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Oncologia20 maio 2024

Teclistamabe no tratamento de mieloma múltiplo refratário 

Neste artigo, trataremos do estudo de fase 1-2 sobre o Teclistamabe, que atualmente está aprovado pelo FDA e pela ANVISA
Por Felipe Mesquita

A terapia para Mieloma Múltiplo tem obtido grandes avanços nos últimos anos. O surgimento dos inibidores de proteassoma, de novas classes de imunomoduladores e dos anticorpos anti-CD38, incorporados a linhas cada vez mais recentes de tratamento, têm aumentado sobremaneira a sobrevida global e livre de progressão desses pacientes e com toxicidades manejáveis. O transplante autólogo em primeira remissão foi outro marco na evolução clínica. No entanto, uma parcela desses indivíduos apresenta um perfil de doença de alto risco, com recaídas frequentes e refratariedade a determinados esquemas, com necessidade de regimes de salvamento após múltiplas linhas de tratamento.  

Um estudo de fase 1/2 encabeçado pelo pesquisador Philippe Moreau publicado em 2022 pelo NEJM, avaliou uma nova classe de drogas, denominada de anticorpo biespecífico, que se liga ao CD3 do linfócito T citotóxico e ao antígeno de maturação de células B (BCMA – em inglês, B-cell maturation antigen) do plasmócito doente, gerando uma atividade celular direcionada à célula neoplásica. Estamos falando do medicamento Teclistamabe, que atualmente está aprovado pelo FDA e pela ANVISA para o tratamento de mieloma múltiplo refratário a pelo menos 3 linhas prévias, tendo sido exposto a um inibidor de proteassoma, um anticorpo monoclonal anti-CD38 e um imunomodulador.  

Teclistamabe no tratamento de mieloma múltiplo refratário 

Imagem de freepik

Método 

Neste estudo de fase 1-2, foram incluídos pacientes que apresentavam mieloma recidivado ou refratário após pelo menos três linhas de terapia, incluindo exposição tripla a um fármaco imunomodulador, um inibidor de proteassoma e um anticorpo anti-CD38. Foram incluídos 165 pacientes em 35 centros de pesquisa de nove países diferentes. 

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O cálculo amostral considerou que um número de 100 pacientes teria poder estatístico suficiente para avaliação do desfecho primário planejado. Apenas 25,7% dos pacientes apresentavam perfil citogenético de alto risco [del(17p), t(4;14), t(14;16)]. Os pacientes receberam uma injeção subcutânea semanal de teclistamabe (na dose de 1,5 mg por quilograma de peso corporal), após receberem doses escalonadas de 0,06 mg e 0,3 mg por quilograma. A droga foi administrada em monoterapia. O desfecho primário foi a taxa de resposta global (resposta parcial ou melhor).  

O estudo foi patrocinado pela farmacêutica Jansen, produtora da droga. A mediana da intensidade relativa da dose (a razão entre a dose administrada e a dose planejada) para todos os ciclos de tratamento, incluindo as doses escalonadas, foi de 93,7%. Ou seja, houve redução da dose planejada secundária às toxicidades da droga. 

Resultados 

Entre os 165 pacientes que receberam teclistamabe, 77,6% apresentaram doença refratária a administração de tratamento com as três classes em (mediana de cinco linhas de terapia anteriores). Com um seguimento mediano de 14,1 meses, a taxa de resposta global foi de 63,0%, com 65 pacientes (39,4%) alcançando uma resposta completa ou melhor. Um total de 44 pacientes (26,7%) evoluíram com Doença Residual Mensurável (DRM) negativa. A mediana da duração da resposta foi de 18,4 meses (intervalo de confiança [IC] de 95%, 14,9 a não-alcançada). A mediana da duração da sobrevida livre de progressão foi de 11,3 meses (IC 95%, 8,8 a 17,1).  

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Eventos adversos comuns incluíram síndrome de liberação de citocinas (em 72,1% dos pacientes), neutropenia (em 70,9%; grau 3 ou 4 em 64,2% dos indivíduos), anemia (em 52,1%), e trombocitopenia (em 40,0%). Infecções foram frequentes (em 76,4%; grau 3 ou 4, 44,8%). Eventos neurotóxicos ocorreram em 24 pacientes (14,5%), incluindo síndrome de neurotoxicidade associada a células efetoras imunes em 5 pacientes (3,0%). 

Conclusão prática: teclistamabe 

Os dados do teclistamabe são encorajadores para pacientes com múltiplas recaídas e refratariedade prévia. No entanto, o alto custo da droga e os potenciais eventos adversos graves como a síndrome de liberação de citocinas e as neutropenias febris graus 3 e 4 devem alertar o médico assistente sobre a viabilidade da terapêutica no contexto clínico em que ele e o paciente estão inseridos.

Autoria

Foto de Felipe Mesquita

Felipe Mesquita

Graduação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) ⦁ Residência em Clínica Médica e Hematologia pela UFMG ⦁ Título de Especialista em Hematologia e Transplante de Medula Óssea pela Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH) ⦁ Mestre em Saúde com ênfase em TMO pela UFJF ⦁ Observership em Oncohematologia no Hospital La Fé (València - España) ⦁ Médico do serviço de Transplante de Medula Óssea do Hospital Universitário da UFJF ⦁ Médico Hematologista da Neoclínica Oncologia e Genética (JF/MG)

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