MIRM: um diagnóstico diferencial da síndrome de Stevens-Johnson
O MIRM é uma doença pouco conhecida, o que dificulta seu diagnóstico, tratamento e pode expor o paciente complicações.
A entidade clínica MIRM (Mycoplasma pneumoniae-induced rash and mucositis) surgiu em 2015 com o objetivo de se definir uma nova doença enquanto o entendimento na época era de que se tratava de uma forma atípica de síndrome de Stevens-Johnson.
A doença é causada a partir da infecção pela bactéria Mycoplasma pneumoniae, que gera uma erupção cutânea associada a mucosite importante, uma manifestação clínica muito associada à síndrome de Stevens-Johnson. Neste artigo, discutiremos a epidemiologia, manifestações clínicas e o tratamento da MIRM.
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Epidemiologia
A infecção pulmonar por Mycoplasma pneumoniae é relativamente comum em crianças e adultos, sendo causa de 3-10% das pneumonias adquiridas na comunidade (PAC). Por outro lado, o MIRM parece ocorrer em uma frequência menor, com apenas pequenos grupos de casos relatados na literatura. Aproximadamente 30% dos pacientes com infecção por M. pneumoniae apresentam manifestações extrapulmonares, sendo o MIRM uma das mais raras.
Manifestações Clínicas
As lesões cutâneas e mucosas são as principais manifestações clínicas do MIRM (Figura 1). Embora a descrição inicial da doença sugerisse discreto acometimento de pele em comparação com o envolvimento de mucosas, hoje se sabe que, em uma minoria dos casos, pode haver erupção cutânea disseminada. As lesões cutâneas podem ser vesicobolhosas, em forma de alvo, papulares, maculares ou mesmo morbiliformes.
As lesões mucosas são extremamente dolorosas e afetam principalmente a boca e os olhos. Os sintomas clínicos podem ser divididos em três fases: uma primeira fase prodrômica, em que o paciente apresenta sintomas inespecíficos; uma segunda fase de erupção cutânea e mucosa, e uma terceira fase de cicatrização. Outros sintomas, como febre e artralgia, podem estar presentes e são mais comuns em crianças e adolescentes.
Diagnóstico
Não há exames específicos para o diagnóstico de MIRM, sendo o mesmo essencialmente clínico a partir da presença de sinais e sintomas compatíveis com a doença e da confirmação da infecção pela bactéria, geralmente através de PCR ou sorologia.
Tratamento
O tratamento para o MIRM consiste em uma abordagem multidisciplinar e se inicia do suporte clínico geral, incluindo analgesia, cuidados com olhos, boca e região urogenital a fim de evitar complicações nesses órgãos, além de manejo nutricional e cuidados com a pele. Quando as manifestações cutâneas são extensas, o paciente se comporta como um grande queimado, sendo imprescindível cuidados para garantir adequado equilíbrio hidroeletrolítico.
O uso de terapias imunomoduladoras, como corticosteroides, imunoglobulinas intravenosas (IVIG) e/ou plasmaferese é controverso, embora não haja consenso sobre o tratamento da doença. O uso de antibiótico contra M. pneumoniae (geralmente macrolídeos) é considerado adjuvante, estando preconizado em caso de achados clínicos, laboratoriais ou radiológicos de pneumonia atípica.
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Comentários
O MIRM é uma doença pouco conhecida, o que dificulta seu diagnóstico, retarda o tratamento e pode expor o paciente a medicamentos desnecessários com risco de complicações. Por isso, é importante que a doença esteja entre os diagnósticos diferenciais de síndrome de Stevens-Johnson, especialmente nos casos em que há acometimento importante de mucosas, a grande marca da doença.
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