No terceiro dia do Congress on Brain, Behavior and Emotions – BRAIN 2025, ocorreu a palestra “O autismo e intervenção precoce: o momento certo faz diferença?” com a Professora Catherine Lord, professora de psiquiatria na Escola de Medicina David Geffen da UCLA e referência mundial em transtorno do espectro do autismo.
O autismo prejudica aspectos básicos do comportamento (contato visual, vocalização) e atenção a certos tipos de estímulo e talvez a motivação, o que afeta o aprendizado, bem como elas não participam tanto ou tão alegremente de atividades diárias sem suporte ou estrutura, questões que interferem no aprendizado e processamento, motivos pelos quais a temporalidade das intervenções é tão importante.
Além disso, o autismo raramente vem sozinho, usualmente os pacientes apresentam comorbidades psiquiátricas (TDAH, transtornos específicos da linguagem, TAS, transtorno do desenvolvimento intelectual) que também comprometem seu desenvolvimento.
As intervenções precoces fundamentam-se no fato que o cérebro é mais maleável precocemente e tais intervenções resultariam em maior aprendizado (e isso não significa que caso intervenções precoces não sejam feitas os pacientes não aprenderão mais). Para a maioria das crianças a linguagem muda mais dos 18 meses aos 4 anos, isso também é verdade para as crianças com TEA.
Os objetivos variam conforme os diferentes períodos, com alguns “períodos críticos” e há fatores internos e externos às crianças que interferem no planejamento das intervenções. Em relação aos fatores internos às crianças e adolescente, temos o nível de linguagem (as crianças podem não compreender tão bem o que leem quanto o que falam), comprometimento intelectual, presença de TDAH, potencial forças (habilidades motoras, foco, motivação social).
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São fatores externos ao autismo e a forma como a interação com os outros ocorrem: suporte e funcionamento familiar (como recebe e o que faz com o diagnóstico), habilidades adaptativas (é fundamental focar nas habilidades que cada criança apresenta, ex.: habilidades motoras, memória etc.) e acadêmicas, emoções e humor (sintomas depressivos, é difícil ter TEA em nossa sociedade) e condições médicas). Por isso, há múltiplas razões pelas quais os objetivos das intervenções podem variar.
Diferentes aspectos ou diferentes tratamentos têm efeitos sobrepostos, mas distintos. É importante focar no que podemos mudar.
Em relação aos fatores do cuidador, precisamos focar em:
- Ajustar expectativas para comportamentos possíveis
- Relacionamento com a criança
- Confiança e empoderamento
- Lidar com o comportamento
- Estratégias de ensino para comunicação e brincadeiras
- Lidar com os próprios medos e sentimentos
Em relação aos fatores da criança:
- Compreender o que está acontecendo
- Capacidade de prestar atenção
- Aprendizado de habilidades específicas
- Comportamentos de comunicação
- Pessoas como algo positivo
- “Ferramentas” de atividade
- Tolerância à frustração/intrusão
Estudos empíricos sobre os resultados de intervenção precoce e intervenções naturalísticas e baseadas no desenvolvimento mostram que:
- ABA/ESDM (Modelo Denver de Início Precoce) intensivo: aumentos de 10 a 20 pontos em QI e habilidades linguísticas;
- Intervenções breves focadas nos pais e diretas para atenção conjunta (intervenções em atenção partilhadas mudam sobretudo o comportamento dos pais, mas no longo prazo isso pode mudar o comportamento da criança; além disso, é importante atentar para os recursos e necessidades da família);
- Ensino menos estruturado pode promover maior generalização, mas ser mais lento;
- As mudanças são, em sua maioria, incrementais.
Mensagem Final: intervenção precoce no autismo
As intervenções precoces são fundamentais para otimizar o aprendizado e desenvolvimento de crianças com autismo. É importante personalizá-las de acordo com aspectos internos à criança (habilidades e dificuldades, por exemplo) e externos, como suporte familiar. Há períodos críticos para as intervenções e os objetivos variam de acordo com o momento.
O autismo é uma parte da pessoa, mas não seu todo. Não há soluções mágicas para o TEA, as intervenções promovem mudanças graduais, mas que devem ajudar as crianças a serem mais independentes.
Confira os principais destaques da cobertura do BRAIN 2025!
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