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Oncologia21 maio 2025

Estado dos inibidores de checkpoint imunológico no câncer de pâncreas irressecável

Estudo avaliou sistematicamente os dados existentes sobre a eficácia e segurança dos inibidores de checkpoint imunológico no câncer de pâncreas avançado

O câncer de pâncreas é uma das neoplasias malignas mais agressivas e letais, com uma taxa de sobrevida em cinco anos inferior a 10%. A maioria dos casos é diagnosticada em estágios avançados, quando a doença já não pode ser removida cirurgicamente. Para esses pacientes, as opções de tratamento são limitadas e pouco eficazes, com a quimioterapia sendo o pilar principal, mas oferecendo benefícios modestos em termos de sobrevida global e qualidade de vida. 

Nos últimos anos, os inibidores de checkpoint imunológico (medicamentos que “desbloqueiam” o sistema imunológico para atacar o câncer) revolucionaram o tratamento de vários tumores, como melanoma e câncer de pulmão. No entanto, no câncer de pâncreas, esses medicamentos têm se mostrado muito menos eficazes. Isso ocorre porque o microambiente tumoral do pâncreas é altamente imunossupressor, com pouca infiltração de células de defesa e mecanismos que dificultam a ação da imunoterapia. 

Este estudo é crucial porque avalia sistematicamente os dados existentes sobre a eficácia e segurança desses medicamentos no câncer de pâncreas avançado. Entender essas limitações e avanços é essencial, pois mostra como a oncologia está evoluindo e onde estão os desafios futuros. 

Leia mais: Inibidores do checkpoint imune e disfunção tireoidiana: novo estudo

Método do estudo 

Foi um texto de revisão sistemática com metanálise e os dados foram coletados de bancos como MEDLINE, EMBASE e CENTRAL, incluindo ensaios clínicos randomizados e estudos observacionais. Critérios de inclusão foram pacientes com adenocarcinoma pancreático irressecável (localmente avançado ou metastático) e o tratamento com inibidores de checkpoint imunológico (isolados ou combinados). 

Há análise estatística da sobrevida global (tempo até o óbito) e sobrevida livre de progressão (tempo até a piora da doença). Modelos de efeitos aleatórios para lidar com a heterogeneidade entre os estudos e avaliação de viés com uso de gráficos de funil e teste de Egger para detectar publicação seletiva. 

Ferramentas como a escala Newcastle-Ottawa para estudos observacionais e critérios do NIH para ensaios clínicos iniciais foram usadas para avaliação de qualidade.  

População envolvida 

Total de pacientes: 937 de 21 estudos. A idade média eram 60,8 anos (variando de 27 a 86 anos), sendo a maioria com doença metastática (estágio IV) e alguns com doença localmente avançada (estágio III). De todos, 69% dos estudos incluíram pacientes em linhas avançadas de tratamento (após falha da quimioterapia inicial). 

Subgrupos especiais: pacientes com instabilidade de microssatélites (1%-2% do total) tiveram análise separada devido ao potencial de melhor resposta à imunoterapia. 

Resultados 

A partir dos achados da análise, seguem os dados que foram reunidos: 

Sobrevida global mediana: 8,65 meses (variando de 1,1 a 18,1 meses). 

Sobrevida livre de progressão mediana: 2,55 meses (variando de 0,9 a 8,1 meses). 

Taxa de resposta objetiva: Apenas 16,2% dos pacientes tiveram redução significativa do tumor. 

Controle da doença: 50,3% dos pacientes estabilizaram a doença (sem progressão por algum tempo). 

Os resultados foram inferiores aos regimes de primeira linha como FOLFIRINOX (sobrevida global de ~11 meses) ou gemcitabina + nab-paclitaxel (~8,5 meses). Os subgrupos com melhor resposta foram os pacientes com instabilidade de microssatélites. A taxa de resposta foi de 36,1% e a sobrevida livre de progressão de 10,7 meses. Esses dados sustentam o uso de pembrolizumabe (aprovado para esse subgrupo). 

Combinações terapêuticas 

Quimioterapia + imunoterapia: Alguns estudos mostraram tendência de benefício, mas sem evidência sólida. 

Terapias experimentais: Inibidores de TGF-β ou cobimetinibe mostraram sinais promissores em aumentar a eficácia da imunoterapia. 

Eventos adversos graves: Ocorreram em 22% dos pacientes, principalmente dermatites, colites e endocrinopatias. 

Perfil tolerável: Comparado à quimioterapia, a imunoterapia causa menos efeitos como neutropenia ou neuropatia. 

Heterogeneidade: Os resultados variaram muito entre os estudos, dificultando conclusões firmes. 

Falta de ensaios de fase III: A maioria dos dados vem de estudos pequenos ou observacionais. 

Viés de publicação: Estudos com resultados negativos podem não ter sido publicados. 

Novas combinações: Associar imunoterapia a fármacos que modulam o microambiente tumoral (como inibidores de TGF-β). 

Biomarcadores adicionais: Explorar além da instabilidade de microssatélites, como carga mutacional ou expressão de PD-L1. 

Ensaios clínicos robustos: Necessários para definir o papel real da imunoterapia nessa doença. 

Veja também: Anvisa aprova novo medicamento para tratamento do câncer de pâncreas

Conclusão e mensagem prática 

Para a prática clínica atual, a imunoterapia não é padrão para câncer de pâncreas irressecável, exceto no raro subgrupo com instabilidade de microssatélites. Teste de biomarcadores (como MSI/dMMR) deve ser considerado, especialmente em pacientes refratários à quimioterapia. Combinações com quimioterapia ainda são experimentais e não devem ser usadas fora de estudos clínicos. 

Esta revisão sistemática confirma que, no cenário atual, os inibidores de checkpoint imunológico têm utilidade muito limitada no câncer de pâncreas avançado, exceto para uma pequena minoria de pacientes com alterações genéticas específicas. Isso ilustra um desafio central da oncologia: a necessidade de medicina personalizada e a importância de entender a biologia tumoral para guiar tratamentos futuros. 

Enquanto aguardamos avanços, o manejo continua centrado em quimioterapia e cuidados paliativos, com a imunoterapia reservada para contextos muito selecionados ou em ambiente de pesquisa clínica. 

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Referências bibliográficas

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