No segundo dia do Congress on Brain, Behavior and Emotions – BRAIN 2025, ocorreu uma interessante palestra com o Dr. Philip Shaw, investigador sênior da Seção de Pesquisa Clínica Neurocomportamental do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano em Bethesda, Estados Unidos, percorrendo as similaridades e diferenças nas bases neurobiológicas do TEA e TDAH.
Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
TEA e TDAH são condições do neurodesenvolvimento altamente herdáveis e explicáveis por fatores genéticos, 40% do TEA e TDAH são explicados pelos mesmos genes, mas há pouca sobreposição de fatores ambientais entre as duas condições — somente 4% dos casos são explicados por fatores ambientais em comum. Apesar das sobreposições, a maior parte dos genes não são compartilhados entre as duas condições.
Em relação a anatomia e funcionamento cerebral, uma importante meta-análise e mega-análise trouxe informações cruciais ao entendimento dos transtornos. A avaliação de função através de ressonância magnética funcional no TDAH mostrou que comparando o cérebro “offline” e “online” (ou seja, executando ou não alguma atividade) a atividade da rede de modo padrão (default mode network) é mais correlacionada com a atividade relacionada com tarefas. Isso significa que o conjunto de áreas do cérebro que fica mais ativo quando estamos em repouso, que deveria ser “desligado” ao nos concentramos em uma tarefa, continua ativo nas pessoas com TDAH, interferindo na realização da atividade.
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Os achados da meta-análise evidenciaram mais diferenças do que similaridades na função do cérebro nas duas condições. Em relação à conectividade cerebral, observou-se que as redes de modo padrão são semelhantes entre os transtornos e que eles compartilham uma hipoativação do córtex frontotemporal. No entanto, só o TDAH apresenta atividade corticoestriatal anormal e o autismo cursa com atividade atípica no córtex cingulado anterior. Em relação à anatomia, o volume intracraniano apresenta efeitos opostos — o cérebro é, em média, um pouco maior em pessoas com TEA e um pouco menor no TDAH, mas as diferenças são muito pequenas, menos de 1% em relação ao cérebro neurotípico.
Esses achados são interessantes do ponto de vista do desenvolvimento da ciência, mas ainda não possuem aplicação clínica.
Mensagem Final
Apesar de alguma sobreposição genética e funcional, TDAH e autismo são condições distintas e possuem mais diferenças que semelhanças. O TDAH, em particular, apresenta um curso mais flutuante e, em casos com início após os 12 anos, há dúvidas se tal apresentação seria realmente um transtorno do neurodesenvolvimento. Phillip levou a hipótese se sobreposição com autismo é maior em casos de TDAH de início muito precoce, que seriam uma forma “verdadeira” do neurodesenvolvimento.
Confira os principais destaques da cobertura do BRAIN 2025!
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