A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é considerada uma das principais causas de óbito em todo o mundo e apresenta um importante impacto nos sistemas de saúde, sobretudo devido a internações e demandas assistenciais pelos pacientes. As terapias inalatórias e o tratamento das comorbidades são atualmente o padrão ouro para o tratamento de pacientes com DPOC.
Leia também: Atualizações do GOLD 2023: mudanças frente à DPOC
Entretanto, atualmente reconhece-se a heterogeneidade da doença, apresentando perfis diferentes de pacientes e fenótipos que podem responder a determinados tratamentos, como os corticóides inalatórios e até mesmo os imunobiológicos. O dupilumab, um anticorpo monoclonal totalmente humano, bloqueia o receptor compartilhado para a interleucina 4 (IL4) e a interleucina 13 (IL13), principais impulsionadores da inflamação tipo 2, com padrão eosinofílico. O objetivo deste estudo foi avaliar a ação do dupilumab na DPOC.
Métodos
Estudo de fase 3, duplo-cedo e randomizado em pacientes com DPOC eosinofílicos (com contagem de eosinófilos acima de 300 cels/ml) e exacerbadores apesar da terapia inalatória otimizada com quase todos os pacientes fazendo uso de terapia tripla. Os pacientes foram randomizados para receber dupilumab 300 mg a cada duas semanas subcutâneo ou placebo durante 52 semanas. O desfecho primário foi a taxa anual de exacerbações da DPOC, e os desfechos secundários incluíram a função pulmonar e qualidade de vida.
Resultados
Um total de 939 pacientes foram randomizados: 468 para o grupo dupilumab e 471 para o grupo placebo. A taxa anual de exacerbações moderadas ou graves foi de 0,78 (intervalo de confiança [IC] de 95%, 0,64 a 0,93) com dupilumab e 1,10 (IC de 95%, 0,93 a 1,30) com placebo (razão de taxa, 0,70; IC de 95%, 0,58 a 0,86; P<0,001). Houve ganho de função pulmonar e qualidade de vida no grupo dupilumab quando comparado ao placebo. Não houve eventos adversos graves em ambos os grupos.
Estudos prévios com outros imunobiológicos na DPOC mostram resultados conflitantes e este é o primeiro estudo que mostra redução de exacerbações, melhora da função pulmonar e da qualidade de vida dos pacientes com inflamação T2 alta, ou seja, eosinófilos. Especula-se que o dupilumab possa exercer função no muco, reduzindo o acometimento das pequenas vias aéreas, com efeito na resistência e melhora da função pulmonar. Entre as limitações, o estudo ocorreu durante a pandemia de covid-19, que pode ter efeito em exposições reduzindo episódios de exacerbações naturalmente, além de envolver poucos indivíduos negros.
A Organização Mundial da Saúde estima que, até 2060, mais de 5,4 milhões de mortes por ano serão atribuíveis à DPOC. As exacerbações da doença, independentemente da gravidade, levam a uma pior qualidade de vida, aumento de hospitalizações e aumento risco de morte, mostrando a importância de novas terapias emergentes.
Saiba mais: Por que também devo considerar a DPOC na minha prática clínica?
Mensagens práticas:
- A DPOC é a terceira principal causa de óbito no mundo, sendo em sua grande maioria evitáveis.
- O tratamento atual envolve a terapia inalatória, a cessação do tabagismo, reabilitação e tratamento de comorbidades, ainda assim com taxas de exacerbações anuais elevadas.
- O dupilumab, um anti-IL 4 e IL-13, parece ter efeito em redução de exacerbações, melhora de função pulmonar e qualidade de vida em pacientes com DPOC eosinofílicos.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.