No simpósio The Evolution of Care for ICU Delirium in Critically Ill Infants and Children, realizado durante o último congresso anual da American Delirium Society, a Dra. Leslie Dervan, pediatra intensivista da University of Washington, mostrou que tem crescido o número de estudos acerca da qualidade de vida em crianças após receberem alta da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP).
Na palestra The “Why” Behind Evolving Practices in the Pediatric ICU, a Dra. Dervan falou também sobre um artigo recente de sua autoria, publicado no periódico Pediatric Critical Care Medicine. O objetivo do estudo foi avaliar se o delirium durante a doença crítica pediátrica está associado à qualidade de vida relacionadas à saúde (QVRS) após a alta.
A Dra. Dervan e sua equipe realizaram um estudo de coorte retrospectivo em um centro de atendimento terciário acadêmico. Foram incluídas crianças de 1 mês a 18 anos de idade internadas na UTIP geral ou cardíaca e inscritas no Programa de Avaliação de Desfechos do Seattle Children’s Hospital, nos Estados Unidos.
Metodologia
Os pacientes foram avaliados para a presença de delirium duas vezes ao dia, usando o Cornell Assessment of Pediatric Delirium (CAPD) (nessa ferramenta, uma pontuação maior ou igual a nove, com nível de excitação flutuante para crianças com deficiência de desenvolvimento, indica delirium). A QVRS na linha de base (pré-admissão) e pós-alta foi avaliada pelo Pediatric Quality of Life Inventory (PedsQL – Mapi Research Trust, Lyon, França) ou o Functional Status II-R (FS II-R – para crianças com deficiência de desenvolvimento).
O delirium foi frequente em 44% dos 534 pacientes pediátricos incluídos no estudo, assim como houve um declínio clinicamente importante na QVRS (≥ 4,5 pontos) desde o início até o acompanhamento (22%), medido em mediana de 6,6 semanas após a alta hospitalar.
Na análise univariada, as crianças com delirium apresentaram probabilidade semelhante de declínio na QVRS em comparação com aquelas sem delirium (25,5% vs 19,7%; p = 0,1). Usando regressão logística multivariável ajustada para idade, complexidade médica, risco previsto de mortalidade, diagnóstico de admissão, recebimento de ventilação não invasiva (VNI), tempo de internação hospitalar, tempo de acompanhamento e idade dos pais, o delirium foi associado independentemente ao declínio da QVRS entre as crianças avaliadas pelo PedsQL (odds ratio ajustada, 2,0). Entre as crianças avaliadas com o FS II-R, o delirium não foi independentemente associado ao declínio da QVRS (odds ratio, 1,4). Em ambos os grupos, o maior tempo de acompanhamento também foi associado de forma independente a melhorias na QVRS.
Conclusão
Nesse importante estudo realizado em uma grande coorte de um único centro incluindo pacientes admitidos em UTIP geral ou cardíaca, as crianças avaliadas pelo PedsQL que apresentaram delirium tiveram maiores chances de apresentar declínio da QVRS pós-alta em comparação com crianças sem delirium, ajustando-se para múltiplos fatores de confusão clínicos. O delirium na UTIP foi independentemente associado a menores escores resumidos físicos e psicossociais do PedsQL.
Por outro lado, entre as crianças avaliadas pelo FS II-R, o delirium não foi associado ao declínio da QVRS. Para essa população, a alta taxa de disfunção cognitiva basal pode exigir outras avaliações para identificar a disfunção neurológica durante a permanência na UTIP. O maior risco geral de declínio da QVRS ou outras diferenças clínicas nesse grupo também podem ter reduzido o efeito do delirium no declínio da qualidade de vida relacionadas à saúde (QVRS). Esses achados podem ter relevância para a educação dos pais, triagem pós-alta e consideração para suporte pós-alta para crianças sob cuidados intensivos.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.