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Pediatria22 outubro 2024

Avaliação de alergia a antibióticos 

Reações alérgicas a antibióticos constituem um grande problema no momento de tratar infecções, principalmente no ambiente hospitalar.

As histórias de reações alérgicas a antibióticos são majoritariamente referidas pelos próprios pacientes. Frequentemente não há um relato preciso, de modo que não temos critérios claros que ajudem a definir se é necessário evitar, ou se é seguro, administrar antibióticos.  

Principais antibióticos envolvidos  

As classes mais associadas a alergias são as penicilinas e as sulfas. As reações mais comuns são cutâneas, mas também pode ocorrer febre, artrites, angioedema, eventos vasculares, respiratórios e gastrointestinais. Tardiamente também pode ocorrer disfunção renal (nefrite intersticial aguda) e vasculites imunomediadas. A maior parte das reações são cutâneo-mucosas, com rash, lesões maculares ou em forma de anel caracteristicamente. Edema de lábios e pálpebras também podem ocorrer. Um estudo observacional canadense com mais de 22 mil pacientes idosos observou uma incidência de 0,7% de reações graves (síndrome de Stevens-Johnson, necrólise epidérmica tóxica e síndrome DRESS) associadas ao uso de cefalosporinas, penicilinas e sulfonamidas; mais raramente nitrofurantoína e quinolonas também foram envolvidas. 

Neste estudo, os autores revisaram as diretrizes práticas da Academia Americana de Alergia, Asma e Imunologia de 2022. De modo geral, pacientes com sintomas inespecíficos e subjetivos ou com reações cutâneas leves podem ser testados para receber antibióticos com, ou sem, teste de desafio. Reações mais antigas (há mais de 5 anos) também não impedem os testes. Por outro lado, se o paciente teve sintomas mais graves como reações anafiláticas ou cutâneas graves, não se recomenda testes de sensibilidade ou a administração do medicamento envolvido. 

Leia também: Dia Mundial da Alergia: Atendimento ao choque anafilático

Avaliação de alergia a antibióticos 

Ferramentas para avaliação de reações alérgicas 

A ferramenta prática PEN-FAST é recomendada para a triagem de pacientes com suspeita de alergia a penicilinas, para indicar candidatos ao teste de sensibilidade. Um escore de zero indica valor preditivo negativo de 99,4% para ocorrência de reações alérgicas. Mesmo pacientes com escore de até 2 pontos também apresentam valor preditivo negativo alto, de 96,3%. Este escore deve ser usado nos pacientes com risco baixo de alergias, como mencionado acima.  

 O escore consiste nos critérios: 

  • Evento alérgico ≤ 5 anos (2 pontos)
  • Anafilaxia/angioedema ou reação cutânea grave (2 pontos)
  • Necessidade de tratamento para episódio de alergia (1 ponto) 

 Testes de desafio 

Os testes de desafio devem ser realizados apenas em pacientes com baixa probabilidade de reações alérgicas. São realizados com 10% da dose terapêutica por via parenteral ou um quarto do comprimido por via oral. Espera-se 30 minutos monitorando possíveis reações. Se nada houver, pode-se administrar a dose completa e observar por mais 60 minutos. Estes testes são preconizados mais frequentemente para penicilinas. Outros antibióticos como sulfas não precisam destes testes com doses menores em pacientes com baixo risco. 

Saiba mais: Antibióticos x flora intestinal: a importância do probiótico nesse período

Por último, a sensibilidade cruzada entre penicilinas e cefalosporinas historicamente era relatada em torno de 10%, mas parece ser bem menor na vida real. Estudos antigos provavelmente superestimaram a sensibilidade cruzada pois até 1980 era comum a contaminação de cefalosporinas com penicilinas. Estudos observacionais após 1980 revelam uma incidência de 2% a 4,8% de sensibilidade cruzada entre essas classes de antibióticos. Além disso, a sensibilidade cruzada entre penicilinas e carbapenêmicos é de cerca de 0,87% a 4,3%. Esta informação é relevante, porque admite-se uso de carbapenêmicos em pacientes que referem alergia a penicilinas, especialmente no tratamento de infecções por bactérias multirresistentes. 

Conclusão 

A maioria dos pacientes com história de alergia a antibióticos refere sintomas leves, que não impedem uma re-exposição com testes de desafio. No entanto, estes testes devem ser evitados quando houver relatos de reações graves prévias. Nessa situação, classes alternativas, mesmo dentro do grupo dos betalactâmicos, podem ser utilizadas, uma vez que a incidência real de sensibilidade cruzada é menor do que o relatado em estudos antigos. 

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Referências bibliográficas

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