A taxa de sobrevivência de bebês nascidos com 22 semanas de idade gestacional (IG) varia globalmente devido a diferentes abordagens nos cuidados centrados na sobrevivência e à falta de bases populacionais consistentes. Em 2019, a British Association of Perinatal Medicine revisou suas diretrizes, desenvolvendo uma nova estrutura de prática baseada em consenso, atualizando as orientações de 2008. Essa nova abordagem sugere que cuidados focados na sobrevivência podem ser oferecidos a bebês a partir de 22 semanas IG, após uma avaliação de risco e discussão com os pais. Essa mudança reflete práticas semelhantes nos Estados Unidos e práticas já estabelecidas na Suécia e no Japão.
Diante dessas alterações, Smith e colaboradores investigaram o impacto das recomendações clínicas nacionais ampliadas em 2019, que expandiram os cuidados a esses pacientes. Os resultados foram publicados na revista BMJ Medicine.

Metodologia
O estudo consistiu em uma coorte de base populacional na Inglaterra e no País de Gales, compreendendo dados de rotina para nascimentos e registros hospitalares. Foram incluídos bebês vivos no início do trabalho de parto com 22 semanas+0 dias a 22 semanas+6 dias e com 23 semanas+0 dias a 24 semanas+6 dias para fins de comparação no período entre 1º de janeiro de 2018 e 31 de dezembro de 2021. Os desfechos avaliados incluíram a percentagem de bebês que receberam cuidados centrados na sobrevivência (suporte respiratório ativo após o nascimento), internados em cuidados neonatais e que sobreviveram até à alta em 2018-19 e 2020-21.
Resultados
Foram avaliados 1.001 bebês nascidos com 22 semanas IG. Os resultados encontrados foram:
- 2020 a 2021: 38,4% dos bebês foram submetidos a cuidados centrados na sobrevivência, representando um aumento significativo em relação aos 11,3% registrados entre 2018 e 2019. Após a divulgação das orientações, a adoção desses cuidados para bebês nascidos com 22 semanas IG aumentou em 30,7% a cada 100 nascimentos, em comparação com o período anterior à implementação das orientações;
- Bebês nascidos com 22 semanas IG: aumento nas hospitalizações para cuidados neonatais em 2020-2021 em comparação ao período 2018-2019 (28,1% versus 7,4%). Outro ponto importante: os pesquisadores constataram que mais bebês sobreviveram até receber alta após a mudança nas orientações (8,2% versus 2,5%);
- Apesar do aumento na taxa de sobrevivência até a alta hospitalar, houve um maior número de óbitos entre os bebês em cuidados neonatais durante o período de 2020 a 2021 em comparação com 2018 a 2019 (95 versus 26 bebês);
- Houve um aumento na aplicação de cuidados centrados na sobrevivência, tanto para bebês com peso ao nascer inferior a 500 g (de 8% para 35%) quanto para aqueles com peso mínimo de 500 g (de 20% para 48%). Esse aumento também foi observado em nascimentos de gestação múltipla (de 11% para 35%) e nascimentos únicos (de 11% para 39%);
- Uma maior proporção de bebês nascidos em hospitais terciários e que receberam cuidados centrados na sobrevivência sobreviveu em comparação com aqueles nascidos em hospitais não terciários (47 de 81; 26% versus 5 de 43; 11,6%), refletindo, principalmente, a prática de transferir a maioria das mães com bebês nascidos às 22 semanas IG para unidades terciárias;
- Dos 39 bebês nascidos com 22 semanas IG durante o período de 2020 a 2021, todos sobreviveram, e entre esses, 14 não apresentaram complicações graves quando a DBP foi excluída da análise.
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Conclusões
O estudo mostrou que uma alteração nas diretrizes nacionais, que passaram a favorecer uma abordagem baseada em avaliação de risco, resultou em uma triplicação na quantidade de bebês nascidos com 22 semanas IG que agora recebem cuidados voltados para a sobrevivência. Isso se traduziu em um aumento tanto no número de bebês internados em unidades neonatais quanto na quantidade de bebês que sobreviveram até a alta hospitalar.
Autoria

Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
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