AAP 2024: Dicas sutis para diagnóstico genético
Os pediatras desempenham um papel crucial na detecção de dismorfismos, sendo responsáveis por observar pequenas anomalias nos pacientes que atendem em seus consultórios e berçários das maternidades. Algumas dessas anomalias podem ser traços familiares sem consequências, enquanto outras servem como indícios de um distúrbio genético, possivelmente associado a questões mais complexas de crescimento ou desenvolvimento. Durante o encontro anual da Academia Americana de Pediatria (AAP), a Dra. Neena Champaigne revisitou conceitos importantes para o pediatra geral, abordando apresentação clínica de alterações genéticas e/ou malformações comuns que sugerem a presença de uma síndrome ou a necessidade de uma avaliação adicional.
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Entre 2% a 3% dos recém-nascidos apresentam defeitos congênitos, representando uma prevalência estimada em 120.000 bebês nos Estados Unidos (EUA). Muitos desses casos, entre 25% e 30%, têm origem genética. O desenvolvimento desses defeitos acontece em diferentes fases: a implantação, que acontece nas primeiras semanas após a fertilização; o estágio embrionário, que é crítico para a formação inicial e termina na terceira semana; e o estágio fetal, que se inicia na oitava semana e se estende até o nascimento, envolvendo o crescimento e a diferenciação de órgãos. Além disso, a nutrição pré-natal é essencial, com o fechamento do tubo neural sendo um marco importante, tornando a suplementação de ácido fólico recomendada antes da gravidez.
Mecanismos de anomalias congênitas
Quatro mecanismos principais levam a anomalias congênitas. A deformação refere-se a alterações na forma devido a fatores externos, enquanto a disrupção é caracterizada pela interrupção do desenvolvimento normal em decorrência de influências internas ou externas. A malformação, por sua vez, resulta de anormalidades intrínsecas no desenvolvimento, e a displasia envolve um crescimento anormal de células e tecidos. Esses mecanismos destacam a complexidade envolvida na origem dos defeitos congênitos e a importância de um acompanhamento adequado durante a gestação. Veja agora como você pode encontrar essas pacientes clinicamente:
Associações:
Um grupo de anomalias que tendem a ocorrer juntas com mais frequência do que o esperado por acaso, mas sem uma causa ou base genética conhecida. Essas anomalias não seguem uma sequência de desenvolvimento previsível e não decorrem da mesma patologia subjacente.
Exemplo: Associação VACTERL
- Componentes:
- V: Anomalias vertebrais
- A: Atresia anal (ânus imperfurado)
- C: Defeitos cardíacos
- T: Fístula traqueoesofágica
- E: Atresia esofágica
- R: Anomalias renais
- L: Anomalias de membros (limb)
- Abordagem clínica:
- Identificar múltiplas anomalias em diferentes sistemas orgânicos.
- Excluir outras condições genéticas conhecidas.
- Uma abordagem multidisciplinar é necessária (ex.: neonatologistas, cardiologistas, cirurgiões).
Sequências:
Uma cascata de anomalias que surgem devido a um único evento inicial, levando a um padrão reconhecível de malformações.
Exemplo: Sequência de POTTER
- Evento Inicial: Agenesia renal
- Consequências: Oligoidramnia →
- Hipoplasia pulmonar
- Achatamento das características faciais (fácies de Potter)
- Contraturas de membros
Exemplo: Sequência de Pierre Robin
- Evento Inicial: Hipoplasia mandibular
- Consequências:
- Glossoptose (deslocamento para baixo da língua)
- Fissura palatina em forma de U
- Abordagem Clínica:
- Identificar o evento primário (ex.: agenesia renal ou mandíbula pequena).
- Investigar complicações subsequentes.
- Testes genéticos podem determinar se a sequência faz parte de uma síndrome maior.
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Anomalias complexas:
Um grupo de anomalias que surgem da interrupção de um campo de desenvolvimento, frequentemente devido a problemas vasculares ou mecânicos. Essas são anomalias localizadas que afetam uma região específica do corpo.
Exemplo: Anomalia de Poland
- Características:
- Ausência ou subdesenvolvimento dos músculos peitorais.
- Anomalias da mão ipsilateral (ex.: braquidactilia ou sindactilia).
- Abordagem Clínica:
- Identificar defeitos localizados.
- Considerar causas vasculares ou mecânicas, especialmente se o defeito for unilateral.
- Correção cirúrgica ou fisioterapia pode ser necessária, dependendo da gravidade.
Síndromes:
Uma coleção de anomalias que ocorrem juntas de forma consistente devido a uma causa conhecida, geralmente uma mutação genética, uma anormalidade cromossômica ou exposição teratogênica. Ao contrário das associações, as síndromes têm uma etiologia clara, que permite prever as anomalias e estratégias de manejo potenciais.
Exemplo: Síndrome de Down (Trissomia 21)
- Características:
- Características faciais distintas
- Pregas palmares transversais únicas
- Hipotonia
- Atrasos no desenvolvimento
- Aumento do risco de defeitos cardíacos congênitos
Exemplo: Síndrome de Marfan
- Características:
- Estatura alta e membros longos
- Aneurismas ou dissecções da aorta
- Deslocamento do cristalino (ectopia lentis)
- Juntas hipermóveis.
- Abordagem Clínica:
- Testes genéticos (análise cromossômica, sequenciamento de genes únicos) para confirmar o diagnóstico.
- Manejo multissistêmico (cardiologia, oftalmologia).
- Aconselhamento familiar sobre riscos de recorrência.
Mensagem prática para pediatras sobre diagnóstico genético:
- Importância da detecção de dismorfismos: Os pediatras devem estar atentos a pequenas anomalias físicas que podem indicar a presença de distúrbios genéticos.
- Deve-se ter uma claro entendimento dos mecanismos de anomalias: Familiarizar-se com as quatro principais causas de anomalias congênitas: deformação, disrupção, malformação e displasia.
- Testes genéticos: Proceder com testes genéticos apropriados para confirmar diagnósticos, como análises cromossômicas e sequenciamento de genes.
- Apoiar o manejo multiprofissisonal: Integrar cuidados com diversas especialidades médicas (cardiologia, oftalmologia) para o manejo de condições complexas associadas a distúrbios genéticos.
- Orientar o aconselhamento genético: Oferecer suporte e aconselhamento a famílias sobre riscos de recorrência de anomalias genéticas e a importância da nutrição pré-natal, incluindo a suplementação de ácido fólico.
Confira os destaques do AAP 2024!
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