Atualmente, faltam dados de alta qualidade sobre o uso de dexmedetomidina para sedação prolongada e um consenso sobre protocolos corretos de dosagem e desmame em crianças em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP). Todavia, a infusão de dexmedetomidina pode ser considerada relativamente segura em pediatria, mesmo em períodos superiores a 24 horas. Essas são as conclusões do estudo Dexmedetomidine for Prolonged Sedation in the PICU: A Systematic Review and Meta-Analysis, de Daverio e colaboradores, publicado no jornal Pediatric Critical Care Medicine.
Os pesquisadores realizaram uma revisão sistemática de estudos que relatam o uso da dexmedetomidina para sedação prolongada em pacientes pediátricos com idade igual ou inferior a 18 anos. Além disso, conduziram uma meta-análise da taxa de prevalência dos efeitos colaterais cardiovasculares mais comuns da dexmedetomidina. O estudo foi feito de acordo com as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA).
Dados dos estudos
- Foram identificados 32 estudos, incluindo um total de 3.267 pacientes;
- A maioria dos estudos foi realizada em centro único (91%);
- Oitenta e oito por cento dos estudos foram retrospectivos;
- Somente um estudo foi conduzido de forma randomizada;
- As indicações para o uso de dexmedetomidina foram relatadas em 28 estudos (88%). As mais frequentes foram: medicamento adjuvante para poupar outros medicamentos (11/ 28, 39%), medicamento de primeira linha para sedação (10/28, 36%), falha nos medicamentos de primeira linha para sedação (8/28, 29%), facilitação para extubação (6/28, 21%), adjuvante para desmame analgésico e sedativo (5/28, 18%) e adjuvante para tratamento de síndrome de abstinência (2/28, 7%);
- O uso de uma escala para monitorar o nível de sedação foi relatado em 16 dos 32 estudos (50%). Foram usadas escalas validadas em 11 dos 16: State Behavioral Scale (4 estudos), Comfort Behavioral Scale (2 estudos), Richmond Agitation-Sedation Scale (2 estudos), Ramsay Sedation Scale (2 estudos), Riker Sedation-Agitation Scale (1 estudo) e escalas locais/internas (5 estudos);
- O uso de escala validada para avaliação de abstinência foi relatado em três dos 32 estudos (9%) (Withdrawal Assessment Tool 1);
- Houve falta de consistência nas dosagens e protocolos de desmame. As dosagens mínimas e máximas de infusão contínua variaram de 0,1 a 0,5 µg/kg/hora a 0,3-2,5 µg/kg/hora, respectivamente. O intervalo de duração média/mediana foi de 25-540 horas. O uso de dose de ataque foi relatado em oito estudos (25%) (variação de 0,5-1 µg/kg). O método de desmame foi relatado em 11 estudos (34%). O tempo de desmame foi relatado em seis desses 11 estudos (55%; variação de 9-96 horas);
- Os efeitos colaterais mais relatados foram bradicardia e hipotensão. Todavia, foram relativamente raros, mesmo em idades mais jovens, e pareciam ser facilmente reversíveis com intervenções simples. A prevalência combinada de bradicardia foi de 2,6% [n = 10 estudos; 14/387 pacientes; Intervalo de confiança de 95% (IC 95%), 0,3–7,3; I2 = 75%)]. A incidência total de hipotensão foi de 6,1% (n = 8 estudos; 19/304 pacientes; IC95%: 0,8–15,9; I2 = 84%). Três estudos (9%) relataram o tempo de início dos efeitos colaterais que, em todos os casos, ocorreu 12 horas após o início da infusão.
Conclusão
Os pesquisadores concluíram que, apesar da escassez de dados de alta qualidade sobre o uso da dexmedetomidina para sedação prolongada em crianças em UTIP, no geral as infusões podem ser consideradas relativamente seguras na idade pediátrica, mesmo quando administradas por período superior a 24 horas. As indicações relatadas foram variáveis, sugerindo uma alta potencialidade dessa droga como agente de infusão prolongada.
Referências bibliográficas:
- Daverio M, et al. Dexmedetomidine for Prolonged Sedation in the PICU: A Systematic Review and Meta-Analysis. Pediatr Crit Care Med, 2020. doi:10.1097/PCC.0000000000002325
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