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Pediatria4 outubro 2024

AAP 2024: Dicas sutis para diagnóstico genético 

Apresentação na AAP 2024, tratou do papel do pediatra no diagnóstico de alterações genéticas e/ou malformações comuns
Por Jôbert Neves

Os pediatras desempenham um papel crucial na detecção de dismorfismos, sendo responsáveis por observar pequenas anomalias nos pacientes que atendem em seus consultórios e berçários das maternidades. Algumas dessas anomalias podem ser traços familiares sem consequências, enquanto outras servem como indícios de um distúrbio genético, possivelmente associado a questões mais complexas de crescimento ou desenvolvimento. Durante o encontro anual da Academia Americana de Pediatria (AAP), a Dra. Neena Champaigne revisitou conceitos importantes para o pediatra geral, abordando apresentação clínica de alterações genéticas e/ou malformações comuns que sugerem a presença de uma síndrome ou a necessidade de uma avaliação adicional. 

Leia também: AAP 2024: Melatonina em pediatria – quais as evidências?

Entre 2% a 3% dos recém-nascidos apresentam defeitos congênitos, representando uma prevalência estimada em 120.000 bebês nos Estados Unidos (EUA). Muitos desses casos, entre 25% e 30%, têm origem genética. O desenvolvimento desses defeitos acontece em diferentes fases: a implantação, que acontece nas primeiras semanas após a fertilização; o estágio embrionário, que é crítico para a formação inicial e termina na terceira semana; e o estágio fetal, que se inicia na oitava semana e se estende até o nascimento, envolvendo o crescimento e a diferenciação de órgãos. Além disso, a nutrição pré-natal é essencial, com o fechamento do tubo neural sendo um marco importante, tornando a suplementação de ácido fólico recomendada antes da gravidez. 

AAP 2024: Dicas sutis para diagnóstico genético 

Imagem de Rainer Maiores/Pixabay

Mecanismos de anomalias congênitas 

Quatro mecanismos principais levam a anomalias congênitas. A deformação refere-se a alterações na forma devido a fatores externos, enquanto a disrupção é caracterizada pela interrupção do desenvolvimento normal em decorrência de influências internas ou externas. A malformação, por sua vez, resulta de anormalidades intrínsecas no desenvolvimento, e a displasia envolve um crescimento anormal de células e tecidos. Esses mecanismos destacam a complexidade envolvida na origem dos defeitos congênitos e a importância de um acompanhamento adequado durante a gestação. Veja agora como você pode encontrar essas pacientes clinicamente:  

Associações: 

Um grupo de anomalias que tendem a ocorrer juntas com mais frequência do que o esperado por acaso, mas sem uma causa ou base genética conhecida. Essas anomalias não seguem uma sequência de desenvolvimento previsível e não decorrem da mesma patologia subjacente. 

Exemplo: Associação VACTERL 

  • Componentes:
    • V: Anomalias vertebrais 
    • A: Atresia anal (ânus imperfurado) 
    • C: Defeitos cardíacos 
    • T: Fístula traqueoesofágica 
    • E: Atresia esofágica 
    • R: Anomalias renais 
    • L: Anomalias de membros (limb) 
  • Abordagem clínica: 
    • Identificar múltiplas anomalias em diferentes sistemas orgânicos. 
    • Excluir outras condições genéticas conhecidas. 
    • Uma abordagem multidisciplinar é necessária (ex.: neonatologistas, cardiologistas, cirurgiões). 

Sequências: 

Uma cascata de anomalias que surgem devido a um único evento inicial, levando a um padrão reconhecível de malformações. 

Exemplo: Sequência de POTTER 

  • Evento Inicial: Agenesia renal 
  • Consequências: Oligoidramnia →  
    • Hipoplasia pulmonar 
    • Achatamento das características faciais (fácies de Potter) 
    • Contraturas de membros 

Exemplo: Sequência de Pierre Robin 

  • Evento Inicial: Hipoplasia mandibular  
  • Consequências: 
    • Glossoptose (deslocamento para baixo da língua) 
    • Fissura palatina em forma de U 
  • Abordagem Clínica: 
    • Identificar o evento primário (ex.: agenesia renal ou mandíbula pequena). 
    • Investigar complicações subsequentes. 
    • Testes genéticos podem determinar se a sequência faz parte de uma síndrome maior.  

Saiba mais: AAP 2024: Diagnóstico e tratamento de triglicérides elevados em pediatria

Anomalias complexas: 

Um grupo de anomalias que surgem da interrupção de um campo de desenvolvimento, frequentemente devido a problemas vasculares ou mecânicos. Essas são anomalias localizadas que afetam uma região específica do corpo. 

Exemplo: Anomalia de Poland 

  • Características: 
    • Ausência ou subdesenvolvimento dos músculos peitorais. 
    • Anomalias da mão ipsilateral (ex.: braquidactilia ou sindactilia). 
  • Abordagem Clínica: 
    • Identificar defeitos localizados. 
    • Considerar causas vasculares ou mecânicas, especialmente se o defeito for unilateral. 
    • Correção cirúrgica ou fisioterapia pode ser necessária, dependendo da gravidade. 

Síndromes: 

Uma coleção de anomalias que ocorrem juntas de forma consistente devido a uma causa conhecida, geralmente uma mutação genética, uma anormalidade cromossômica ou exposição teratogênica. Ao contrário das associações, as síndromes têm uma etiologia clara, que permite prever as anomalias e estratégias de manejo potenciais. 

Exemplo: Síndrome de Down (Trissomia 21) 

  • Características: 
    • Características faciais distintas 
    • Pregas palmares transversais únicas 
    • Hipotonia 
    • Atrasos no desenvolvimento 
    • Aumento do risco de defeitos cardíacos congênitos 

Exemplo: Síndrome de Marfan 

  • Características: 
    • Estatura alta e membros longos 
    • Aneurismas ou dissecções da aorta 
    • Deslocamento do cristalino (ectopia lentis) 
    • Juntas hipermóveis. 
  • Abordagem Clínica: 
    • Testes genéticos (análise cromossômica, sequenciamento de genes únicos) para confirmar o diagnóstico. 
    • Manejo multissistêmico (cardiologia, oftalmologia). 
    • Aconselhamento familiar sobre riscos de recorrência. 

Mensagem prática para pediatras sobre diagnóstico genético: 

  • Importância da detecção de dismorfismos: Os pediatras devem estar atentos a pequenas anomalias físicas que podem indicar a presença de distúrbios genéticos. 
  • Deve-se ter uma claro entendimento dos mecanismos de anomalias: Familiarizar-se com as quatro principais causas de anomalias congênitas: deformação, disrupção, malformação e displasia. 
  • Testes genéticos: Proceder com testes genéticos apropriados para confirmar diagnósticos, como análises cromossômicas e sequenciamento de genes. 
  • Apoiar o manejo multiprofissisonal: Integrar cuidados com diversas especialidades médicas (cardiologia, oftalmologia) para o manejo de condições complexas associadas a distúrbios genéticos. 
  • Orientar o aconselhamento genético: Oferecer suporte e aconselhamento a famílias sobre riscos de recorrência de anomalias genéticas e a importância da nutrição pré-natal, incluindo a suplementação de ácido fólico. 

Confira os destaques do AAP 2024!

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