No segundo dia do Congress on Brain, Behavior and Emotions – BRAIN 2025, ocorreu uma mesa palestra organizada pela Mantercorp Farmasa e ministrada pelo Dr. Vinícius Barbosa, professor convidado da F.C. Farmacêuticas da Unicamp, da UDLA/Equador e Cayetano Heredia/Peru e coordenador do Subnúcleo de Autismo e o Núcleo de Cannabis Medicinal do Hospital Sírio-Libanês, sobre o uso dos canabinoides no transtorno do espectro do autismo com foco da ansiedade.
Mecanismos de Ação do CBD
O canabidiol (CBD) é uma molécula que interage com diversos sistemas de sinalização no sistema nervoso central. Seu efeito ansiolítico está relacionado ao agonismo funcional do receptor 5HT1A e seu efeito anticonvulsivante associado ao agonismo sobre o canal iônico TRPV1 e ao antagonismo do receptor GPR55.
Estudos Clínicos com Canabinoides no TEA
O Dr. Vinícius durante sua apresentação trouxe achados de alguns estudos clínicos — os resultados dos artigos com maior importância e rigor metodológico serão discutidos individualmente a seguir.
O artigo mais recente, de 2025, Cannabidiol (CBD) Treatment for Severe Problem Behaviors in Autistic Boys: A Randomized Clinical Trial (CBD no Tratamento de Comportamento-Problema Graves no TEA – Ensaio Clínico Randomizado), um ensaio clínico duplo-cego, placebo-controlado com crossover com n = 39, com uso de CBD purificado (20 mg/kg/dia) em meninos de 7-14 anos com TEA e comportamentos-problema intensos (autoagressão, agressividade, hiperatividade), no qual não houve diferença significativa entre os grupos e um intenso efeito placebo foi observado. Desse modo, o CBD não se mostrou eficaz na redução dos comportamentos que eram os desfechos primários do estudo.
No artigo de 2022, A Placebo-Controlled Trial of Cannabinoid Treatment for Disruptive Behavior in Children and Adolescents with Autism Spectrum Disorder: Effects on Sleep Parameters as Measured by the CSHQ (Um ensaio controlado por placebo de tratamento com canabinoides para comportamento disruptivo em crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista: efeitos nos parâmetros do sono medidos pelo CSHQ) O CBD não foi superior ao placebo em todos os aspectos do sono medidos pelo CSHQ, incluindo resistência ao ir para a cama, atraso no início do sono e duração do sono.
No artigo de 2022 publicado na Nature, Children and adolescents with ASD treated with CBD-rich cannabis exhibit significant improvements particularly in social symptoms: an open label study (Crianças e adolescentes com TEA tratados com cannabis rica em CBD apresentam melhorias significativas, particularmente nos sintomas sociais: um estudo aberto), 82 participantes dos 110 recrutados concluíram um protocolo de 6 meses com produto rico em CBD (20:1). Nesse estudo houve melhorias significativas nas habilidades de comunicação social, sobretudo nos participantes que apresentavam sintomas iniciais mais graves, sugerindo que o CBD pode produzir melhorias, particularmente nas habilidades de comunicação social, mas tais achados precisariam ser comprovados em estudos duplo-cegos adicionais, controlados por placebo, utilizando avaliações padronizadas.
Por fim, o Dr. Vinícius compartilhou algumas informações sobre a sua prática clínica e a forma que ele utiliza o CBD no TEA: produtos Full Spectrum ricos em CBD até a proporção 20:1 (CBD:THC) de 0,5 a 10 mg/kg/dia para pacientes abaixo de 40 kg e de 25 mg/dia a 400 mg/dia para pacientes acima de 40 kg, sempre calculando a dose de THC dos produtos ricos em CBD, e não ultrapassar a dose de 20 mg/dia de THC na pediatria.
Mensagem Final: Cannabis no TEA e na Ansiedade
É importante interpretar as evidências com cuidado e sem otimismo exacerbado, uma vez que os achados são contraditórios (achados negativos de estudos controlados por placebo e achados positivos oriundos de estudos abertos, com amostras pequenas), indicando que o benefício do CBD no TEA e na Ansiedade é incerto.
Confira os principais destaques da cobertura do BRAIN 2025!
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