O Helicobacter pylori é considerado um carcinógeno do grupo I, sendo fator de risco conhecido para câncer gástrico, sendo a taxa de incidência global de câncer atribuível à infecção por H. pylori mais elevada no leste asiático, atingindo 17,6 casos por 100 mil pessoas-ano. Estratégias de diagnóstico e erradicação de H. pylori individualizadas são recomendadas no controle do câncer gástrico.
Outro fator importante na prevenção do câncer gástrico é a avaliação de variações genéticas, como o gene CDH1, associado ao risco de câncer gástrico difuso hereditário. Recentemente foi descoberto que variantes BRCA1 e BRCA2 nos genes de recombinação homóloga 7 também estão associados ao aumento dessa neoplasia.
Já foi demonstrado previamente que a erradicação do H. pylori reduz a incidência de câncer gástrico, mesmo em pessoas com história familiar de primeiro grau desse câncer. Todavia, ainda não estava clara a relação gene-ambiente, visto que familiares compartilham ambos os fatores.
A NEJM recentemente publicou um estudo avaliando a associação entre variantes genéticas associadas ao câncer e o risco de câncer gástrico e, em seguida, avaliaram o efeito combinado dessas variantes e o status de infecção por H. pylori.
Métodos do estudo sobre variações genéticas e H. pylori
- Avaliação entre variações genéticas patogênicas em 27 genes associados ao risco de câncer gástrico em uma amostra de 10.426 pacientes com câncer gástrico e 38.153 controles, obtidos através de dados de uma coorte do BioBank Japan.
- Avaliação do efeito combinado das variações genétricas de risco e a infecção pelo pylori no risco cumulativo de câncer gástrico, calculado em 1.433 pacientes com câncer gástrico e 5.997 controles do Programa de Pesquisa Epidemiológica Hospitalar do Aichi Cancer Center (HERPACC).
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Resultados
Na coorte do BioBank Japan, a idade média foi 69 anos entre os pacientes com câncer gástrico e 64 anos no grupo controle. Já entre os pacientes do HERPACC, a média de idade foi 62 anos entre os pacientes com câncer gástrico e 55 anos entre os controles. A maioria dos pacientes foi do sexo masculino.
As variantes patogênicas associadas ao risco de câncer gástrico foram identificadas em nove genes (APC, ATM, BRCA1, BRCA2, CDH1, MLH1, MSH2, MSH6 e PALB2). Além disso, foi possível observar uma interação entre infecção por H. pylori e essas variantes de recombinação homóloga com relação ao risco de câncer gástrico na amostra de HERPACC, levando a aumento de risco relativo devido à essa combinação de fatores (Aumento de risco relativo 16,01; IC 95% 2,22 para 29,81; P=0,02).
Além disso, em pacientes mais idosos (acima de 85 anos de idade), foi observado maior risco cumulativo de câncer gástrico em pessoas com variações genéticas concomitante à infecção por H pylori do que em pessoas apenas com variações genéticas (RR 45,5% [IC 95% 20,7 a 62,6] vs. 14,4% [IC 95% 12,2 a 16,6]).
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Mensagens práticas sobre risco de câncer e H. pylori
O presente estudo concluiu que pessoas com variações genéticas patogênicas apresentam maior risco de câncer gástrico na concomitância de infecção por H. pylori.
Todavia, esse estudo apresenta limitações, como:
- Trata-se de estudo retrospectivo;
- A análise genética avaliou apenas variantes de nucleotídeos, não incluindo alterações genéticas menores;
- O estudo foi realizado apenas com dados do leste asiático.
É importante ressaltar que na prática clínica devemos testar e tratar o H. pylori nos familiares de 1º grau de pacientes com câncer gástrico, além de quando possível, encaminhá-los para avaliação com oncogeneticista.
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