O aumento da prevalência de miopia no mundo todo tem levado a uma preocupação crescente e cada vez mais tratamentos tem surgido na tentativa de controlar a progressão. Com a hipótese do efeito da desfocagem periférica induzido na refração, mais tentativas estão sendo feitas para controlar o crescimento ocular usando meios ópticos que induzem a desfocagem periférica míope no olho.
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A desfocagem hipermetrópica periférica induzida estimula o crescimento do olho e a formação de miopia axial. Óculos e lentes de contato capazes de formar miopia periférica relativa no olho são tratamentos atuais disponíveis para controle da miopia. Na Rússia, uma lente capaz de corrigir a refração periférica do meridiano horizontal apareceu pela primeira vez em 2012. Essa lente tem um aumento de potência de 2.0 D no lado nasal e 2.5 D no lado temporal.
Um estudo de cinco anos de acompanhamento de lentes perifocais em crianças com miopia progressiva teve como objetivo avaliar a eficácia dessas lentes. O estudo foi realizado na Instituição Orçamentária do Estado Federal com o nome de V.I. Helmholtz, do Ministério da Saúde da Rússia no período de 2012 a 2018, com 94 crianças monitoradas. Os óculos perifocais foram prescritos para crianças de 7 a 14 anos, com miopia progressiva de (-) 1,0 D. a (-) 6,0 D., com acuidade visual corrigida de 0,8 ou superior.
A média de idade no início do uso dos óculos foi de 10,5 ± 0,14 anos, sendo prescritas lentes com desfocagem periférica para sua vida diária.
As crianças foram examinadas antes da prescrição dos óculos, após 6 meses, 12-18 meses, 2 anos, 3 anos e 4-5 anos do início dos óculos. A dinâmica da refração foi avaliada em crianças usando óculos perifocais: após 6 meses – em 94 crianças (188 olhos), após 12-18 meses – em 72 crianças (142 olhos), após 2 anos – em 58 crianças (116 olhos), após 3 anos – em 42 crianças (84 olhos), após 4-5 anos – em 28 crianças (56 olhos).
O grupo controle consistiu em 52 crianças com miopia progressiva na idade de 8 a 14 anos. Todas as crianças do grupo de controle receberam óculos de visão simples. A refração foi considerada estável se seu valor aumentasse não mais que 0,5 dioptrias durante todo o período de observação.
Nos óculos Perifocal-M, o desfoque míope formou-se na zona de 15° em 100% dos olhos, com uma média de – 0,05 ± 0,1 D. na área em T15°, (-) 0,25 ± 0,16 D. na área N15°, e (-) 0,44 ± 0,03 D. na área T30°. Na região N30°, o desfoque hipermetrópico diminuiu 4 vezes e atingiu 0,38 ± 0,03 dioptrias. Assim, os óculos de lente especialmente projetados com progressão horizontal Perifocal-M, formam no olho, uma desfocagem míope periférica relativa ou reduzem significativamente a desfocagem hipermetrópica periférica.
Após 6 meses de uso de lentes perifocais, a refração objetiva cicloplégica mudou em +0.5 dioptrias (-) 1.25 dioptrias. A mudança média na refração cicloplégica objetiva foi de (-)0,2±0,01 dioptrias. Nos primeiros 6 meses de observação, 39,4% (74 olhos) dos casos revelaram enfraquecimento na refração cicloplégica; a estabilização da refração foi observada em 36,7% (69 olhos) casos. Um aumento na refração foi notado apenas em 23,9% (45 olhos) de casos de observação. A refração em crianças deste grupo aumentou em 0,63 dioptrias ou mais.
Apenas um 1,1% das crianças apresentaram aumento bilateral da refração cicloplégica em (-)1,25 dioptrias. Durante os primeiros 6 meses de acompanhamento, o gradiente de progressão anual em óculos perifocais, diminuiu em duas vezes em comparação com os valores iniciais (0,4 e 0,8 dioptrias, respectivamente, p<0,05).
O comprimento do eixo anteroposterior do olho, depois de 6 meses de uso com óculos perifocais, aumentou em uma média de 0,05 ± 0,02 mm. O gradiente de progressão anual em crianças do grupo controle foi de 0,8±0,05 dioptrias. Um aumento no comprimento anteroposterior do olho em crianças do grupo controle foi 2 vezes mais que o principal, e totalizou 0,11±0,03 mm. (p<0,05).
Após 4-5 anos de uso contínuo de óculos perifocais, a refração objetiva cicloplégica aumentou em média (-) 1,16 ± 0,13 dioptrias em comparação com os valores iniciais. A estabilização da refração em relação aos valores iniciais foi observada em 37,5% (21 olhos) dos casos, enquanto uma diminuição em 3,6%.
No resto dos casos por 4-5 anos, a refração aumentou em 0,63 – 3,0 dioptrias em esfera equivalente; em 28,6% (16 olhos), o aumento foi entre 0,63-1,0 dioptrias: em 21,4% foi entre 1,12 e 2,0 dioptrias: em 8,9% foi mais de 2 dioptrias. No último ano de acompanhamento, o gradiente de progressão com óculos Perifocal-M foi de 0,17 ± 0,02 dioptrias, enquanto durante todo o período de observação de 4-5 anos, o gradiente de progressão anual foi de 0,26 D/ano.
Nos pacientes do grupo principal, o valor do eixo anteroposterior do olho, após 4-5 anos de uso de lentes perifocais, aumentou uma média de 0,46 ± 0,05 mm em comparação com os valores iniciais. Em crianças do grupo controle, a refração cicloplégica objetiva, após 4-5 anos, aumentou em média em (-)1,95±0,26 dioptrias, o gradiente de progressão, no último ano de observação foi de 0,3±0,06 dioptrias e durante todo o período de observação o valor médio foi de 0,44 dioptrias/ano.
O comprimento do eixo anteroposterior aumentou em 0,71 ± 0,09 mm. A estabilização da miopia foi marcada em 41,1% das crianças do grupo principal após 4-5 anos de observações. Deve-se notar que as crianças observadas estavam na idade de crescimento e progressão da miopia. Em nosso estudo, além de um 41,1% das crianças, com uma refração estável por 4-5 anos, em 28,6% das crianças do grupo principal, a progressão da miopia, durante todo o período de observação, não foi mais do que 1,0 dioptrias (ou seja, a taxa de progressão até 0,15 dioptrias/ano).
No contexto do uso constante de óculos perifocais, a taxa de progressão da miopia em crianças diminui 4,7 vezes em comparação com o nível inicial, e 1,6 vezes (em 60%), em comparação com os indicadores em crianças do grupo de controle. A estabilização completa da miopia durante o uso de óculos perifocais em crianças pré-adolescentes e adolescentes foram observados em 62,5% dos casos dentro dos primeiros 12-18 meses, em 50,0% dos casos dentro de 2 anos, em 41,1% dos casos, dentro de 4-5 anos.
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Nas crianças do grupo controle, foram observados indicadores semelhantes em 26,9% dos casos, em 12-18 meses assim como em 7,7% dos casos aos 2 anos. A longo prazo, não se observou um único caso de estabilização.
Os óculos com desfocagem perifocal podem ser recomendados como mais uma opção de método óptico não invasivo e confiável para desacelerar a taxa de progressão da miopia.
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