Mpox e alterações oftalmológicas
A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou em 14/08/2024 que a ‘varíola dos macacos’ é uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional. A OMS, declarou em 1980 a erradicação global da varíola, porém, desde a década de 70, casos de ‘varíola dos macacos’ em humanos têm sido relatados. Em maio de 2022, casos em países não endêmicos foram notificados.
A ‘varíola dos macacos’ pode apresentar diversas manifestações oculares, assim com o aumento da frequência de casos e a declaração de emergência da saúde pública, torna-se essencial reforçar os cuidados em relação à saúde ocular.
Manifestações Oftalmológicas associadas a Monkeypox (Mpox)
A apresentação oftalmológica mais comum (25%) é erupção cutânea característica nas áreas periorbital e orbital. Outras alterações presentes são: 23,1% conjuntivite, 22% fotofobia, sem alterações ao exame oftalmológico, 7,5% ceratite, 4% cicatrização corneana (em pacientes sem vacinação para varíola) e 1% de cicatrização corneana (em pacientes previamente vacinados).
A conjuntivite por Mpox pode se manifestar como lesões periorbitárias (vesículas e pápulas) conjuntivite papilar ou folicular, úlceras conjuntivais, lesões conjuntivais disseminadas ou nódulos subconjuntivias.
Em pacientes com conjuntivite por Mpox, o tratamento é o mesmo realizado para conjuntivite viral, com medicações sintomáticas, como colírios lubrificantes e compressas geladas. O uso de lentes de contato não é recomendado em nenhum estágio da infecção. Os antivirais (brincidofovir, tecovirimat e cidofovir) e a imunoglobulina vaccinia (VIG) não estão aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que impede o seu uso e venda no Brasil, mas são recomendados em casos de lesões corneanas graves com alto potencial de perda visual.
Não há relato de casos de pacientes com retinite, coriorretinite, paralisa acomodativa, neurite óptica, paralisia da musculatura ocular externa, dacriocistite supurativa, hemorragia retrobulbar com ptose e lagooftalmo em associação com a Mpox, porém essas alterações já foram descritas na vigência de varíola, o que deve servir de alerta aos oftalmologistas, para pacientes com clínica e epidemiologia suspeita.
Vacinação
Atualmente não há vacina específica para combater a Mpox, porém a vacina para varíola fornece proteção cruzada contra a infecção por Orthopoxvirus (proteção de aproximadamente 85%). A Mpox está associada a sequelas e complicações mais graves nos não vacinados para varíola (74% vs 39,5%).
Para pacientes com alterações oftalmológicas, as vacinas também parecem ser eficazes na prevenção de infecções oculares, com estudo mostrando que a incidência de conjuntivite é menor nos pacientes previamente vacinados para varíola (7% vs 30%).
Conforme descrito nas diretrizes do CDC, duas vacinas, JYNNEOS (MVA-BN; Imvamune ou Imvanex) e ACAM2000, estão disponíveis para prevenir a doença da varíola dos macacos’. A VIG pode ser utilizada para tratar complicações que ocorrem após a vacinação. Para os oftalmologistas, vale ressaltar que a VIG é contraindicada nos casos de ceratite isolada após a vacinação.
Quais os fluxos que o médico deve adotar ao atender um caso suspeito de Mpox:
1- Isolar imediatamente o paciente durante o atendimento (proteção por contato e gotícula);
2- Notificação imediata de caso à vigilância epidemiológica (interessante disponibilizar o link da notificação);
3- Durante a anamnese identificar se houve vínculo epidemiológico;
4- Identificar grupos de risco ou presença de sinais de gravidade – em caso positivo encaminhar o paciente para avaliação com clínico.
Critérios clínicos de gravidade:
⦁ 100 lesões cutâneas ou mais (25 ou mais em populações consideradas vulneráveis, como gestantes, imunossuprimidos e crianças com menos de oito anos);
⦁ Insuficiência respiratória;
⦁ Sepse;
⦁ Confusão mental;
⦁ Linfoadenopatia cervical com disfagia;
⦁ Desidratação;
⦁ Lesões extensas em mucosas oral ou anal/retal, causando comprometimento de alimentação, quadros hemorrágicos e/ou infecções secundárias.
Informações Importantes
⦁ Mesmo havendo lesões já em crosta, diferentemente do Herpes Zoster Vírus, ainda há disseminação do vírus nessas condições e podem perdurar por cerca de 21 dias, o que compromete questões laborais e que pode ainda estar atrelado a casos graves;
⦁ Colocar protetores de acrílico nas lâmpadas de fenda;
⦁ Limpeza terminal da sala após atendimento do paciente com caso suspeito ou confirmado;
⦁ Precauções de gotículas: Higienize as mãos antes e após o contato com o paciente; use óculos, máscara cirúrgica e avental quando houver risco de contato com sangue ou secreções; e descarte adequadamente os pérfuro-cortantes. A distância entre outros pacientes deve ser maior que um metro e preferencialmente manter o paciente em ambiente isolado, o paciente deverá usar máscara cirúrgica durante toda a permanência na clínica;
Até o momento não há casos da nova variante registrados no Brasil. O Ministério da Saúde reforça que não há motivos para alarme, mas deve-se manter alerta.
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