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Pediatria23 janeiro 2025

USG à beira-leito (POCUS) em neonatologia e pediatria - parte 1

Revisão abordou o uso da ultrassonografia (USG) à beira-leito (point-of-care ultrasound - POCUS) em neonatologia e pediatria

Nos últimos anos, o uso da ultrassonografia (USG) à beira-leito (point-of-care ultrasound – POCUS) tem sido cada vez mais frequente globalmente e vem ganhando muito espaço também na pediatria. Aliás, é uma importante ferramenta para o diagnóstico de diversas condições abdominais. O POCUS abdominal apresenta algumas vantagens que o tornam um instrumento crucial para uso em emergências abdominais neonatais e pediátricas, fornecendo dados valiosos em tempo real e orientando intervenções terapêuticas, como, por exemplo, a paracentese. Destaca-se o fato de ser um exame não invasivo, facilmente disponível em muitos locais.  

Em 2024, o European Journal of Pediatrics publicou uma revisão muito interessante sobre o tema, cujos pontos principais foram sintetizados em dois textos (parte 1 e parte 2). O presente texto consiste na parte 1, na qual abordamos a avaliação do abdome superior. 

POCUS

Avaliação do abdome superior (baço, estômago e fígado) 

Podemos dividir o abdome superior em lados direito e esquerdo: 

  • Lado direito: contém o piloro, o duodeno e o lobo direito do fígado (que corresponde à região posterior direita); 
  • Lado esquerdo: contém o corpo do estômago e o lobo esquerdo do fígado. A região posterior esquerda corresponde ao baço. 

Baço 

  • Transdutor recomendado: convexo (e setorial). Linear para análises detalhadas; 
  • Posição do paciente: prona, supina e decúbito lateral. 

 

Condição Achados no POCUS 
Esplenomegalia 
  • Aumento do baço. 
Lesão esplênica 
  • Possível aumento do tamanho do baço por hematoma subcapsular (às vezes não consegue ser diferenciado do baço normal inicialmente – líquido periesplênico ou fases posteriores, com sedimentação de eritrócitos e aparência de líquido complexo semelhante a hematoma possibilita a visualização); 
  • Contusões sem hemorragia: em geral, há estruturas heterogêneas regionais sem delimitação clara de hematoma;  
  • Laceração: sinais indiretos incluem movimento diafragmático reduzido e interrupção do contorno parenquimatoso. 

Fonte: Adaptado de Elsayed e Soylu (2024). 

Estômago 

  • Transdutor recomendado: linear (alta frequência – para avaliação de parede ventral e piloro) e convexo; 
  • Posição do paciente: inicialmente supina. Manobras posicionais podem ser úteis (alteração para decúbito lateral direito ou esquerdo); 
  • Preparo do paciente: deve-se reduzir a quantidade de ar no estômago. Idealmente, o paciente deve iniciar o exame em jejum (alimentos podem ser oferecidos durante a avaliação, se indicado); 
  • Abordagem: o acesso posterior pode melhorar a avaliação de partes dorsais ou quando o gás prejudica a visualização;  
  • Indicações: principalmente em casos de vômitos (não biliosos) e presença de aspirado gástrico com sangue; 
  • Protocolo: Acesse o subxifoide, região mediana ou abdome superior esquerdo. Acesse o quadrante superior direito usando o lobo esquerdo do fígado como janela para avaliação de piloro. Localize a entrada ou saída gástrica na seção axial; siga na seção axial antes de girar o transdutor para o plano longitudinal, avaliando a junção gastroesofágica (entrada) ou o piloro (saída). Avalie refluxo ou hérnia intermitente em direção à cavidade torácica. Avalie também o piloro e sua função, observando a transição do conteúdo gástrico para o bulbo duodenal. 

 Saiba mais: POCUS: Impacto prático da ultrassonografia torácica entre doentes críticos

Condição Achados no POCUS 
Estenose hipertrófica de piloro 
  • Aumento do piloro (especialmente da musculatura): 
  • Comprimento >15 mm; 
  • Diâmetro axial ≥12 mm; 
  • Espessura muscular >3 mm; 
  • Relação entre lúmen e parede >2:1. 
  • Alteração da espessura da parede do estômago para o piloro – contorno típico semelhante a um ombro na entrada pilórica; 
  • Aumento do estômago e deslocamento frequente do piloro. 
Refluxo gastroesofágico 
  • Regurgitação de líquido – interface ecogênica de fluido e ar, do estômago para o esôfago, com dilatação variável da entrada gástrica; 
  • Número e duração dos episódios de refluxo, clareamento esofágico e espessura da parede; 
  • Possível hérnia de partes gástricas na cavidade torácica. 

Fonte: Adaptado de Elsayed e Soylu (2024). 

Fígado 

  • Transdutor recomendado: convexo (e setorial); 
  • Posição do paciente: supina ou decúbito lateral; 
  • Abordagens: ventral e lateral. A posterior também pode ser útil em algumas situações; 
  • Protocolo: O exame deve ser iniciado com movimento de varredura por todo o fígado, em cortes sagitais e axiais, seguindo o trajeto da veia porta e veias hepáticas, avaliando a vesícula biliar e, se indicado, adicionando o Doppler. 

Condições patológicas frequentes 

Achados no POCUS 

Congestão hepática 

  • Hepatomegalia inicial com redução da ecogenicidade. Estágio crônico: aumento da ecogenicidade; 
  • Superfície lisa, margem inferior arredondada; 
  • Dilatação das VH, que podem ser seguidas até a periferia do fígado, com redução ou ausência de modulação do tamanho; 
  • VCI dilatada conectada às VH – sinal de “cabeça de alce”; 
  • Ascite, esplenomegalia, espessamento omental e edema da parede intestinal. 

Contusão hepática 

  • Forma triangular, com mudanças de hiper para hipoecogênico; 
  • Doppler colorido pode identificar interrupções focais na arquitetura vascular normal. 

Hematoma hepático 

  • Inicialmente: ecogenicidade semelhante ao do parênquima hepático; 
  • Hemorragia subcapsular: coleção fluida hipoecogênica ao redor do fígado. 

Gases venosos portais 

  • Pequenos focos ecogênicos móveis com reverberação parecida com caudas de cometa, visualizados nas áreas dependentes do fígado; 
  • Focos ecogênicos flutuantes podem ser observados no SP central. 

Legenda: ECN – enterocolite necrosante; VCI – veia cava inferior; VH – veias hepáticas; SP – sistema porta. 

Fonte: Adaptado de Elsayed e Soylu (2024). 

Com relação à USG de abdome inferior (intestino, cavidade peritoneal e vasos sanguíneos abdominais) e de à USG renal e vesical, veja a parte 2. 

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Referências bibliográficas

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