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Pediatria19 abril 2025

Ultrassonografia versus ressonância na avaliação da DII pediátrica

Estudo realizado na Nova Zelândia avaliou retrospectivamente 47 crianças com DII que realizaram ultrassonografia abdominal padrão no contexto diagnóstico entre 2019 e 2023
Por Jôbert Neves

A doença inflamatória intestinal (DII) pediátrica, que inclui a doença de Crohn (DC) e a retocolite ulcerativa (RCU), tem apresentado um crescimento significativo na sua prevalência em todo o mundo. O diagnóstico preciso, especialmente em crianças, exige uma abordagem complexa, combinando endoscopia digestiva alta e baixa com biópsias, além de métodos de imagem que permitam avaliar o intestino delgado — segmento frequentemente acometido na DC. A enterografia por ressonância magnética (ERM) é considerada o exame de imagem padrão-ouro para esse fim, por fornecer imagens detalhadas desse segmento sem exposição à radiação. No entanto, sua realização pode ser desafiadora em crianças, particularmente naquelas mais novas ou com limitações psicossociais, além de enfrentar restrições logísticas como disponibilidade e custo. 

Diante dessas limitações, a ultrassonografia (US) abdominal sem contraste vem sendo estudada como alternativa viável e segura. Neste contexto, um estudo realizado na Nova Zelândia, avaliou retrospectivamente 47 crianças com DII que realizaram ultrassonografia abdominal padrão no contexto diagnóstico entre 2019 e 2023. O objetivo foi comparar os achados do ultrassom com os de outros métodos diagnósticos, como ERM, endoscopia e histologia, e entender o papel da ultrassonografia na detecção do acometimento do intestino delgado. Dentre os resultados encontrados, destacam-se os seguintes: 

utilizando USG no diagnóstico de constipação

Aspectos epidemiológicos: 

  • 47 crianças com DII avaliadas com ultrassonografia no momento do diagnóstico (2019–2023); 
  • Idade média dos pacientes: 9,9 anos; 
  •  Sexo: 49% masculino e 51% feminino; 
  • Doença de Crohn: 42 casos (89%) 
  • A ultrassonografia foi utilizada principalmente quando a ERM não era viável (em 49% dos casos), por exemplo:

           – Crianças muito jovens (34%)

           – Barreiras de acesso geográfico (11%)

Achados da ultrassonografia: 

  • 19 crianças (40%) tiveram achados anormais na US indicando acometimento do intestino delgado.
  • O íleo terminal (IT) foi a área mais frequentemente afetada (75% dos casos com US positiva).
  • Espessamento da parede intestinal (EPI) foi encontrado em 100% dos casos com US positiva.
  • Outras alterações observadas:
  • Inflamação contínua (89%)
  • Hiperemia (32%)
  • Diminuição/ausência de peristalse (21%)
  • Alterações mesentéricas (26%)
  • Dilatação proximal (16%)
  • Um caso com fleimão
  • 14 crianças (30%) não apresentaram doença detectável por nenhum dos métodos (US, ERM, endoscopia, histologia).
  • A ultrassonografia identificou doença do intestino delgado em 7 crianças (15%) que não foi detectada por ERM, endoscopia ou histologia, mostrando possível papel complementar.
  • Em contrapartida, 14 crianças (30%) com doença confirmada por outros métodos não tiveram alterações na ultrassonografia, evidenciando suas limitações em determinadas localizações anatômicas.
  • A presença de doença na US foi associada a maior atividade inflamatória sistêmica:
  • Maior PCR, VHS e calprotectina fecal (embora nem sempre com significância estatística).
  • Escores de atividade clínica mais elevados. 

Veja também: Dor abdominal após diagnóstico de doença inflamatória intestinal

Conclusão e mensagem prática  

O US é um método útil, acessível e não invasivo para a avaliação inicial da DII em crianças, especialmente em locais ou situações onde a ERM não pode ser realizada.  Apesar disso, no Brasil o US intestinal não está amplamente disponível para pacientes pediátricos com DII por diversos fatores, com destaque para escassez de centros de treinamento para realização de US intestinal nesses pacientes. Dentre as mensagens práticas, temos que o US intestinal na DII: 

  • Pode detectar alterações importantes no intestino delgado, principalmente no íleo terminal, mesmo quando outros exames falham.
  • É bem tolerada, não exige contraste e pode ser realizada de forma repetida, o que é importante no acompanhamento pediátrico.
  • Possui algumas limitações que incluem menor sensibilidade para regiões como o duodeno e jejuno, e ausência de padronização de medidas como a espessura da parede.
  • O US não deve substituir os exames endoscópicos e a ERM, mas pode complementar a abordagem diagnóstica, principalmente em crianças pequenas e em locais com recursos limitados.

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