Unidades de atendimento móvel de AVC melhoram o desfecho clínico dos pacientes?
O acidente vascular cerebral (AVC) apresenta elevada prevalência em nosso meio, trazendo sequelas que impactam na qualidade de vida e funcionalidade dos pacientes. Tratando-se de AVC, com foco no isquêmico, sabe-se que o tempo decorrido entre o início dos sintomas e o atendimento inicial, com avaliação de elegibilidade para terapia trombolítica, é crucial para melhora clínica e desfecho funcional. Tal atendimento inicial é realizado em unidades de urgência, com enfoque para unidades de referência para o manejo do AVC agudo. Nesse intuito, ganha espaço, nos Estados Unidos, as unidades de atendimento móvel em AVC, onde uma equipe capacitada em atendimento agudo do AVC avalia o paciente, com auxílio de telemedicina, realiza neuroimagem na própria unidade móvel, avalia elegibilidade para trombólise e realiza a infusão do trombolítico, reduzindo o tempo entre o atendimento inicial e a chegada ao serviço de urgência padrão onde seria realizado o atendimento.
Esse é o enfoque principal do estudo discutido a seguir: avaliar a segurança e eficácia das unidades móveis de AVC, comparadas às unidades de emergência padrão no atendimento do AVC agudo, avaliando sequelas no momento da alta hospitalar, além de complicações, como hemorragia intracraniana e óbito.
Métodos e resultados
Tratou-se de um estudo de coorte retrospectivo, com dados coletados a partir de um banco de dados de atendimento de AVC nos Estados Unidos (GWTG-Stroke). O desfecho primário foi avaliado através da escala de Rankin modificada para utilidade. O desfecho secundário incluiu a deambulação independente. Foram avaliadas questões de segurança relacionadas com hemorragia intracraniana sintomática e mortalidade.
Os pacientes atendidos em unidade móvel de AVC receberam terapia trombolítica mais rápido, evoluíram com melhores índices na escala de Rankin modificada e dependeram menos de auxílio para deambulação, comparados aos pacientes atendidos em unidades de emergência. Não houve diferença significativa em incidência de sangramentos ou morte.
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Imagem de stefamerpik/freepikDiscussão: atendimento móvel de AVC
As unidades móveis de AVC têm-se mostrado custo-efetivas no cenário americano. Previamente já citadas em estudos menores, as evidências de sua eficácia clínica têm-se tornado cada vez mais robustas. Porém, ainda não consta como recomendação no protocolo americano de abordagem ao AVC. Alguns pontos a serem destacados incluem a limitação da amostra analisada no estudo (banco de dados), o que exclui análise de pacientes que não foram contemplados em tal banco. Além disso, o tamanho pequeno da amostra e a análise retrospectiva são fatores limitantes. Outro ponto de destaque diz respeito ao custo de implementação de cada unidade móvel de AVC, item não avaliado no estudo em questão. Por fim, os dados sugerem que as unidades móveis de AVC tendem a alterar o desfecho clínico, com melhora dos indicadores analisados, porém, são necessários estudos prospectivos maiores, para confirmar tais benefícios.
Mensagens práticas
- As unidades móveis de AVC integram tecnologia e rapidez para agilizar o atendimento de pacientes com suspeita de AVC. Porém, seu custo de implantação é elevado;
- O tempo na abordagem do AVC é crucial para manutenção de déficits e sequelas, com impacto em funcionalidade (tempo é cérebro);
- No Brasil, as unidades de emergência hospitalares referência para AVC continuam sendo o local recomendado para atendimento de tais pacientes.
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