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Psiquiatria3 abril 2024

Atualização da diretriz de reabilitação para adultos acometidos por AVC  

O acidente vascular cerebral (AVC) é a segunda causa de mortalidade e a terceira causa de incapacidade globalmente.
Por Danielle Calil
A reabilitação de qualidade após acidente vascular cerebral (AVC) minimiza os impactos físicos, emocionais, cognitivos e sociais de pacientes acometidos por essa condição. A National Institute for Health and Care Excellence (NICE) publicou sua primeira diretriz para reabilitação após AVC em 2013. Em outubro do ano passado, houve uma atualização dessas recomendações a partir das novas evidências disponíveis. 

Recomendações para reabilitação pós-AVC

As recomendações expressas pela diretriz foram baseadas em revisões sistemáticas com a melhor evidência nesse assunto, considerando também o custo-efetividade das ações. Em casos de poucas evidências disponíveis na literatura sobre determinada conduta, a recomendação foi baseada a partir da experiência do grupo responsável pela elaboração do documento. As evidências foram dispostas baseando-se no critério GRADE. 

→ Transferindo o cuidado para casa 

Após a alta hospitalar, é importante que o paciente acometido por AVC apresente um suporte de terapia multidisciplinar mantido ao reintegrar à comunidade. Anteriormente, a recomendação para suporte de terapia multidisciplinar precoce era recomendada para indivíduos selecionados; sendo que, agora, a partir de pesquisas qualitativas, foi demonstrado que o suporte de reabilitação após alta hospitalar é frequentemente não ofertado para indivíduos que necessitem dessas terapias.  Como já mencionado, a reabilitação consiste em ofertar suporte para prática de tarefas funcionais diárias, para motricidade, para nutrição, para comunicação, entre outros. Diante disso, membros desse time de terapia multidisciplinar consistem em: médicos, fisiatras, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, nutricionistas e psicólogos.  Após alta hospitalar, portanto, recomenda-se manutenção de reabilitação enquanto essa terapia auxiliar o paciente a atingir metas, seja em recuperação motora, sensorial, emocional, nutricional, entre outras. 

→ Intensidade do programa de reabilitação 

Evidências crescentes apontam que maiores doses e intensidade de terapias de reabilitação contribuem para melhora na função motora e nas medidas para independência funcional.   Quanto a estudos de fisioterapia motora, foi observado que fisioterapia intensa entre 1-2 horas diárias resultou em melhora nas atividades diárias para pacientes com AVC (especialmente naqueles ainda dentro de 6 meses após o ictus vascular). Quanto à terapia ocupacional e fonoaudiológica, não houve evidências que possibilitassem determinar, de modo específico, a duração dessa intervenção.   Ainda assim, uma recomendação realizada pela diretriz seria o tempo total de terapia multidisciplinar (incluindo, portanto, fisioterapia, fonoaudiólogo e terapia ocupacional) em pelo menos 3 horas em pelo menos 5 dias na semana. Em casos de o paciente não desejar realizar essa intensidade de reabilitação, recomenda-se encorajar qualquer uma dessas terapias por pelo menos 5 dias na semana. 

→ Fadiga 

Sintomas de fadiga após AVC são comuns. Geralmente são autolimitantes (em torno de 1 ano), mas em 40% dos casos pode persistir para mais de dois anos. Uma nova recomendação do guideline da NICE em 2023 foi realizar em consultas uma avaliação do sintoma de fadiga, tanto nos estágios iniciais do AVC como após 6 meses do ictus. 

→ Rastreando distúrbios sensoriais 

Há acidentes cerebrovasculares que interferem na visão e audição, de forma que, caso tais deficiências passem desapercebidas, isso pode afetar a qualidade de vida e prejudicar o engajamento com a reabilitação. Sendo assim, uma recomendação, atualmente considerada como forte, seria acessar o mais precoce possível problemas visuais a fim de evitar consequências potencialmente graves (como quedas ou acidentes relacionados à direção de veículos) e rastrear dificuldade auditivas dentro de seis semanas. 

→ Participação em programas da comunidade 

Envolver os indivíduos acometidos com AVC em programas de participação na comunidade é também uma nova recomendação. Esses programas podem envolver atividades em grupo como exercícios físicos, arte e música. De acordo com as evidências, pacientes envolvidos nesse tipo de programa apresentaram melhoria quanto à qualidade de vida e quanto a outros desfechos como bem-estar, redução de estresse psicológico, entre outros.   Veja também: Caso Clínico: AVC hemorrágico (AVCh) [vídeo]

Comentários finais 

Essa diretriz reafirma a importância da reabilitação como integrante essencial no tratamento do paciente acometido por acidente cerebrovascular.    A Academia Brasileira de Neurologia possui publicação recente, de 2022, das diretrizes de reabilitação após AVC — segmentados em parte I e II — com orientações minuciosas para reabilitação a partir de sequelas desses pacientes, como: afasias, negligência visuoespacial, espasticidade, ataxias, entre outros.   Uma distinção entre essas duas diretrizes (NICE e ABN) é que a diretriz inglesa sugere rastreio para distúrbios sensoriais como audição e visão precocemente nesses indivíduos, além de incentivar a inserção dessa população em programas de participação na comunidade.  Em 2022, o Arquivos de Neuropsiquiatria, revista brasileira, publica o protocolo do estudo multicêntrico AReA cujo objetivo é fornecer informações abrangentes sobre o acesso à reabilitação pós-AVC nos primeiros 6 meses após a alta hospitalar na rede pública. Os resultados dessa pesquisa serão essenciais no fornecimento de dados nacionais para otimização dos fluxos de reabilitação dessa população no nosso país.
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Referências bibliográficas

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