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Pediatria26 abril 2025

Estudo canadense avalia os desfechos de crianças que apresentaram delirium em UTIP

Estudo teve por objetivo avaliar os efeitos do delirium dois meses após a alta da UTIP na qualidade de vida, sono, fadiga e sintomas de TEPT das crianças

Nos últimos anos, os avanços na medicina intensiva pediátrica reduziram significativamente a mortalidade entre crianças graves, especialmente aquelas com falência múltipla de órgãos. No entanto, muitos sobreviventes e suas famílias enfrentam desafios físicos, cognitivos, emocionais e sociais contínuos após a alta, conforme descrito na chamada síndrome pós-terapia intensiva em pediatria (Post Intensive Care Syndrome in Pediatrics – PICS-p).  

O delirium consiste em uma disfunção neurológica aguda que afeta cerca de 34% das crianças em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) e tem sido associado a piores desfechos clínicos, incluindo hospitalização prolongada e aumento da mortalidade. Apesar de sua prevalência, o seu monitoramento regular usando ferramentas validadas é implementado em apenas uma minoria de UTIP globalmente. Embora estudos com adultos tenham demonstrado que o delirium está associado a déficits cognitivos de longo prazo, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e diminuição da qualidade de vida, os dados em pediatria permanecem limitados. Alguns estudos relatam redução da qualidade de vida em crianças após a alta, embora a cognição em longo prazo possa ser preservada. É importante ressaltar que o impacto do delirium nos desfechos de saúde mental dos pais, como ansiedade e depressão, ainda não foi completamente investigado. O estudo canadense “Two months outcomes following delirium in the pediatric intensive care unit” foi publicado no European Journal of Pediatrics e teve como objetivo avaliar os efeitos do delirium dois meses após a alta da UTIP na qualidade de vida, sono, fadiga e sintomas de TEPT das crianças, assim como na ansiedade e depressão dos pais. 

Metodologia 

Foi conduzida uma análise post-hoc de um estudo prospectivo de um único centro no Canadá no período entre outubro de 2018 e agosto de 2022.  

Os critérios de inclusão foram: pacientes graves com menos de 18 anos de idade na admissão à UTIP que foram submetidos à ventilação mecânica (ventilação invasiva [VMI]) por ≥ 48 h ou não invasiva (VNI) por ≥ 96 h e foram acompanhados no ambulatório institucional de seguimento da UTIP CHU Sainte-Justine dois meses após a alta da UTIP. Foram excluídos pacientes com cardiopatias congênitas ou doenças oncológicas ativas.  

O delirium foi definido como uma ou mais pontuações ≥ 9 na escala Cornell Assessment of Pediatric Delirium (CAPD).  

Veja também: Análise retrospectiva avalia o uso de quetiapina no manejo de delirium em crianças

Resultados 

Foram incluídas 179 crianças, sendo que 117 (65,4%) apresentaram delirium, com uma duração mediana de três dias. Cento e cinco pacientes (58,7%) eram meninos. A mediana de idade no ambulatório de seguimento era de 1 ano. 

Os pacientes que tiveram delirium foram mais frequentemente intubados (91,5% vs. 30,7%, p < 0,001) e apresentaram escores PELOD-2 mais altos (10 vs. 4, p < 0,001).  

É interessante destacar que o delirium foi associado a uma diminuição da qualidade de vida  em 2,3 meses após a alta (p = 0,03) na análise multivariada. A gravidade do episódio de delirium avaliada por escores mais altos de CAPD foi associada a uma maior probabilidade de distúrbios do sono (odds ratio [OR] 1,13, p = 0,01) e ansiedade parental (OR 1,16, p = 0,01), além de menor qualidade de vida (p = 0,03). 

Conclusão 

Houve uma associação entre delirium durante doença crítica e efeitos adversos em crianças, mesmo dois meses após a alta da UTIP. O estudo também mostrou que a ocorrência de delirium durante a internação na UTIP foi associada a uma pior qualidade de vida também nesse período de dois meses após a alta da unidade. Ademais, a gravidade do episódio de delirium foi associada a problemas de sono em crianças e aumento da ansiedade parental.  

Comentários 

Cada vez mais, a avaliação de delirium tem mostrado sua relevância no contexto da terapia intensiva pediátrica, à medida que o assunto tem se tornado mais pesquisado e as evidências revelam a complexidade desse diagnóstico no curto e no longo prazo. O estudo mostrou que, de fato, há um enorme impacto que não se restringe ao período de internação na equipe, mas também atinge os pais. Destaco a necessidade de se manter um olhar cauteloso para esses pacientes e suas famílias. Além disso, reforça a necessidade de acompanhamento longitudinal desses pacientes no longo prazo, identificando precocemente as complicações, permitindo a adoção de medidas de reabilitação e promovendo o bem-estar desses indivíduos. 

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