Os corticosteroides têm sido usados há muitos anos como parte do tratamento da laringite aguda nos departamentos de emergência (DE) e têm demonstrado diminuir significativamente a taxa e o tempo de internação, o retorno ao DE, a necessidade de intubação endotraqueal e a internação em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP).
Embora diferentes vias de administração de corticoides tenham sido utilizadas, incluindo as vias inalatória (IN), intramuscular (IM) e intravenosa (IV), a via oral (VO) tem muitas vantagens e é a preferida em muitos centros.
Dexametasona vs prednisolona no tratamento da laringite
Embora estudos iniciais tenham revelado que a dexametasona IM na dose de 0,6 mg/kg seja segura e eficaz, estudos subsequentes revelaram eficácia da dexametasona VO.
Diferenças de dose
Existem evidências de que doses menores do fármaco (0,15 e 0,3 mg/kg VO) podem ser igualmente eficazes e, inclusive, a dose mais baixa de 0,15 mg/kg tem sido aceita e implementada em alguns centros.
Infelizmente, os estudos sobre o uso dos corticoides são limitados. No entanto, Parker e Cooper (2019), por exemplo, referem que uma dose mais baixa é utilizada há décadas na instituição onde trabalham em Perth, Austrália. Os autores relatam que não há aumento na taxa de intubação ou admissão em UTIP com o uso de uma dose de 0,15 mg/kg.
Uso da prednisolona
A eficácia comprovada da prednisolona em uma dose de 1,0 mg/kg VO para tratamento da laringite em pacientes intubados sugere que esta dose, equivalente à de dexametasona (± 0,15 mg/kg) deve ser igualmente eficaz.
A prednisolona (1,0 mg/kg) parece reduzir o tempo para extubação em crianças em UTIP com laringite. Muitos departamentos de emergência usam prednisolona VO para o tratamento da laringite como uma alternativa mais facilmente disponível do que a dexametasona. Contudo, o tipo de corticoide e sua respectiva dose dependem, em grande parte, da localização geográfica, porque diferentes centros preferencialmente administram drogas e doses diferentes.
Estudo comparativo Parker e Cooper (2019)
Apesar do uso generalizado da dexametasona ou da prednisolona VO em doses baixas no tratamento da laringite infantil, há poucos estudos que comprovem suas eficácias. Dessa forma, Parker e Cooper (2019) realizaram o estudo Prednisolone Versus Dexamethasone for Croup: a Randomized Controlled Trial, publicado na edição de setembro da revista Pediatrics, da Academia Americana de Pediatria.
Neste estudo, Parker e Cooper (2019) compararam o uso de dexametasona na dose de 0,6 mg/kg (padrão-ouro, baseado em evidências) com dois tratamentos alternativos: o uso de dexametasona em dose mais baixa (0,15 mg/kg) e prednisolona (1,0 mg/kg). As doses comparadas foram todas por VO.
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Metodologia do estudo
Foi realizado um estudo prospectivo, randomizado, duplo-cego e controlado por não inferioridade, em um departamento de emergência pediátrica terciária e um departamento de emergência de um distrito urbano em Perth, Austrália. Foram incluídos: pacientes com idade acima de 6 meses, peso máximo de 20 kg, contactáveis por telefone e cujos cuidadores eram nativos de língua inglesa.
Os critérios de exclusão foram: alergia à prednisolona ou dexametasona, pacientes com doença imunossupressora ou em uso de tratamento imunossupressor, pacientes em terapia com corticosteroides ou previamente inscritos no estudo em um período de 14 dias, e alta suspeita clínica de um diagnóstico alternativo.
Grupos de tratamento
Um total de 1252 participantes foram inscritos e designados aleatoriamente para receber dexametasona (0,6 mg/kg; n = 410), dexametasona em dose baixa (0,15 mg/kg; n = 410) ou prednisolona (1,0 mg/kg; n = 411). As medidas de desfecho primário incluíram o escore Westley Croup uma hora após o tratamento e o retorno médico não programado em sete dias após início do tratamento.
Desfechos analisados
O escore médio Westley Croup no início do estudo foi de 1,4 para dexametasona, 1,5 para dexametasona em dose baixa e 1,5 para prednisolona. A diferença ajustada nos escores em uma hora, em comparação com a dexametasona, foi de 0,03 [intervalo de confiança (IC) de 95%: 20,09-0,15] para dexametasona em baixa dose e de 0,05 (IC 95% 20,07-0,17) para prednisolona. As taxas de recorrência foram de 17,8% para dexametasona, 19,5% para doses baixas de dexametasona e 21,7% para prednisolona [não significante (P = 0,59 e 0,19)].
Afinal, qual corticoide usar no tratamento da laringite?
Neste estudo, Parker e Cooper (2019) concluíram que os corticosteroides por VO constituem um tratamento eficaz da laringite em crianças e que o tipo de corticosteroide parece não ter um impacto clinicamente significativo na eficácia, tanto de forma aguda quanto durante a semana após o início do tratamento. Portanto, a não inferioridade foi demonstrada para doses baixas de dexametasona e de prednisolona.
Os autores destacam que crianças tratadas com prednisolona têm, inicialmente, maior probabilidade de exigir doses adicionais para cobrir a duração da doença.
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda o uso de dexametasona por ser um potente glicocorticoide e ter longo período de ação (superior a 48 horas). A SBP ressalta que a dexametasona pode ser administrada tanto por VO quanto parenteral em dose única, variando de 0,15 mg/kg (no caso de laringite leve) até 0,6 mg/kg (laringite grave).
*Este conteúdo foi atualizado em: 22/09/2025 pela equipe editorial do Portal Afya.
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