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Pediatria23 abril 2024

Efeitos da frenectomia em lactentes na amamentação: resultados de nova revisão

O acompanhamento de bebês submetidos à frenectomia ou outras intervenções é necessário para avaliar o impacto nos desfechos da amamentação.

Os frênulos lingual (anquiloglossia), labial e bucal são condições congênitas que envolvem freios orais anormalmente curtos ou tensos e que podem restringir o movimento anatômico natural da cavidade oral. Embora a “língua presa” seja a mais conhecida dessas condições, os frênulos labiais e na bochecha têm ganhado cada vez mais atenção nos últimos anos devido ao seu impacto potencial na amamentação, na fala e na saúde bucal. No entanto, pesquisas acerca do tema são limitadas, mas têm sido conduzidas para compreender seus efeitos e manejo.  

Para compilar as melhores práticas estudadas até o momento, pesquisadores do Boston University Chobanian and Avedisian School of Medicine realizaram o estudo The effect of frenectomy for tongue-tie, lip-tie, or cheek-tie on breastfeeding outcomes: A systematic review of articles over time and suggestions for management, publicado recentemente no International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology. 

Definições 

  • Anquiloglossia: condição na qual o frênulo lingual é curto, espesso ou incomumente tenso, podendo restringir o movimento da língua em vários graus. Tem sido associada a várias dificuldades funcionais, incluindo a amamentação, hábitos anormais de deglutição, problemas de articulação da fala, alterações mecânicas, como a incapacidade de limpar a cavidade oral, e estresse emocional; 
  • Frênulo labial (lip-tie): conexão anormalmente curta entre o lábio superior e a superfície anterior da gengiva maxilar (acredita-se que esse tipo possa ter impacto negativo na amamentação devido à dificuldade de flangear o lábio superior, o que resulta em má pega e amamentação ineficiente ou dolorosa); 
  • Frênulo na bochecha ou bucal (cheek-tie): conceito mais recente descrito oficialmente pela primeira vez na declaração de consenso da 2020 Academy of Otolaryngology – Head and Neck Surgery (AAO-HNS), mas com referências em blogs de maternidade ao longo da década de 2010. Consiste em um frênulo maxilar tenso ou restritivo, que é uma pequena dobra de tecido conjuntivo localizada entre a mucosa bucal e a gengiva maxilar, normalmente encontrada entre os caninos e pré-molares. É, certamente, o frênulo anormal relatado mais novo dos três e há conhecimento ou relatos muito limitados sobre seu impacto na amamentação. 

Saiba mais: Apendicite em lactentes e pré-escolares

Efeitos da frenectomia em lactentes na amamentação: resultados de nova revisão

Efeitos da frenectomia em lactentes na amamentação: resultados de nova revisão

Métodos 

Seguindo as diretrizes PRISMA, foi conduzida uma revisão sistemática com pesquisa abrangente no MEDLINE para analisar a tendência nas publicações dessas três condições e seu impacto na amamentação de 1987 a 2022. Os pesquisadores incluíram as palavras-chave: “tongue-tie”, “lip-tie”, “cheek-tie”, e “breastfeeding outcomes”. Artigos repetidos foram removidos. Foram incluídos 263 artigos restantes quanto à relevância para o tópico por título e resumo. 

Resultados 

A revisão mostrou que as publicações acerca do efeito da anquiloglossia na amamentação aumentaram exponencialmente ao longo do tempo, enquanto menos foco foi dado aos outros frênulos orais. A maioria dos estudos que descreve somente a anquiloglossia ou o frênulo labial eram editoriais, comentários, perspectivas ou declarações de consenso. Por fim, artigos que relataram mais de um frênulo anormal tinham maior probabilidade de serem citados e os artigos que abordaram apenas a anquiloglossia foram publicados nas revistas com maior fator de impacto. 

Recomendações 

Sugestões para diagnóstico e tratamento de frênulos anormais: 

  1. Estabelecimento de critérios de diagnóstico padronizados: Atualmente, não há consenso sobre um sistema de classificação recomendado e preferido para frênulos anormais. Uma diretriz seria benéfica para garantir um diagnóstico consistente e preciso entre os profissionais de saúde e ajudaria a distinguir entre variações normais e condições patológicas.   
  2. Melhores práticas de rastreio: A implementação de rastreios de rotina em neonatos pode facilitar a identificação e intervenção precoces, se necessário. Isto exigiria formação de profissionais de saúde no reconhecimento dos sinais e sintomas de frênulos anormais. A identificação precoce e o acompanhamento atento permitirão que os profissionais corrijam o frênulo anormal antes que problemas se desenvolvam na criança; 
  3. Abordagem multidisciplinar: A colaboração entre diferentes especialidades pode garantir avaliação e manejo abrangentes de bebês com estas condições, podendo levar a uma compreensão mais holística, analisando seu impacto na amamentação, alimentação e desenvolvimento da fala; 
  4. Manejo baseado em evidências: O manejo atual deve ser feito caso a caso, com consideração cuidadosa da idade do paciente, da gravidade do frênulo anormal, de quaisquer restrições atuais que afetem a criança, da probabilidade de impacto futuro no desenvolvimento da fala e do potencial de riscos do procedimento. Mais pesquisas sobre frênulos anormais podem nos fornecer evidências mais fortes sobre os benefícios e riscos dessas intervenções, auxiliando na tomada de decisões clínicas. Embora escassos, o estudo sugere que os profissionais revisem a literatura existente e utilizem quaisquer evidências disponíveis para orientar a tomada de decisões; 
  5. Desenvolvimento de consenso: Organizações profissionais, como a AAO-HNS devem revisar e atualizar regularmente suas declarações de consenso com base na evolução das evidências, garantindo que os profissionais de saúde tenham acesso às recomendações mais atualizadas para diagnóstico e tratamento; 
  6. Educação e apoio dos pais: É essencial discutir os benefícios e riscos de diferentes opções de manejo, abordar as preocupações dos pais e informá-los sobre potenciais complicações; 
  7. Acompanhamento de longo prazo: O acompanhamento de bebês submetidos à frenectomia ou outras intervenções é necessário para avaliar o impacto nos desfechos da amamentação, no desenvolvimento da fala e em outros fatores relevantes. Isto contribuiria para uma melhor compreensão dos efeitos em longo prazo das intervenções dos frênulos lingual, labial e bucal, área especialmente carente na literatura atual. 

 Leia também: Antibioticoprofilaxia previne ITU em lactentes com refluxo vesicoureteral?

Comentários 

No Brasil, a realização do “teste da linguinha” (que avalia o frênulo lingual) é obrigatória desde 2014 no neonato ainda na maternidade. Em nota técnica, o Ministério da Saúde declara que “A avaliação do frênulo lingual faz parte do exame físico do recém-nascido, no entanto, para fins do cumprimento da Lei nº 13.002 de 20 de junho de 2014, que impõe a aplicação de um protocolo de avaliação do frênulo lingual, com base nas evidências científicas disponíveis, recomenda-se a utilização do Protocolo Bristol (Bristol Tongue Assessment Tool) por profissional capacitado da equipe de saúde que atenda o binômio mãe e recém-nascido na maternidade”. 

Em guia de atualização de 2023, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) ressaltou que “o diagnóstico de anquiloglossia não deve ser baseado apenas na aparência anatômica, mas sim no histórico de caso completo, na avaliação funcional objetiva da função da língua a partir de um critério diagnóstico, bem como na avaliação completa dos aspectos funcionais (ex. amamentação para a faixa etária de lactentes) afetados pela suspeita de anquiloglossia realizados por um profissional qualificado (odontólogo e/ou fonoaudiólogo)”. 

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Referências bibliográficas

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