Jornada Anual de Pneumologia Pediátrica - Novidades no tratamento da tuberculose
A sessão temática “Tuberculose” foi realizada durante a Jornada Anual de Pneumologia Pediátrica da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ), na qual a Dra. Ana Paula Barbosa, pneumologista pediátrica de São Gonçalo, apresentou novidades no tratamento, sintetizadas a seguir.
Tratamento da tuberculose ativa
O tratamento da tuberculose (TB) ativa apresenta os seguintes pilares:
- Reconhecer sinais clínicos que indiquem a necessidade de cuidados urgentes;
- Gestão de comorbidades;
- Gestão de eventos adversos;
- Apoiar a adesão ao tratamento;
- Envolver o paciente e os familiares nas decisões relativas ao tratamento;
- Apoio psicológico e socioeconômico.
Locais de tratamento para a TB ativa
- Ambulatorialmente
- Estratégias de saúde da família;
- Referência secundária;
- Referência terciária.
- Hospital
Como prescrever e o que orientar?
- Horários;
- Não associar com alimentos;
- Observação de eventos adversos;
- Importância do tratamento diretamente observado (TDO);
- Cuidado: a isoniazida pode causar deficiência de piridoxina.
Estudo SHINE – tratamento encurtado de quatro meses
Em 09 de abril de 2024, o Ministério da Saúde emitiu nota informativa sobre o tratamento para TB sensível não grave em crianças e adolescentes, conforme resultados consistentes do estudo denominado SHINE, que demonstrou a não inferioridade do esquema terapêutico de quatro meses em comparação ao de seis, tanto em crianças quanto em adolescentes com TB sensível a medicamentos, não grave e com baciloscopia negativa, incluindo pacientes pediátricos com HIV. Os objetivos da adoção desse esquema consistem em melhorar a adesão ao tratamento e reduzir a possibilidade de efeitos adversos, mantendo a mesma eficácia.
Crianças e adolescentes com idades entre 3 meses e 16 anos, com TB sensível e não grave
- TB com acometimento em linfonodos periféricos;
- TB intratorácica sem sinais de obstrução de vias aéreas;
- Doença paucibacilar não cavitária confinada a um lobo pulmonar, sem padrão miliar;
- TB pleural não complicada.
Tratamento encurtado de quatro meses – critérios de elegibilidade
RX de tórax
- Idealmente no início do tratamento;
- TB em linfonodo intratorácico sem obstrução de vias aéreas;
- Imagem compatível com TB pulmonar confinada em um lobo, sem cavidades e sem padrão miliar;
- Derrame pleural não complicado (sem pneumotórax e/ou empiema).
Bacteriológico
- Teste rápido molecular para TB: Mycobacterium tuberculosis (MTB) não detectado ou detectado em quantidades mínimas (traços) (very low, low);
- Baciloscopia: negativa.
Critérios clínicos
- Sintomas leves que não demandam internação.
Possibilidade de tratamento encurtado de quatro meses – Coinfecção HIV e TB
- Não grave;
- Dependendo do grau de imunossupressão;
- Terapia antirretroviral (TARV);
- Presença de outras infecções oportunistas;
- Monitoramento constante, especialmente ao final do tratamento encurtado (quarto mês) para definir se o tratamento será prolongado até os seis meses.
Tratamento mantido por seis meses
- TB em menores de três meses de idade ou com peso inferior a 4 kg;
- TB pulmonar grave.
Veja também: Incidência e fatores de risco para tuberculose ativa em contatos domiciliares
ATENÇÃO
- O tratamento principal da TB para crianças e adolescentes continua sendo de seis meses;
- O tratamento encurtado de quatro meses é uma alternativa terapêutica para os casos bem definidos de TB pulmonar sensível não grave;
- Em caso de evolução clínica desfavorável durante o tratamento encurtado de quatro meses: completar os seis meses de tratamento.
TRATAMENTO PREVENTIVO DA TB
O tratamento adequado da infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis (ILTB) previne a ativação da TB em 60-90% das pessoas infectadas e NÃO induz à resistência.
Comprimidos dispersíveis rifampicina 75mg + isoniazida 50 mg
Em nota informativa publicada em 16 de maio de 2024, o Ministério da Saúde divulgou a disponibilização de comprimidos dispersíveis rifampicina 75mg + isoniazida 50 mg para o tratamento da ILTB ou tratamento preventivo da TB em crianças menores de 10 anos, com peso corporal entre 4kg e inferior a 25 kg, que não conseguem deglutir comprimidos. A dose varia de acordo com o peso:
- 4 a 7 kg: 1 comprimido;
- 8 a 11 kg: 2 comprimidos;
- 12 a 15 kg: 3 comprimidos;
- 15 a 24 kg: 4 comprimidos.
A duração do tratamento é de 3 meses, com o uso diário do comprimido dispersível.
- Interrupção:
- Dois meses sem o tratamento, consecutivos ou não;
- Retorno após a interrupção, deve-se proceder com a avaliação clínica e, afastada a possibilidade de TB ativa, avaliar o risco x benefício da reintrodução do tratamento;
- Interrupção com 72 doses ou mais (≥ 80%) do esquema de tratamento. Não há necessidade de reintrodução do tratamento, considerar tratamento completo.
ATENÇÃO
- Agite vigorosamente a suspensão após a dissolução e administrar a dose completa de uma só vez, imediatamente após o preparo;
- Caso a suspensão não seja utilizada imediatamente após o preparo, recomenda-se que a mesma seja descartada;
- Os medicamentos devem ser tomados em jejum. Aguardar pelo menos 1 hora para dar alimentos à criança.
Rifapentina + isoniazida comprimido em dose fixa combinada (300/300mg) para ILTB (NOTA INFORMATIVA Nº 2/2024-CGTM/.DATHI/SVSA/MS)
- Indicado para pacientes > 14 anos e com mais de 30 kg;
- O uso em gestantes e durante a amamentação não está recomendado
- Dose: 3 comprimidos;
- Interrupção: 3 doses consecutivas ou não.
Doses isoladas de rifapentina + isoniazida
- Rifapentina: 150 mg;
- Isoniazida: 300 mg e/ou 100mg;
- Indicado para crianças > dois anos (que conseguem engolir comprimidos) e < 14 anos de idade e/ou < 30kg;
- Duração: 3 meses (1 vez por semana);
- Doses (rifapentina/isoniazida):
- 10 a 15 kg: 300/300 mg;
- 16 a 23 kg: 450/500 mg;
- 24 a 30 kg: 600/600 mg;
- >30 kg: 750/700 mg.
Rifampicina suspensão
- Indicado exclusivamente para crianças com peso < 4 kg;
- Contatos com mono resistência à isoniazida;
- Dose: 15 (10 a 20) mg/kg/dia de peso corporal;
- Tomada diária;
- Duração: 4 meses (120 doses);
- Interrupção: 60 dias consecutivos ou não.
Isoniazida comprimido (100 mg)
- Indicado quando não for possível utilizar os demais esquemas;
- Contatos com mono resistência à rifampicina;
- Pode ser usado em gestantes e em pacientes com HIV;
- Dose: 10 mg/kg/dia de peso corporal;
- Tomada diária;
- Duração: 6 meses (180 doses ao total) a 9 meses (270 doses ao total).
Observações quanto ao tratamento preventivo da TB:
- Crianças com HIV/AIDS em uso de:
- Lopinavir/ritonavir ou darunavir (inibidores da protease) ou nevirapina (inibidor da transcriptase reversa não análogo de nucleosídeos): risco de desenvolver interações medicamentosas com a rifampicina e existe incerteza em relação à segurança e à eficácia da rifapentina. Recomenda-se, preferencialmente, a isoniazida e com a duração de nove meses (270 doses ao total).
- Raltegravir e dolutegravir: suas doses devem ser ajustadas quando utilizados concomitantemente com rifampicina.
- Recém-nascidos (RN) com contatos domiciliares de pacientes bacilíferos
- Quimioprofilaxia primária preferencialmente com rifampicina;
- 4 meses (4R);
- SEM necessidade de realizar a prova tuberculínica (PT);
- Realizar a vacinação do RN após o término da quimioprofilaxia;
- Se o RN tiver sido inadvertidamente vacinado antes de iniciar a quimioprofilaxia, recomenda-se manter o esquema de profilaxia com os 4 meses de rifampicina.
Saiba mais: Prevenção da tuberculose: qual método é mais eficaz?
Mensagem final
A Dra. Ana Paula destacou que tanto o tratamento ativo quanto o preventivo são essenciais para a redução da transmissão da TB e prevenir novos casos da doença.
Informações adicionais podem ser encontradas nas notas informativas do Ministério da Saúde:
Nº2/2024-CGTM/.DATHI/SVSA/MS
Nº5/2024-CGTM/.DATHI/SVSA/MS https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/notas-informativas/2024/nota-informativa-no-5-2024-cgtm.pdf
NOTA INFORMATIVA Nº 6/2024-CGTM/.DATHI/SVSA/MS
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