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Psiquiatria22 dezembro 2025

Comparação e aceitação de intervenções para TDAH em adultos 

Revisão sistemática com metanálise comparou intervenções farmacológicas e não farmacológicas para TDAH em adultos.  

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) vem se mostrando bastante prevalente em todo o mundo. Segundo Ostinelli EG et al, de 1990 a 2019, teria afetado cerca de 5% dos jovens entre 6 e 18 anos em todo o mundo. Os sintomas podem persistir na vida adulta em até três quartos dos casos, e a prevalência em adultos foi estimada em 2,5% no mundo em 2020. Além dos sintomas centrais (desatenção, hiperatividade ou ambos), comorbidades psiquiátricas são frequentes, o que amplia o impacto do quadro na vida dos pacientes.  

Diante dessa relevância, torna-se necessário avaliar as opções terapêuticas e seus efeitos adversos. Por isso, Ostinelli et al. conduziram uma revisão sistemática com metanálise em rede para comparar eficácia, aceitabilidade e tolerabilidade de intervenções farmacológicas e não farmacológicas para TDAH em adultos.  

Métodos do estudo sobre intervenções para TDAH em adultos  

Trata-se de uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados (ECRs) publicados em seis bases de dados e registros (CENTRAL, MEDLINE, Embase, ClinicalTrials.gov , no Registro de Ensaios Clínicos da UE, na Plataforma Internacional de Registro de Ensaios Clínicos da OMS), além de agências reguladoras e indústria farmacêutica, incluindo resultados publicados e não publicados, até 6 de setembro de 2023. A diretriz PRISMA foi a referência, associada a uma metanálise em rede, que permite a comparação direta (entre intervenções semelhantes em diferentes estudos) e indireta (intervenções diferentes comparadas com o placebo em diferentes estudos) de resultados. Este estudo foi publicado no Lancet Psychiatry em janeiro de 2025.  

Os ECRs deveriam comparar controles com tratamentos de eleição em maiores de 18 anos com diagnóstico de TDAH segundo as principais dimensões categoriais (CID-10, CID-11, DSM-lll em diante). Dentre os tratamentos de eleição foram incluídos os psicoestimulantes (metilfenidato e lisdexanfetamina), atomoxetina, bupropiona, guanfacina, modafinil, viloxazina com duração mínima de sete dias. As intervenções de neuroestimulação tiveram duração apropriada e as psicológicas obedeceram a mínimo de quatro sessões. Ferramentas específicas e adequadas foram utilizadas para avaliar o risco de vieses (Cochrane Risk of Bias). O risco de vieses foi avaliado por ferramentas específicas (Cochrane Risk of Bias). Uma pessoa com TDAH participou da elaboração e interpretação do estudo como coautora. Embora financiado, os autores informam que os financiadores não influenciaram nenhuma etapa da pesquisa. Foram incluídos 113 ECRs, totalizando mais de 14.800 participantes.   

Resultados: intervenções para TDAH

Os autores observaram que psicoestimulantes e atomoxetina foram eficazes no curto prazo (12 semanas), com atomoxetina apresentando aceitabilidade inferior ao placebo. A eficácia foi constatada tanto em autorrelatos dos participantes quanto em avaliações clínicas. Há poucos estudos que investiguem efeitos em médio e longo prazos.  

Quanto às intervenções não farmacológicas, a eficácia variou conforme o avaliador (um profissional ou o próprio paciente). Várias (TCC, mindfulness, psicoeducação, remediação cognitiva e estimulação transcraniana) se mostraram eficazes na avaliação profissional, mas não em autoavaliações. Trabalhos anteriores com metanálise relataram benefícios da terapia cognitivo-comportamental, embora a literatura apresente relatos que tanto endossam esse achado, como o contrariam. Resultados semelhantes foram encontrados para psicoeducação, treinamento cognitivo e terapia dialética-comportamental. Possíveis explicações para as discrepâncias incluem, como a tentativa de agradar o avaliador (efeito Hawthorne), dificuldade executiva dos próprios pacientes, ou por se sentirem pressionados. Os autores recomendam avaliar tais discrepâncias em estudos futuros. Já a terapia de relaxamento obteve um efeito pior do que o placebo em autoavaliações.   

Nesta revisão, a aceitação refere-se ao abandono do tratamento por qualquer motivo. De modo geral, a maioria das estratégias mostrou aceitabilidade semelhante à do placebo, com duas exceções: atomoxetina e guanfacina (indisponível no Brasil) foram menos aceitáveis. As razões mais comuns para o abandono envolveram efeitos adversos, ausência percebida de melhora ou a combinação desses fatores. As demais intervenções (incluindo não-farmacológicas) foram mais aceitas do que o placebo.  

No tocante à tolerância (abandono devido a efeitos adversos), atomoxetina, modafinil e guanfacina apresentaram maior taxa de descontinuação que o placebo. Comorbidades, como a obesidade, podem reduzir a tolerabilidade dos estimulantes, que também se associam, em uso cumulativo de longo prazo (14 anos), a maior risco de hipertensão, sobretudo em doses elevadas. Assim, os riscos e benefícios devem ser ponderados na decisão terapêutica.  

Os psicoestimulantes também exibiram efeito de leve a moderado sobre desregulação emocional. Esse benefício não foi observado para a terapia dialética-comportamental; ademais, medicamentos e treinamento cognitivo não demonstraram melhora de função executiva em adultos. Tampouco há evidências consolidadas quanto à qualidade de vida no médio-longo prazo (> 12 semanas).  

Comparação e aceitação de intervenções para TDAH em adultos 

Conclusão: intervenções para TDAH

Em síntese, os autores relatam que psicoestimulantes e atomoxetina tiveram eficácia semelhante no curto prazo (< 12 semanas), mas a atomoxetina foi menos aceita — ainda que, em geral, ambas apresentem aceitação próxima à do placebo. Persistem lacunas quanto a resultados de médio e longo prazos. Algumas abordagens não-farmacológicas (TCC, relaxamento, neurofeedback) sugerem benefício mais duradouro, mas com base limitada e resultados discordantes entre avaliadores.  

Esses achados devem ser interpretados à luz de algumas limitações: qualidade dos estudos originais; possível perda de materiais relevantes; escassez de resultados em 26 e 52 semanas; impossibilidade de separar sistematicamente metilfenidato e anfetaminas nas análises; inconsistências estatísticas; e dificuldade de mascaramento das intervenções psicológicas (a despeito de ajustes analíticos). Os pontos elencados ajudam a nortear pesquisas futuras.  

Mensagem prática: TDAH em adultos  

Portanto, este trabalho concluiu que, entre adultos com TDAH, os psicoestimulantes e a atomoxetina foram as únicas intervenções com evidência consistente de eficácia a curto prazo na redução dos principais sintomas do transtorno — sendo a atomoxetina menos tolerada que o placebo. As evidências de longo prazo e para outros desfechos, como qualidade de vida, permanecem limitadas. As abordagens não-farmacológicas não apresentaram resultados consistentes nas diferentes formas de avaliação.

Saiba mais: A prescrição do TDAH

Autoria

Foto de Paula Benevenuto Hartmann

Paula Benevenuto Hartmann

Médica pela Universidade Federal Fluminense (UFF) ⦁ Psiquiatra pelo Hospital Universitário Antônio Pedro/UFF ⦁ Mestranda em Psiquiatria e Saúde Mental pela Universidade do Porto, Portugal.

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