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Infectologia6 março 2024

Crupe: o que precisamos saber sobre essa doença infecciosa?

O diagnóstico de crupe é clínico, baseado na anamnese e progressão do quadro clínico. Exames radiológicos são considerados desnecessários, mas podem ser auxiliar
O crupe é uma doença infecciosa aguda, muito relacionada à idade, que afeta principalmente crianças de 6 meses a 3 anos de idade. É o resultado de um processo inflamatório – bacteriano ou viral – do trato respiratório superior, mas que pode acometer também porções o trato respiratório inferior, podendo gerar quadros que variam de laringite a laringotraqueobronquite.  Vejamos os principais pontos a respeito da doença. 

Epidemiologia e etiologia 

O desenvolvimento de crupe é um evento comum, com um caráter autolimitado e que normalmente não exige internação. Estima-se que 10 a 16% de todas as crianças apresentam pelo menos um episódio durante a vida, com 5% desenvolvendo crupe recorrente, caracterizado por 3 ou mais episódios, mas dados de países fora de regiões da América do Norte e Europa são muito escassos.  O pico de incidência ocorre durante o segundo ano de vida, principalmente entre as idades de 3 meses a 3 anos. Casos em crianças mais velhas já foram descritas e o quadro raramente é visto em adultos. Os padrões epidemiológicos refletem o padrão sazonal dos principais agentes etiológicos.  A maior parte dos casos tem etiologia viral, com o vírus Parainfluenza 1 sendo o principal implicado, com estimativas de associação em 25 a 33% dos casos. O vírus Parainfluenza 3 é considerado o segundo mais frequente, sendo responsável por 6 a 10% dos casos. Outros vírus respiratórios também estão associados a quadros de crupe, embora com menor frequência, destacando-se vírus sincicial respiratório, Influenza A e B, adenovírus, rinovírus e enterovírus. Crianças com sarampo também podem desenvolver crupe como complicação. Ocasionalmente, infecções por Mycoplasma pneumoniae podem levar a quadros de crupe. 

Quadro clínico 

A maioria das crianças apresenta um pródromo de sintomas respiratórios leves, como rinorreia, tosse seca e eventualmente febre baixa que podem anteceder os sintomas característicos em 12 a 48h. A principal manifestação de crupe, contudo, é o desenvolvimento de tosse e rouquidão, culminando em estridor respiratório, tipicamente noturno. O estridor pode ser acompanhado de retração muscular, principalmente nas áreas supraclavicular e supraesternal. A tosse é classicamente descrita como semelhante a um latido ou a som de foca. Taquipneia leve pode estar presente, mas normalmente é menos pronunciada do que em casos de bronquiolite.  Um subgrupo de crianças desenvolve um quadro conhecido como crupe espasmódico, caracterizado pela ausência de sintomas de pródromo e de febre. Os sintomas tipicamente se iniciam abruptamente à noite, com melhora durante o dia. As crianças com crupe espasmódico tendem a ter sintomas mais transitórios, mas que podem se tornar recorrentes.  Em casos mais graves, a inflamação pode levar a quadros mais intensos de obstrução das vias aéreas. Crianças menores de 6 meses de idade, com estridor em repouso ou com alteração do nível de consciência e a presença de hipercapnia indicam risco para desenvolvimento de insuficiência respiratória. O desenvolvimento de hipóxia ocorre tardiamente, sendo considerado um sinal de doença avançada e falência respiratória iminente.  Diversos escores clínicos foram desenvolvidos para avaliação e estratificação de casos de crupe e estridor. O escore de Westley, apresentado abaixo, é um dos mais utilizados e validados, podendo ser usado para classificação de gravidade. 

Escore de Westley 

Sinais e sintomas Pontuação 
Estridor Ausente = 0  Com agitação = 1  Em repouso = 2 
Retrações musculares Ausente = 0  Leve = 1  Moderado = 2  Grave = 3 
Cianose Ausente = 0  Com agitação = 4  Em repouso = 5 
Nível de consciência Normal = 0  Desorientado = 5 
Entrada de ar Normal = 0  Diminuída = 1  Acentuadamente diminuída = 2 
 

Classificação de gravidade 

Classificação Sinais e sintomas Pontuação no escore de Westley 
Leve Tosse ocasional, rouquidão, sem estridor em repouso, sem retrações ou retrações musculares leves 0 – 2 
Moderado Tosse frequente, estridor facilmente audível em repouso, retrações musculares em repouso, sem agitação 3 – 5 
Grave Tosse frequente, estridor inspiratório proeminente e, ocasionalmente, estridor expiratório, retrações musculares acentuadas, diminuição da entrada de ar, agitação significativa 6 - 11 
Insuficiência respiratória iminente Tosse, estridor audível em repouso, retrações musculares da parede torácica, letargia ou diminuição do nível de consciência >11 
 

 Diagnósticos diferenciais 

O diagnóstico de crupe é clínico, baseado na anamnese e progressão do quadro clínico. Exames radiológicos são considerados desnecessários, mas podem ser utilizados na investigação de outros diagnósticos.  O principal diagnóstico diferencial é traqueíte e epiglotite bacterianas agudas, que podem ser doenças graves e rapidamente progressivas. As crianças acometidas costumam apresentar-se com aspecto toxêmico, com febre alta, podendo desenvolver disfagia, dispneia e escarro purulento. Tosse típica e rouquidão normalmente estão ausentes nesses casos. Na suspeita de doença bacteriana, é necessário que a criança seja adequadamente avaliada, uma vez que se configuram emergências pediátricas.  Obstrução mecânica de vias aéreas, como em casos de aspiração de corpo estranho, traumas de vias aéreas superiores, edema angioneurótico e edema pulmonar em caso de obstrução de via aérea são outras condições que podem se apresentar com estridor e configuram possíveis diagnósticos diferenciais. 

Tratamento 

A maior parte dos indivíduos afetados se recupera em 3 a 4 dias, com melhora importante após 48 horas. Em alguns casos, entretanto, pode durar por até 14 dias. Necessidade de hospitalização e óbitos pela doença são infrequentes.  O objetivo principal do tratamento é manter a patência das vias aéreas e condutas específicas podem ser indicadas de acordo com a gravidade dos sintomas. Recomenda-se evitar a manipulação e realização de exames desnecessários, já que o choro pode aumentar a pressão torácica negativa e aumentar o colapso das vias aéreas extratorácicas e gerar um fluxo de ar turbulento, aumentando a resistência ao influxo de ar.  A administração de dexametasona – VO ou IM - em dose única se mostrou eficaz na redução de necessidade de hospitalização e na melhora dos sintomas em comparação com placebo. Resultados semelhantes foram encontrados com nebulização com budesonida em comparação com placebo. Não há evidências de benefício na associação de corticoides e nebulização com budesonida em comparação a uma ou outra terapia de forma isolada.  Em casos graves, pode ser necessária administração de adrenalina por via inalatória, que tem efeito rápido sobre os sintomas de estridor e obstrução. As indicações para seu uso são principalmente crupe moderado ou grave e crianças com procedimento ou manipulação prévias de via aérea superior. 

Tratamento de crupe 

Classificação Tratamento recomendado 
Leve Dexametasona 0,15-0,3mg/kg  Alta domiciliar 
Moderado Dexametasona 0,3-0,6mg/kg  OU  Budesonida inalatória 2mg  Nebulização com l-epinefrina 0,5ml/kg (dose máxima de 5ml)  Observação por 3-4 horas e alta domiciliar ou admissão hospitalar 
Grave Dexametasona 0,6mg/kg IM  Nebulização com l-epinefrina 0,5ml/kg (dose máxima de 5ml)  Admissão em unidade de terapia intensiva 
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Referências bibliográficas

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