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Neurologia9 outubro 2024

Revisão sistemática sobre o cuidado na prática clínica em pacientes com AVC 

Revisão abordou as diretrizes de AVC isquêmico publicadas em revistas científicas, abrangendo todo o processo de cuidados agudos
Por Danielle Calil

Diretrizes na medicina são importantes para a padronização do cuidado, tomada de decisão baseada em evidências, facilitação da tomada de decisões em situações completas, além de fornecer suporte legal e ético ao médico. Alguns contextos presentes na prática clínica, contudo, podem ser desafiadores para aplicação de recomendações presentes em diretrizes. 

A revista European Journal of Neurology, neste ano, publica um estudo contemplando uma revisão sistemática sobre as principais recomendações presentes no cuidado do paciente com AVC e, a partir da opinião de especialistas nessa área, classificando entre essas recomendações extraídas a aplicabilidade em dimensões como ação, viabilidade e validade. 

Revisão sistemática sobre o cuidado na prática clínica em pacientes com AVC 

Imagem de DC Studio/freepik

Métodos 

Trata-se de revisão sistemática sobre diretrizes de tratamento para pacientes com AVC cuja busca foi conduzida em base de dados MEDLINE/PubMed entre 2014 e 2021. Foram selecionados 18 artigos que abordam o processo de assistência ao paciente desde a admissão até a alta hospitalar. Foram excluídos estudos focados em subgrupos, em tratamentos agudos ou prevenção secundária. Os dados foram extraídos por dois revisores independentes, que categorizaram as recomendações em cinco tópicos: contextual, diagnóstico, terapêutica, cuidado geral de suporte e intervenções de transição de cuidado. 

Após essa etapa, um painel composto por 11 especialistas europeus em AVC foi responsável por avaliar tais recomendações quando à aplicabilidade em dimensões de ação, viabilidade e validade a partir do uso da escala Likert de 9 pontos. Consenso era definido a partir de uma pontuação ≥ 8 por pelo menos 80% dos especialistas. 

Resultados 

Na revisão sistemática, um total de 18 estudos foram incluídos na análise final. Entre esses estudos, 48 recomendações foram extraídas.  

Entre as 48 recomendações avaliadas ao tratamento do AVC isquêmico, houve um consenso de 7 recomendações pelo painel de especialistas que contemplaram aplicabilidade nas três dimensões avaliadas (ação, viabilidade e validade), sendo:

  • (1) Uso de unidades de AVC (Stroke unit);
  • (2) Exclusão de hemorragia intracerebral como diagnóstico diferencial;
  • (3) Administração de trombólise intravenosa;
  • (4) Realização de eletrocardiograma e avaliação cardíaca;
  • (5) Exame vascular não invasivo;
  • (6) Profilaxia para trombose venosa profunda;
  • (7) Administração de estatinas se necessário. 

Por sua vez, 14/48 recomendações alcançaram consenso parcial (pelo menos duas dimensões), sendo a “ação” a dimensão mais comum para o consenso. Já 16/48 recomendações obtiveram consenso em apenas uma dimensão, também sendo “ação” a dimensão com maior consenso. Por fim, 11/48 recomendações não apresentaram nenhum consenso entre as dimensões, com destaque para a recomendação de planejamento em cuidados avançados a única que não obteve nenhuma pontuação acima de 8 conforme escala Likert 

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As recomendações com menor consenso de viabilidade e validade foram relacionadas ao tratamento de doenças médicas concomitantes, prevenção de complicações e intervenções de transição de cuidado, o que sugere que a implementação dessas recomendações possa ser dificultada por barreiras práticas ou por falta de evidências robustas. 

Discussão 

Na análise dos 18 artigos, com 48 recomendações avaliadas, apenas sete apresentaram um consenso completo entre os especialistas, de modo que tais recomendações sejam um bom ponto de partida para melhorar a qualidade dos cuidados com AVC. 

Uma variação significativa na descrição do processo de cuidado com AVCi foi encontrada entre os 18 artigos analisados, nas quais houve um maior foco em intervenções diagnósticas ou terapêuticas agudas. Esse achado reflete uma maior tendência de ênfase no cuidado agudo do que em fases subagudas ou crônicas do AVC que, por sua vez, também são imprescindíveis para uma melhor assistência ao paciente, seja em prevenção de complicações ou em reabilitação de sequelas. 

Recomendações relacionadas ao cuidado geral de suporte e intervenções de transição no paciente com AVC apresentaram menor viabilidade e validade, evidenciando a dificuldade de implementação na prática diária. As principais barreiras incluem falta de recursos, treinamento insuficiente e desafios logísticos, além de variações no sistema de saúde em diferentes regiões.  

Outro dado observado foi que recomendações como planejamento avançado de cuidados e triagem para depressão, embora importantes, tiveram baixa ação e viabilidade, possivelmente devido à sensibilidade dos temas e à falta de ferramentas de triagem ideais.  

Saiba mais: Acidente vascular encefálico isquêmico: Onde estamos em 2024? 

Mensagem final 

Esse estudo consegue demonstrar, de modo prático, quais as recomendações presentes em diretrizes que são mais aplicáveis e eficazes no cuidado do paciente com AVC de acordo com a opinião de especialistas na área. Além disso, fornece insights sobre como superar os desafios relacionados à implementação de outras recomendações presentes com menor viabilidade e validade.

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Referências bibliográficas

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