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Neurologia13 abril 2023

Quais fatores de risco para recorrência de uma convulsão febril?

A convulsão febril pode se manifestar na forma simples e na forma complexa, a formas simples e complexa são definidas por recorrência e foco.

Por Danielle Calil

A convulsão febril é o tipo de crise epiléptica mais comum na infância, sendo a incidência desse evento maior em países em desenvolvimento. Geralmente acontece na fase da vida da criança entre 6 a 60 meses de idade. A convulsão febril pode se manifestar na forma simples e na forma complexa. A forma simples é definida como crises generalizadas com duração inferior de 15 minutos e não se repetem em período de 24 horas. Já a forma complexa, as crises podem ser focais, prolongadas e múltiplas dentro dessas 24 horas. 

É um evento que gera muita ansiedade para os pais que, após esse episódio, sempre apresentam a indagação se isso pode acontecer novamente na criança e qual a chance de isso evoluir para epilepsia no futuro. Apesar da convulsão febril ser comumente benigna e autolimitada, há características clínicas que podem alterar esse prognóstico. 

Saiba mais: Quais os riscos em crianças com convulsões febris após vacinação?

Quais fatores de risco para recorrência de uma convulsão febril?

Quais fatores de risco para recorrência de uma convulsão febril?

Novo estudo 

Um estudo, realizado pelo setor de neuropediatria na Turquia, foi publicado em 2022 no Arquivos de Neuropsiquiatria, com objetivo de analisar os fatores de risco relacionados à recorrência de convulsão febril e risco de desenvolvimento de epilepsia nessa população. 

O objetivo foi examinar características sociodemográficas e clínicas de pacientes acometidos por convulsão febril e determinar fatores de risco para recorrência e desenvolvimento de epilepsia. 

Métodos 

Foram recrutados, de forma retrospectiva, 300 pacientes com história de convulsão febril que apresentaram follow-up de pelo menos 24 meses em hospital terciário entre 2015 e 2019. 

Os pais da criança participante foram entrevistados por assistente da pesquisa para coleta de dados sociodemográficos, como: idade, sexo, tipo de parto, idade gestacional do nascimento, história pré e perinatal, consanguinidade entre os pais, história familiar, e epilepsia em parentes de primeiro/segundo grau. Além disso, foi também coletado dados clínicos como: idade da primeira convulsão febril, causa da febre, duração da crise epiléptica, temperatura corporal, atraso em desenvolvimento psicomotor (pacientes com relato apenas de atraso em fala não foram considerados nessa categoria), recorrência de crise epiléptica, desenvolvimento de epilepsia, neuroimagem e realização de EEG. 

Nesse estudo, foram avaliadas para diagnóstico de epilepsia pacientes com ≥ 2 crises não provocadas após episódio de convulsão febril e para pacientes com apenas única crise não provocada e presença de descargas epilépticas em EEG. A solicitação de EEG foi realizada para pacientes acima de 2 episódios, ou com uma única convulsão febril e história de atraso do neurodesenvolvimento. 

Resultados 

Na avaliação de dados descritivos da pesquisa, a amostra de 300 pacientes era composta por 55,7% do gênero masculino e 44,3% do feminino. Idade média da primeira convulsão febril foi 21,59 meses. Prematuridade foi reportada em 17% da amostra e consanguidade dos pais em 19,7%. História familiar de convulsão febril foi notada em 60% da amostra e de epilepsia em 22,7%. A causa mais comum da febre nessa população foi de infecções de vias aéreas superiores (87,7%). Convulsão febril de forma simples ocorreu em 72,7% da amostra e de forma complexa em 27,3%. 

Ainda na descrição da amostra do estudo, 68% da amostra foi submetida a exames de eletroencefalograma (EEG) em que 8,8% apresentaram resultado anormal. A anormalidade em exames de EEG foi maior em pacientes com história de convulsão febril de forma complexa (p < 0.001). Neuroimagem foi realizada em 56 pacientes (18,7%), sendo encontrados achados anormais (leucomalácia, atrofia cortical, cistos aracnóideos, cistos de glândula pineal) em 13 pacientes (23,2%). Não foi possível realizar neuroimagem em oito dos 15 pacientes com atraso do neurodesenvolvimento, mas anormalidade foi presente nos sete pacientes que efetuaram esse exame sendo demonstrado significância estatística dessas duas variáveis. 

Os eventos de convulsão febril recorreram em 60% dos participantes. No presente estudo, o risco de taxa de recorrência foi maior com as seguintes variáveis: 

▪ Crises epilépticas ocorrendo na primeira hora após surgimento da febre (p = 0.028)
▪ Duração de crises acima de 15 minutos (p < 0.001)
▪ Atraso desenvolvimento psicomotor (p < 0.001)
▪ Anormalidade em EEG (p < 0.001) 

No presente estudo foi observado que 21 dos pacientes (7% da amostra) desenvolveu epilepsia. A mediana de idade para desenvolvimento de epilepsia foi de 42 meses. O desenvolvimento de epilepsia apresentou associação estatisticamente significativa com as seguintes variáveis: 

▪ Febre abaixo de 39ºC durante a crise epiléptica (p < 0.001)
▪ Duração de crises acima de 15 minutos (p < 0.001)
▪ Idade da primeira convulsão febril abaixo de 12 meses (p = 0.007)
▪ Atraso desenvolvimento psicomotor (p < 0.001)
▪ Múltiplas convulsões febris (p < 0.001)
▪ Primeiro evento de convulsão febril ter apresentação da forma complexa (p < 0.001)
▪ Anormalidade em EEG (p < 0.001) 

Além dessas avaliações de associação, o estudo se propôs a investigar se haveria alguma relação na taxa de desenvolvimento de epilepsia entre participantes após que usavam drogas anti-epilépticas em comparação àqueles que não. Nessa análise comparativa, a taxa de desenvolvimento de epilepsia foi maior no grupo de participantes que utilizou profilaxia com drogas anti-epilépticas de longo prazo (p < 0.001). 

Considerações 

As limitações do estudo residem no desenho com avaliação retrospectiva, no fato de algumas informações faltantes forem coletadas através de ligações para familiares e, também, na dificuldade de todos os participantes realizarem os exames complementares de EEG e de neuroimagem. 

Leia também: EM. PED 2023: Como abordar a criança com febre, mas sem sinais localizatórios?

Conclusão e mensagem prática 

▪ Embora seja um fenômeno com prognóstico, em geral, bom – a recorrência de eventos epilépticos e desenvolvimento de epilepsia podem ocorrer nessa população. Enquanto fatores como crise epiléptica na primeira hora do início da febre foi um dos fatores mais relevantes para recorrência de convulsão febril, achados anormais de EEG tiveram relação com fator de risco para desenvolvimento de epilepsia. Sendo assim, solicitar EEG pode ser interessante para prognóstico de convulsão febril. 

▪ Terapia profilática com drogas anti-epilépticas não reduziu recorrência de eventos de convulsão febril ou taxa de desenvolvimento para epilepsia. 

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Referências bibliográficas

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