A ceratite infecciosa é uma doença grave da córnea que pode levar à deficiência visual devido a complicações oculares, como cicatrizes corneanas, endoftalmite e perfuração do globo. A avaliação clínica e o tratamento precoces são fundamentais para alcançar o melhor prognóstico visual. A ceratite microbiana infecciosa é uma doença da córnea com etiologias distintas cujos principais agentes causadores são bactérias, fungos e protozoários. As bactérias são os agentes mais comuns no mundo desenvolvido, mas as etiologias fúngicas também são importantes agentes causadores.
Nos Estados Unidos, são realizadas, anualmente, 930 mil consultas ambulatoriais para ceratite infecciosa, com 58 mil atendimentos em serviços de emergência. A incidência de ceratite varia conforme a população estudada e é mais prevalente nos países em desenvolvimento do que em países desenvolvidos.
Um estudo publicado, esse ano, nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia teve como objetivo analisar os dados epidemiológicos, resultados laboratoriais e fatores de risco associados às ceratites infecciosas.
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Métodos
O estudo retrospectivo das amostras de cultura de córnea em pacientes com ceratites infecciosas, entre janeiro de 2010 e dezembro de 2019, foi realizado. Os resultados foram analisados de acordo com o diagnóstico etiológico de infecção bacteriana, fúngica ou parasitária e correlacionado com os fatores de risco relacionados.
Resultados
Quatro mil, oitocentas e dez amostras corneanas de 4047 pacientes (média de idade de 47,79 ± 20,68 anos; homens em sua maioria (53,7%) foram inclusos. A prevalência de infecções por bactéria, fungo e Acanthamoeba foram de 69,80%, 7,31%, and 3,51%, respectivamente. A maioria das bactérias mais frequentemente isoladas foram Staphylococcus coagulase-negativo (CoNS) (45,14%), S. aureus (10,02%), Pseudomonas spp. (8,80%), e Corynebacterium spp. (6,21%). Dentre CoNS, o principal agente foi S. epidermidis (n = 665).
Nas ceratites fúngicas, Fusarium spp. (35,42%) e Candida parapsilosis (16,07%) foram os agentes mais comuns entre os filamentosos e leveduriformes, respectivamente. O uso de lentes de contato foi associado à cultura positiva para Acanthamoeba spp. (OR = 19,04; p < 0,001) e Pseudomonas spp (OR = 3,20; p < 0,001). Trauma ocular prévio foi associado a culturas positivas para fungo (OR = 1,80; p = 0,007), e idade avançada foi associada a culturas positivas para bactéria (OR = 1,76; p = 0,001).
Considerações
Determinar o agente etiológico com base nos sinais clínicos é um desafio, mesmo para especialistas em córnea. Contudo, a presença de fatores de risco pode orientar o processo diagnóstico. As lentes de contato são um importante fator de risco para ceratite infecciosa; no mundo em desenvolvimento, o trauma ocular causado por material orgânico encontrado durante o trabalho em áreas rurais é comumente associado à ceratite. Outros fatores de risco relatados incluem cirurgia ocular prévia, doença da superfície ocular, ceratite herpética, doença sistêmica e corticosteróides tópicos. Os prováveis agentes etiológicos responsáveis pela ceratite infecciosa variam dependendo da localização geográfica. As cidades brasileiras diferem em socioeconomia, cultura e meio ambiente; portanto, a predominância dos agentes etiológicos deve variar dependendo do local do estudo.
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Conclusão e mensagem prática
Os achados demonstraram uma maior positividade para bactérias em amostras de cultura corneana. Dentre estas, CoNS foi mais frequentemente identificado, sendo S. epidermidis o principal agente. Nas ceratites fúngicas, Fusarium spp. foi o mais comumente isolado. O risco de positividade para Acanthamoeba spp. e Pseudomonas spp. foi maior em usuários de lentes de contato. Trauma ocular aumentou o risco de cultura positiva para fungo, ao passo que idade mais avançada aumentou o risco de infecção bacteriana.
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