Relação entre ceratose actínica e lesões malignas da pálpebra
A ceratose actínica é uma neoplasia intraepitelial formada por diferenciação atípica e proliferação de queratinócitos, induzida principalmente por radiação ultravioleta.
A ceratose actínica (CA), senil ou solar é uma lesão cutânea crônica e benigna foto induzida frequentemente observada em adultos. Ocorre em áreas da pele danificadas pelo sol e é um dos sinais de envelhecimento da pele. A prevalência é maior em homens (até 34%) e aumenta com a idade.
A maioria das lesões são pápulas ou placas de crescimento lento, < 1 cm de diâmetro, secas, eritematosas, pigmentadas com telangiectasias e frequentemente cobertas por escamas aderentes e ocorrem em locais cronicamente expostos ao sol. Como a ceratose actínica e o carcinoma de células escamosas (CCE) têm perfis de expressão genética semelhantes, a ceratose não tratada pode evoluir para CCE em alguns pacientes. A CA também é um marcador de risco de carcinoma basocelular (CBC) e melanoma. As lesões que se apresentam clinicamente ativas devem ser investigadas e tratadas.
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Novo estudo
Um artigo publicado nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia avaliou pacientes com suspeita de malignidade palpebral, realizando biópsia por punch de 2 mm e, em seguida, comparando os resultados com os do estudo histopatológico da peça cirúrgica excisada com margens livres por meio de análise por congelação.
Métodos
Neste estudo, tentou-se estabelecer relações entre CA palpebral e lesões malignas e determinar a eficácia da biópsia por punção de 2 mm como método diagnóstico para obter melhor diagnóstico, tratamento e acompanhamento. Foram avaliados pacientes com suspeita de malignidade na pálpebra do serviço de oculoplástica do departamento de Oftalmologia do hospital da USP.
Resultados
Foram analisadas 174 lesões das quais 50 tinham um componente de ceratose actínica ou eram isoladas ou associadas com neoplasia na biópsia ou cirurgia. A média de idade dos 50 pacientes com componente CA foi de 67,18 anos. Dos pacientes, metade era do sexo feminino e metade do sexo masculino. A duração média da doença foi de 2,30 anos, e o diâmetro médio e a área da lesão foram de 10,30 mm e 65,09 mm2, respectivamente. Quanto aos fototipos de pele, 88% dos pacientes apresentavam tipos de pele Fitzpatrick 1-3.
O local mais comum foi a pálpebra inferior (84%). Dos locais, a pálpebra superior e o canto medial corresponderam a 8% cada. A análise estatística revelou que as variáveis quantitativas e qualitativas não apresentaram diferenças significativas entre os dois grupos (CA com malignidade associada e CA isolada). Os valores de p para idade, duração da doença, maior diâmetro e área do tumor foram 0,39, 0,88, 0,63 e 0,23, respectivamente. Quanto às variáveis qualitativas, o valor de p foi de 0,70 para a classificação de Fitzpatrick, 0,77 para sexo, 0,28 para localização do tumor e 0,57 para envolvimento da margem palpebral.
Quanto ao diagnóstico correto de CA isolada pela biópsia por punch de 2 mm em dois locais, a sensibilidade foi de 95,24% e a especificidade de 24,14%, com acurácia de 54% (intervalo de confiança de 95%: 0,3932-0,6819) e coeficiente Kappa de 0,1703. O VPP e o VPN foram de 47,62% e 87,5%, respectivamente. CA foi associada a CEC em 22% dos casos e a CBC em 38%, indicando que ambas as neoplasias podem ter CA contíguas.
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Considerações
A exposição crônica ao sol e as queimaduras solares são os fatores de risco mais importantes. Os fatores de risco secundários são idade avançada, sexo masculino, local de nascimento com maior índice de radiação ultravioleta, etnia caucasiana, história de neoplasias cutâneas prévias, transplante de órgãos, imunossupressão, ocupação ao ar livre e fototipos claros. Algumas características da CA indicam que ela deve ser tratada assim que diagnosticada. As combinações de fatores predisponentes para CA, CBC e CCE são semelhantes. CA tem um risco cumulativo de 5%-20% para evoluir para CCE. CA não tratada pode evoluir para CCE em 8%-20% dos pacientes, e estima-se que 27%-82% dos CCE evoluam de CA anterior.
Conclusão
Por todos esses motivos, a ceratose actínica (CA) é considerada uma lesão pré maligna. A CA constitui importante causa de consulta médica com dermatologistas. Os pacientes com CA geralmente apresentam lesões múltiplas, sendo os locais mais cronicamente expostos ao sol: a face, o pescoço, o tórax, o dorso das mãos, os ombros e o couro cabeludo. Doze meses após o tratamento, 25%-75% dos pacientes podem necessitar de retratamento, dependendo do tratamento anterior. A recorrência pode resultar da eliminação incompleta da lesão, progressão de lesões subclínicas para o estado clínico e desenvolvimento de novas lesões.
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