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Pediatria13 maio 2020

Assim como os adultos, as crianças também podem apresentar quadros graves de Covid-19

Em um estudo realizado em UTIP canadenses e americanas, a maioria das crianças hospitalizadas pela Covid-19 tinha condições preexistentes.

Em um estudo realizado em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) canadenses e americanas, a maioria das crianças hospitalizadas pela doença do novo coronavírus (Covid-19) tinha condições preexistentes, sendo que 38% delas necessitaram de ventilação mecânica invasiva (VMI).

Os resultados estão no artigo Characteristics and Outcomes of Children With Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Infection Admitted to U.S. and Canadian Pediatric Intensive Care Units, publicado no jornal JAMA Pediatrics.

médico conferindo intubação de criança com covid-19 grave em utip

Covid-19 grave em crianças

Os pesquisadores Lara Shekerdemian e equipe conduziram um estudo transversal que incluiu crianças positivas para COVID-19 em 46 UTIP norte-americanas entre 14 de março e 03 de abril de 2020, com seguimento até 10 de abril. Foram incluídas 48 crianças.

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  • Vinte e cinco (52%) eram meninos;
  • A mediana de idade foi de 13 anos (4,2-16,6);
  • Quarenta (83%) das crianças tinham comorbidades prévias;
  • Dezenove crianças (40%) foram classificadas como “clinicamente complexas” (crianças com atraso no desenvolvimento ou anomalias genéticas e que eram dependentes de suporte tecnológico), 11 tinham imunossupressão, sete era obesas e quatro eram diabéticas;
  • Trinta e cinco (73%) apresentaram sintomas respiratórios, embora três estivessem em cetoacidose diabética e um lactente com doença falciforme apresentava dor óssea por crise vaso-oclusiva;
  • Trinta e três (69%) eram muito graves à admissão;
  • Doze (25%) receberam drogas vasoativas;
  • Trinta e nove (81%) precisaram de suporte ventilatório;
  • Dezoito (38%) necessitaram de VMI (por cânula endotraqueal ou traqueostomia);
  • Vinte e um (44%) foram ventilados de forma não invasiva;
  • Onze (23%) apresentaram falência em dois ou mais órgãos;
  • Uma criança (2%) foi submetida à oxigenação por membrana extracorpórea (extracorporeal membrane oxygenation – ECMO);
  • Vinte e oito (61%) receberam terapias direcionadas. A hidroxicloroquina foi o medicamento mais usado, tanto como terapia direcionada única (11 crianças) quanto combinada (dez pacientes).

Resultados

Ao final do período de seguimento:

  • 2 crianças (4%) evoluíram para óbito;
  • 15 (31%) continuaram hospitalizadas;
  • 3 ainda demandavam suporte ventilatório;
  • A criança em ECMO permanecia em uso da estratégia;
  • Para os pacientes que receberam alta hospitalar, a mediana de tempo de internação na UTIP foi de 5 (3-9) dias. Já a mediana de permanência no hospital foi de 7 (4-13) dias;
  • Os dois pacientes que morreram tinham idades entre 12 e 17 anos. Ambos tinham comorbidades prévias e evoluíram para falência de múltiplos órgãos;
  • A taxa de letalidade nesse estudo foi de 4,2%.

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Os pesquisadores descreveram que podem se considerar “cautelosamente otimistas” com esses resultados em crianças. Isso porque a taxa de letalidade foi de 4,2%, muito aquém das taxas relatadas em pacientes adultos de 50 a 62% para pacientes com Covid-19 em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Ademais, destacaram que o ônus da doença em crianças ainda é menor em comparação à influenza sazonal e citam que Center for Disease Control and Prevention (CDC) relataram, em 28 de abril de 2020, oito óbitos em pacientes pediátricos com 14 anos de idade ou menos relacionados à COVID-19 em comparação a 169 mortes relacionadas à influenza em crianças com a mesma faixa etária durante a temporada 2019 – 2020.

Conclusão

Shekerdemian e colaboradores concluíram que, apesar das taxas de letalidade serem menores que as de pacientes adultos, as crianças podem apresentar formas graves de Covid-19. Além disso, descrevem que a existência de comorbidades prévias é um importante fator de risco.

Referência bibliográfica:

  • SHEKERDEMIAN, Lara et al. Characteristics and Outcomes of Children With Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Infection Admitted to U.S. and Canadian Pediatric Intensive Care Units. JAMA Pediatrics, 2020; DOI: 10.1001/jamapediatrics.2020.1948

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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