Cólica infantil: revisão avalia métodos de prevenção e tratamento
A cólica infantil é um distúrbio comum nos primeiros meses de vida, afetando entre 4 e 28% dos bebês em todo o mundo. Como prevenir e tratar?
A cólica infantil é um distúrbio comum nos primeiros meses de vida, afetando entre 4 e 28% dos bebês em todo o mundo, dependendo da região geográfica e das definições usadas. Em geral, um em cada cinco bebês preenche os critérios de cólica infantil com seis semanas de idade.
A cólica infantil persistente pode contribuir para a fadiga e angústia dos pais e pode resultar em relações parentais tensas e baixo envolvimento dos pais com seu bebê. Supõe-se que as causas de choro excessivo/cólica infantil sejam multifatoriais, com fatores maternos, paternos, infantis e ambientais sendo implicados.
Fatores maternos incluem estresse e depressão pós-parto, enquanto fatores infantis englobam o temperamento individual do bebê, marcos de desenvolvimento alcançados, capacidade de processamento sensorial do bebê e causas orgânicas subjacentes. Acredita-se que as causas orgânicas incluam alergia a proteínas dos alimentos e/ou intolerâncias alimentares.
Leia também: Sono infantil e estresse dos pais
Recentemente, o jornal Acta Pediatrica publicou uma revisão sistemática intitulada A systematic review of prevention and treatment of infantile colic, cujo objetivo foi avaliar as evidências mais atuais com relação à prevenção e tratamento da cólica infantil. O artigo consiste em uma revisão sistemática de trabalhos publicados durante 2007 a 2017 sobre intervenções preventivas e de tratamento para cólica do lactente, incluindo ensaios clínicos randomizados originais e meta-análises com, pelo menos, 20 bebês em cada grupo de estudo.
Cólica infantil
Um total de 476 artigos de estudos originais foram selecionados na íntegra. Dez artigos que descreveram estudos de intervenção originais e duas meta-análises preencheram os critérios do estudo e foram consideradas de qualidade moderada ou alta de acordo com os critérios GRADE. Esses estudos incluíram intervenções baseadas em princípios de educação dos pais, probióticos, mudança na dieta da mãe, alívio da dor e acupuntura. Os resultados dessa revisão são resumidos a seguir.
Lactobacillus reuteri DSM 17938
A revisão mostrou evidências moderadamente fortes de que a administração de Lactobacillus reuteri DSM 17938 pode encurtar a duração do choro em bebês com cólica infantil. Há menos evidências de um efeito positivo em bebês alimentados com fórmula.
Foi sugerido que o efeito do Lactobacillus reuteri DSM 17938 é dependente da microbiota intestinal do bebê e que as diferenças entre o efeito na duração do choro em bebês amamentados ao seio e alimentados com fórmula são explicadas por diferenças na microbiota. É possível que a microbiota intestinal infantil também difira entre as populações e que os resultados dos efeitos do Lactobacillus reuteri DSM 17938 em um determinado local podem não ser transferíveis para outros contextos. Isso poderia explicar potencialmente a falta de efeito do Lactobacillus reuteri DSM 17938 em bebês com cólicas na Austrália.
O Lactobacillus reuteri DSM 17938 também foi investigado como uma medida preventiva em nível populacional, mas faltam evidências sólidas. Portanto, mais estudos com relação a seu uso para prevenção das cólicas são necessários em uma população suficientemente grande para permitir a detecção dos efeitos de baixo grau que podem ser esperados em tais ensaios.
Veja mais: Abordagem prática do método BLW (baby-led weaning) para introdução alimentar
Simeticona
Em relação ao alívio da dor, a simeticona foi investigada em vários ensaios clínicos randomizados, mas não mostrou quaisquer efeitos terapêuticos clinicamente relevantes.
Ingestão de leite de vaca pela mãe
Com base nas evidências experimentais de um estudo sueco sobre a associação entre a ingestão materna de leite de vaca e o choro de bebês com cólica, as mães que amamentam bebês com cólicas costumam receber conselhos para eliminar o leite de vaca de sua dieta. Infelizmente, não houve nenhum ensaio clínico randomizado nesta revisão que testou essa hipótese.
Deve ser lembrado, entretanto, que a alergia ao leite de vaca é uma causa orgânica bastante comum de cólica infantil que sempre deve ser considerada durante a avaliação médica de um bebê com cólica.
Acupuntura
A acupuntura como tratamento para cólicas infantis foi investigada em quatro estudos controlados na Escandinávia, onde três eram ensaios clínicos randomizados e um foi cegado com sucesso. Os efeitos variaram do mínimo ao máximo. A apresentação posterior dos dados desses estudos também mostra considerável dor associada às sessões de tratamento. Portanto, a acupuntura não é recomendada como tratamento das cólicas infantis.
Limitações do estudo
Não foram considerados estudos publicados antes de 2007 ou depois de 2017. Além disso, o viés de publicação deve sempre ser considerado na avaliação dos estudos de tratamento e, particularmente, quando incentivos econômicos estão envolvidos. Lactobacillus reuteri DSM 17938 é um produto comercial e, portanto, a possibilidade de tal viés não pode ser excluída para este tratamento.
Estudos futuros
Estudos sobre intervenções para as cólicas infantis em bebês alimentados com fórmula tem sido de alta prioridade neste campo, devido à escassez de evidências. Ademais, há necessidade de mais estudos com o probiótico Lactobacillus reuteri DSM 17938 como uma medida preventiva.
Outro ponto interessante é em relação à mudança das dietas da mãe, abordagem frequentemente sugerida para o manejo das cólicas em bebês amamentados ao seio na prática clínica, e que apresenta falta de evidências.
Por fim, todos os estudos revisados com um acompanhamento de até três meses ou além disso mostraram um declínio bastante acentuado na duração do choro em grupos de tratamento e controle ao longo do tempo. Os pesquisadores citaram uma outra revisão sistemática, realizada por Wolke e colaboradores, que encontrou uma prevalência média na população de cerca de 20% para cólica infantil durante as primeiras seis semanas de vida, 11% na oitava e nona semana de vida e menos de um por cento nas semanas 10 a 12.
Portanto, o principal desafio não é curar bebês com choro excessivo durante os primeiros meses, mas aliviar o estresse durante esses meses para prevenir efeitos secundários na família. Mais estudos são necessários para desenvolver e avaliar estratégias de apoio nesses casos, com a inclusão também do segundo progenitor.
Referências bibliográficas:
- Hjern A, Lindblom K, Reuter A, Silfverdal SA. A systematic review of prevention and treatment of infantile colic. Acta Paediatr. 2020 Sep;109(9):1733-1744. doi: 10.1111/apa.15247. Epub 2020 Jun 2. PMID: 32150292
- Wolke D, Bilgin A, Samara M. Systematic Review and Meta-Analysis: Fussing and Crying Durations and Prevalence of Colic in Infants. J Pediatr. 2017 Jun;185:55-61.e4. doi: 10.1016/j.jpeds.2017.02.020. Epub 2017 Apr 3. PMID: 28385295 https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0022347617302184
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.