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Pediatria20 outubro 2024

EAPS 2024: Intervenções bacterianas podem prevenir cólica infantil? 

Foram apresentados recentes achados, explorando as evidências e a compreensão atual das intervenções bacterianas na prevenção de cólicas. 
Por Jôbert Neves

A cólica infantil é uma condição desafiadora. À medida que pediatras e pesquisadores buscam maneiras eficazes de aliviar esse problema comum, intervenções bacterianas, como probióticos, prebióticos, simbióticos e pós-bióticos, têm recebido atenção significativa. Durante o 10º Congresso da Academia Europeia de Sociedades Pediátricas (EAPS 2024), o professor Dr. Walter Mihatsch, apresentou os mais recentes achados sobre este tema, explorando as evidências e a compreensão atual das intervenções bacterianas na prevenção de cólicas. 

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Relembre as definições de cólica infantil:

  • Critério de Roma IV: A cólica infantil geralmente se apresenta em bebês com menos de cinco meses, manifestando-se como episódios prolongados de agitação ou choro que não podem ser acalmados pelos cuidadores. O bebê permanece saudável, sem febre ou outra doença de base que explique os sinais e sintomas; 
  • Critérios de Wessel: Os critérios de Wessel (1954) afirmam que um bebê deve chorar por mais de três horas por dia, por mais de três dias por semana, durante pelo menos um período de observação de 24 horas. A definição de pesquisa é crucial porque ajuda a padronizar o diagnóstico da cólica em estudos, mas destaca o quão difícil é pesquisar essa condição aparentemente simples.

Veja também: Cólica infantil: revisão avalia métodos de prevenção e tratamento

Prevalência da cólica infantil: Impacto na prática clínica e na qualidade de vida de famílias e pacientes  

Estudos, como os liderados por Dr.  Yvan Vandenplas, estimam que aproximadamente 20% dos bebês terão cólica nos primeiros dois meses de vida. Entender a prevalência é essencial porque ressalta a importância de encontrar medidas preventivas eficazes. 

Critérios para avaliar intervenções: Dr. Mihatsch descreveu três critérios principais necessários para que uma intervenção biótica seja considerada eficaz na prevenção de cólicas: 

  • Mecanismo biológico: Deve haver uma explicação plausível de como a intervenção impacta a microbiota intestinal e reduz a cólica. 
  • Dados convincentes: Os dados devem ser persuasivos o suficiente para convencer especialistas na área. 
  • Replicação: As descobertas precisam ser replicadas em pelo menos dois ensaios clínicos randomizados (RCTs) independentes para serem cientificamente válidas. 

Hipótese de disbiose da cólica: Microbiota no centro da discussão 

Disbiose se refere a um desequilíbrio na microbiota intestinal, e esse desequilíbrio pode contribuir para a cólica. Bebês com cólica tendem a ter contagens mais baixas de bactérias benéficas, como Lactobacillus e Bifidobacterium, e contagens mais altas de bactérias prejudiciais, como E. coli. Essa diversidade microbiana reduzida pode levar à dismotilidade intestinal, excesso de gases e inflamação de baixo grau, todos considerados como tendo um papel na cólica. Essa hipótese ganhou popularidade nos últimos anos, mas continua sendo uma das muitas causas potenciais de cólica, destacando a natureza multifatorial da condição. 

Intervenções bacterianas em observações clínicas 

Durante a plenária, o Dr. Mihatsch fez referência a um estudo observacional do Dr. Yvan Vandenplas, que analisou quase 3.000 bebês e comparou diferentes tipos de alimentação (amamentação, alimentação com fórmula e fórmula com prebióticos ou probióticos). Os resultados mostraram que o risco de cólica era semelhante entre bebês amamentados e alimentados com fórmula. No entanto, fórmulas contendo prebióticos ou probióticos foram associadas a um menor risco de cólica em comparação com fórmulas não bióticas. 

RCTs sobre Probióticos, Simbióticos e Pós-bióticos:  Veja quais são as evidências 

  • Probióticos: Três cepas probióticas — Bifidobacterium animalis (BB12), Lactobacillus reuteri e Lactobacillus fermentum — foram examinadas. No entanto, nenhuma dessas cepas demonstrou benefícios consistentes na prevenção de cólicas em múltiplos RCTs. Mihatsch concluiu que não há evidências suficientes para recomendar fórmulas probióticas para a prevenção de cólicas; 
  • Simbióticos: Estudos que utilizaram fórmulas simbióticas (combinações de prebióticos e probióticos) não mostraram uma redução significativa nos sintomas de cólica. Embora alguns ensaios tenham relatado melhorias na consistência das fezes, nenhum atendeu aos critérios de replicação de resultados em dois ensaios independentes; 
  • Pós-bióticos: Embora um ensaio do Dr. Yvan Vandenplas tenha mostrado que uma combinação de prebióticos galacto-oligossacarídeos (GOS) e frutooligossacarídeos (FOS) e fórmulas fermentadas (pós-bióticos) reduziu a incidência de cólicas, os resultados não foram replicados. Portanto, pós-bióticos ainda não podem ser recomendados para a prevenção de cólicas. 

Prebióticos e HMOs (Oligossacarídeos do Leite Humano) 

  • Prebióticos: Estudos sobre prebióticos de origem vegetal, como galacto- GOS e FOS, assim como prebióticos de origem bovina, não demonstraram benefícios consistentes na redução dos sintomas de cólica. Apenas um ensaio usando uma mistura de GOS/FOS com 50% de fórmula fermentada mostrou algum benefício, mas isso não foi replicado; 
  • HMOs: Os Oligossacarídeos do Leite Humano (HMOs) são o terceiro componente sólido mais abundante no leite humano, e versões sintéticas foram adicionadas às fórmulas. No entanto, RCTs testando HMOs para a prevenção de cólicas não apresentaram benefícios significativos. O uso de uma mistura de 5-HMO não mostrou diferença significativa no choro ou no desconforto entre bebês que receberam fórmulas com HMO e fórmulas padrão. 

Mensagem prática: 

  • Nenhuma fórmula biótica atual — sejam probióticos, prebióticos, simbióticos ou pós-bióticos — pode ser recomendada para a prevenção de cólica infantil em bebês saudáveis; 
  •  Embora alguns estudos tenham mostrado resultados promissores, a falta de replicação consistente significa que nenhuma fórmula provou um benefício significativo com foco exclusivo em manejo da cólica; 
  • Até o momento, intervenções bióticas para a prevenção de cólicas não podem ser endossadas com confiança ou ser extrapolada para todos os pacientes. 

Veja todos os destaques do evento aqui!

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