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Pediatria22 outubro 2024

EAPS 2024: Distúrbios de sono em lactentes - o que o pediatra precisa saber?

Durante o 10º Congresso da Academia Europeia de Sociedades Pediátricas (EAPS 2024) o sono das crianças foi discutido de uma maneira profunda.
Por Jôbert Neves

O manejo do sono em lactentes é desafiador, boa parte dos pediatras, pais e/ou cuidadores, têm dúvidas sobre os mecanismos fisiológicos envolvidos no sono das crianças, resultando em intervenções inadequadas e preocupações excessivas. Durante o 10º Congresso da Academia Europeia de Sociedades Pediátricas (EAPS 2024) o sono das crianças foi discutido de uma maneira profunda, colocando a compreensão dos seus mecanismos no centro da discussão e abordados pela Dra. Zsofia Rona.  

distúrbio de sono em lactante

Desenvolvimento dos padrões de sono em lactentes

Os recém-nascidos têm ritmos circadianos subdesenvolvidos e seguem ciclos de sono-vigília mais curtos, que normalmente duram de 3 a 4 horas. Esses ciclos começam a se desenvolver no útero, mas ainda não se alinham com os ciclos de dia e noite. Por volta de 4 a 5 meses de idade, o sono dos bebês torna-se mais consolidado, com períodos distintos de vigília durante o dia e sono à noite. Neste momento, os pais percebem uma mudança nos padrões de alimentação, já que os bebês se alimentam mais durante o dia e menos à noite, sendo este um marco considerável. À medida que os bebês crescem, seus ciclos de sono-vigília se alongam e se alinham mais com os padrões de sono dos adultos quando têm cerca de dois anos. 

O papel da melatonina na regulação do sono 

A secreção de melatonina, essencial para regular o sono, começa por volta dos 3 meses de idade e torna-se totalmente funcional aos 6 meses. Este hormônio desempenha um papel crucial na promoção do sono noturno e na consolidação de períodos mais longos de sono durante a noite. Embora a melatonina seja essencial para a regulação do sono, sua administração a bebês menores de um ano geralmente não é recomendada de forma geral, pois seus processos naturais de sono ainda estão se desenvolvendo. 

O Impacto do ambiente e das rotinas parentais

Fatores ambientais e rotinas diárias têm uma forte influência no desenvolvimento do sono. Os bebês precisam se ajustar às rotinas e ambientes dos pais, mas logo no início, os pais devem se adaptar aos padrões de sono únicos de seus bebês. As diferenças culturais também desempenham um papel na forma como as rotinas de sono são estruturadas, pois os padrões de sono e as expectativas para sonecas variam entre os países. 

Veja mais: Especialistas expõem o grande prejuízo das telas no sono 

Sono em lactentes prematuros

Os prematuros apresentam características de sono únicas, frequentemente experimentando porcentagens mais altas de sono ativo (até 80%) em comparação com bebês a termo. Isso é crítico para o desenvolvimento cerebral e cognitivo. A Dra. Zsofia Rona apresentou estudos que mostram que ciclos de sono-vigília intactos em bebês prematuros estão positivamente correlacionados a melhores resultados neurológicos, cognitivos e motores. O sono interrompido nessa população pode impactar trajetórias de desenvolvimento a longo prazo. 

O papel do sono REM (rapid eye movement) e do desenvolvimento cerebral

O sono REM, que se origina do sono ativo em bebês, desempenha um papel crucial na maturação cerebral, formação de sinapses e desenvolvimento cognitivo. Os bebês passam cerca de 50% do seu tempo de sono nesta fase de sono ativo, que diminui à medida que crescem. 

  • Um achado importante é que, por volta dos 2 a 3 anos, o cérebro passa por mudanças estruturais significativas, particularmente em neurônios GABAérgicos, que mudam de formar sinapses para limpar detritos, incluindo amiloide. Esse processo está ligado à saúde cognitiva futura, incluindo a prevenção precoce de condições como a doença de Alzheimer. 

Padrões de EEG 

Os padrões do eletroencefalograma (EEG) dos bebês evoluem significativamente nos primeiros dois anos. Os fusos do sono, marcadores da atividade cerebral, começam a aparecer por volta de 3 meses de idade. Essas mudanças de EEG refletem o desenvolvimento contínuo das vias neurais e da arquitetura do sono. 

  • A formação de vários estágios de sono—sono calmo e sono REM—marca a progressão dos padrões de sono de bebês para crianças pequenas, alinhando-se mais de perto aos estágios de sono dos adultos por volta dos dois anos. 

Duração do sono e variabilidade

As necessidades de sono dos bebês são altamente variáveis, variando de 9 a 19 horas por dia. Embora a média seja de cerca de 14 a 15 horas, essa faixa ressalta a necessidade de flexibilidade ao aconselhar os pais sobre o que constitui um sono “normal”.  Por volta dos 5 anos, estudos indicam que muitas crianças não atingem a duração de sono recomendada, o que pode levar a problemas no desenvolvimento cognitivo e comportamental nos anos seguintes. 

Leia também: Sono infantil e estresse dos pais

Conclusão e mensagem prática

  • O sono dos bebês é um processo dinâmico e em evolução, intimamente ligado ao desenvolvimento cerebral, fatores ambientais e à influência parental. 
  •  No início da vida, a necessidade do cérebro por sono ativo, a maturação do ritmo circadiano e o estabelecimento de ciclos de sono-vigília são cruciais para os resultados cognitivos e neurológicos 
  • Oriente uma rotina de sono consistente para os bebês, com horários regulares para dormir e acordar, ajudando a regular os ciclos de sono. 
  • Fomente um ambiente de sono tranquilo, confortável e com pouca luz para facilitar o adormecer e a qualidade do sono. 
  •  A administração de melatonina não é normalmente recomendada para bebês menores de um ano; seja criterioso com essa indicação.
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Referências bibliográficas

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