Dados da literatura mostram que a exposição pré-natal a medicamentos anticonvulsivantes (MAC) foi associada a adversidades precoces no desenvolvimento neurológico, mas associações com uma ampla gama de pontos finais psiquiátricos não foram estudadas. Para abordar essas questões, um estudo publicado no JAMA Neurology avaliou a associação entre a exposição pré-natal a MAC com um espectro de transtornos psiquiátricos na infância e adolescência em filhos de mães com epilepsia.
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Metodologia
Dreier e colaboradores (2023) conduziram um estudo prospectivo de registro populacional, que avaliou 4.546.605 de filhos únicos nascidos vivos na Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia, no período de 1º de janeiro de 1996 a 31 de dezembro de 2017. A análise dos dados foi realizada de agosto de 2021 a janeiro de 2023. A exposição pré-natal a medicamentos anticonvulsivantes (MAC) foi definida como preenchimento de prescrição materna de 30 dias antes do primeiro dia do último período menstrual até o nascimento.
Resultados
Das 4.546.605 crianças, 54.953 com distúrbios cromossômicos ou características de nascimento incertas foram excluídos e 38.661 filhos de mães com epilepsia foram identificados.
Entre os 38.661 filhos de mães com epilepsia, 42,6% foram expostos a um MAC; 51,3% eram do sexo masculino e a a idade média no final do estudo foi de 7,5 anos.
A exposição pré-natal ao valproato foi associado a:
- Risco aumentado do desfecho psiquiátrico combinado (risco relativo ajustado [aHR], 1,80, intervalo de confiança de 95% [IC 95%] 1,60-2,03];
- Risco cumulativo aos 18 anos em crianças expostas a um MAC, 42,1% [IC 95% 38,2%-45,8%];
- Risco cumulativo aos 18 anos em crianças não expostas, 31,3% [IC 95%, 28,9%-33,6%]), que foi impulsionado principalmente por distúrbios dentro do espectro do neurodesenvolvimento.
A exposição pré-natal à lamotrigina, carbamazepina e oxcarbazepina não foi associada a um risco aumentado de transtornos psiquiátricos, enquanto associações foram encontradas para exposição pré-natal ao topiramato com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (aHR, 2,38; IC 95%, 1,40-4,06) e exposição ao levetiracetam com ansiedade (aHR, 2,17; IC 95%, 1,26-3,72) e transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (aHR, 1,78; 95% CI, 1,03-3,07).
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Conclusão
Os resultados desse importante estudo reforçam as evidências para o alerta contra o uso de valproato na gestação, apoiam as preocupações sobre o uso de topiramato, aumentam a indicação preliminar de cautela com o uso de levetiracetam e fornecem evidências tranquilizadoras de que lamotrigina, carbamazepina e oxcarbazepina não estão associados a distúrbios comportamentais ou de desenvolvimento de longo prazo. No entanto, dados de acompanhamento de longo prazo ainda são necessários para os medicamentos anticonvulsivantes (MAC) usados com menos frequência para avaliar completamente os potenciais riscos comportamentais associados à exposição pré-natal.
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