de receberem o diagnóstico médico). Pacientes que tinham tomado alguma medicação para TDAH (metilfenidato, anfetamina, dexanfetamina, lisdexanfetamina, atomoxetina e guanfacina) nos 18 meses anteriores ao diagnóstico foram excluídos. A exposição foi iniciar o tratamento medicamentoso até 3 meses após o diagnóstico e aqueles que interromperam o tratamento foram excluídos. O tempo de seguimento foi de 2 anos (e nas análises de sensibilidade 5 anos). As causas de morte foram separadas por causas naturais e não naturais. Uma análise rigorosa de covariáveis foi feita, incluindo características sociodemográficas, avaliação de comorbidades psiquiátricas, uso de outros psicofármacos, tentativas de suicídio e internações psiquiátricas e não psiquiátricas. 

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Resultados 

Foram identificadas 148.578 pessoas elegíveis (61.356 [41.3%] do gênero feminino e 87.222 [58,7%] do masculino). A idade média do diagnóstico foi 17,4 anos. 632 pessoas morreram durante os 2 anos de seguimento e 1.402 durante os 5 anos de seguimento. Após 3 meses do diagnóstico, 84.204 (56,7%) pacientes começaram o tratamento e 64.296 (43,3%) não iniciaram.  

O uso da medicação esteve associado a uma redução significativa da taxa de mortalidade por todas as causas (risco ponderado de mortalidade de 39,1 vs 48,1 por 10.000: diferença de risco de -8,9 por 10.000; IC 95% -17,3 a -0,6; razão de risco [HR]: 0,79, IC 95% 0,70 a 0,88) e de mortes de causas não naturais (25,9 vs 33,3 por 10.000, diferença de risco de -7,4 por 10.000; IC 95% -14,2 a -0,5; HR: 0,75, IC 95% 0,66 a 0,86). Não houve diferença nas mortes por causas naturais (13,1 vs 14,7 por 10.000, diferença de risco -1,6 por 10.000, IC 95% -6,4 a 3,2; HR: 0,86, ICR 0,71 a 1,05). 

Nas mulheres, o uso de medicações para TDAH foi associada a um risco reduzido de mortalidade somente por causa natural. Nos homens, foi associado a uma redução da mortalidade por todas as causas e causas não naturais. As mulheres tinham uma idade média no estudo maior, sugerindo um retardo no diagnóstico. Além disso, outros estudos sugerem um perfil diferente de comorbidades psiquiátricas entre os dois gêneros.  

Não houve diferença entre os grupos que iniciaram com medicação estimulante frente aqueles que começaram com não estimulantes.  

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Mensagens práticas 

Iniciar medicação para TDAH esteve associado à diminuição da mortalidade 2 anos após o diagnóstico, especialmente em mortes por causas não naturais. É provável que a associação se deva a redução de sintomas do TDAH, levando a melhor controle do impulso e consequentemente melhores decisões. É importante notar que durante o período do estudo a mortalidade foi pequena e que esse é um estudo de caráter exploratório. Logo, não devemos tomar de forma definitiva seus achados. 

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Referências bibliográficas

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